22 de fevereiro de 2019

Opinião – “Green Book - Um Guia para a Vida” de Peter Farrelly


Sinopse

Baseado na verdadeira relação entre dois homens muito diferentes. É a história de um famoso pianista negro Don Shirley que contrata um segurança Italo-americano, Tony Vallelonga, para o conduzir pelo Sul dos EUA, na década de 60, pois Don a fazer uma tour. No entanto, esta viagem não corre bem, mesmo seguindo o guia "Green Book", uma orientação que as pessoas de cor usavam para viajar sem correr riscos. Nesta viagem, os dois vão perceber melhor o mundo no qual vivem.

Opinião por Artur Neves

Don Walbridge Shirley foi um negro culto para a época em que viveu, entre 1927 e 2013, tendo passado o seu tempo de vida ativa durante o período de regime segregacionista dos USA, nomeadamente nos estados do sul, derrotados na guerra da secessão, a guerra civil americana entre 1861 e 1865, que pretendia abolir a escravatura nos estados confederados rurais do sul. Estes pretendiam a secessão do país em dois regimes diferentes.
Derrotados mas não convencidos, a segregação pela cor da pele continuou (e continua no sentimento profundo destes americanos, embora com reservas) na altura em que Don Shirley (Mahershala Ali) contrata Tony “Lip” (Viggo Mortensen) em 1962 para uma tournée de exibição artística pelo sul dos USA, seguindo por obrigação e comodidade as instruções do “Green Book” sobre os locais permitidos a pessoas de cor.
Repare-se na contradição; um negro com boa posição social, culto, reconhecido pela classe alta e abastada dos Estados Unidos como um virtuoso do piano, e preferido para abrilhantar as suas confraternizações mais “in”, contrata um branco, emigrante italiano, para seu motorista e guarda-costas durante uma tournée pelos estados do sul, em que Don, além de exibir o seu virtuosismo, pretende desafiar os poderes instalados, através da sua classe, das suas idiossincrasias (só toca em pianos Steinway e só bebe whisky Cutty Sark) sempre bem vestido, e agindo de modo muito diferente dos outros negros com quem se cruza, na tentativa vã de mostrar a todos que a cor da pele não é motivo suficiente para descriminação. Ele está perfeitamente consciente de todas as dificuldades que irá encontrar no caminho mas prossegue com os seus objetivos.
Tony “Lip” Vallelong é diametralmente oposto de tudo isto, segurança desempregado de um clube nocturno que fechou para obras, italiano, brigão provocatório, ardiloso, homem de muitos recursos e expedientes evasivos que lhe vão permitindo sustentar a família não pode recusar esta oferta de trabalho. Todavia ele sente-se confortável em aceita o lugar que lhe oferecem, decorrente de uma indiferença ignorante a tudo o que o cerca e inicia o serviço sem reservas, sem qualquer alteração de comportamento, sem abdicar dos seus hábitos rudes e da sua maneira truculenta de estar na vida. A seu favor tem somente uma honestidade muito peculiar e a sua palavra, que procura cumprir em todas as situações.
Desta convivência permanente durante 8 semanas surgem confrontos, discussões, arrufos e questões sociais várias que moldam os dois homens a uma nova realidade de conceitos e conceções da vida e do mundo. Nenhum dos dois será o mesmo no fim da viagem onde chegarão próximos como nunca pensaram. É a história dessa transformação que este filme nos traz, numa altura incerta em que racismo e xenofobia se tornam familiares no nosso dia-a-dia. Como tal é importante conhecer e por isso recomendo, como diversão com um “toque” azedo, assunto para reflexão e retrato de uma época.

Classificação: 8 numa escala de 10

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