Sinopse
Uma história
cheia de significado politico, apresentando atores não profissionais, sobre uma
criança libanesa de 12 anos que põe um processo judicial contra os seus pais.
Filme
vencedor do Prémio do Júri no Festival de Cinema de Cannes 2018.
Nomeado ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro 2019.
Opinião
por Artur Neves
A história contada neste
filme é um colossal murro no estomago para toda a comunidade internacional no
aspeto político, social e de assistência a povos em crise grave. Do ponto de
vista histórico, Cafarnaum é uma cidade bíblica situada na margem norte do mar
da Galileia que ligava o Egito à Siria e ao Líbano, próxima das cidades Betsaida
e Corozaim que constituíam o “quartel-general” do ministério de Jesus na
Galileia. Quando o povo deixou de seguir a fé cristã e a palavra de Jesus, as
três cidades foram amaldiçoadas por este, tendo mesmo profetizado a sua
destruição que veio a verificar-se.
A história deste filme consiste
num período da vida de Zain (Zain Al Rafeea) um rapaz de 12 anos que se revolta
contra os pais pela venda da sua irmã Sahar (Haita Izzam) de 11 anos, a Assaad
(Nour El Husseini) seu patrão e senhorio e foge de casa sobrevivendo nas ruas
até encontrar Rahil (Yordanos Shiferaw) uma refugiada Etíope com um filho de
colo, Yonas (Bluwaitife Bankole) de quem passa a tomar conta enquanto Sahar vai
trabalhar. Porém, Sahar é presa devido à caducidade da sua permissão de permanência
no país e a responsabilidade de Yonas recai sobre Zain, que agora terá de
cuidar e proteger o pequeno Yonas, além de si próprio e dos múltiplos problemas
com que se vê confrontado.
Nadine Labaki, a realizadora
e autora do argumento, nascida em Beirute, Líbano em 1974, utilizou atores não
profissionais para interpretar os personagens deste filme, cujas vidas tocam de
muito perto a realidade da vida dos atores, solicitando-lhes que agissem espontaneamente
com palavras suas, gestos e atitudes que teriam se confrontados com as cenas
criadas pelo guião do argumento na resposta mais real possível aos eventos em sequência.
O filme é conseguido pelo
seu diretor de fotografia (Chistopher Aoun), que de câmara na mão, pelas ruas,
becos e prédios degradados dos arredores de Beirute, seguindo os atores,
provoca uma multiplicidade de sentimentos de elevada intensidade emocional, que
tanto podem revoltar os mais calmos com a apresentação de uma sociedade sistematicamente
desumanizada, como surpreender-nos com fugazes imagens poéticas e ternurentas,
naquela Babel social de desordem e pobreza extrema.
O que é particularmente
notável é que toda a denúncia da situação é conseguida com atores não
profissionais que magistralmente conseguem reproduzir numa história ficcionada,
toda a miséria e o caos nas ruas, desde o mercado caótico, aos agentes de
tráfico humano, à sobrelotação e promiscuidade da prisão onde Zain acaba por
ficar detido, ou durante as cenas no tribunal, em que os pais de Zain
reproduzem as suas carências que justificaram as escolhas que fizeram com
detalhes que se tornam chocantes ouvir.
“Cafarnaum” é um filme muito
duro e difícil em todas as cenas que nos são apresentadas, no entanto, Labaki
não quer deixar-nos deprimimos oferecendo-nos uma brecha de esperança em alguns
casos individuais. Recomendo vivamente.
Classificação: 8,5 numa escala
de 10
Sem comentários:
Enviar um comentário