Sinopse
Bryan e Cassie decidem alugar uma casa de campo no
interior de Itália para passar um fim de semana romântico, numa última
tentativa de reconciliação e de reatarem a sua relação. Mas os planos do casal
serão afetados pelas intenções duvidosas do proprietário da casa que alugaram…
Opinião
por Artur Neves
Este filme pode
classificar-se como sendo um thriller
psicológico e isso não teria qualquer relevância para além da qualidade do argumento,
se não existisse um epílogo verdadeiramente perturbador apresentado nos últimos
minutos que recentra toda a história na violação de privacidade, que aliás
consiste em parte fundamental do argumento, mas que com este twist alarga o âmbito ao mundo da
comunicação digital paga por contrato (pay
TV) que é verosímil, real e pode neste momento estar a ser utilizado em alguma
parte deste mundo a caminho da loucura completa.
O filme começa com a viagem
dum casal para umas curtas férias no campo para recuperação da relação que se
deteriorou por motivos que veremos depois e isso indicia-nos logo que a “coisa”
não vai funcionar por semelhança com outros argumentos do género o que torna a
história razoavelmente previsível. O ambiente é de facto sossegado, muito
sossegado até, o que nos põe de alerta para o sangue que aí vem.
Dentro do género a
realização de Ratliff, é competente e segura, utilizando um jogo de luz e
sombra e espaços negativos para enquadrar os personagens que se perdem nos seus
jogos de ternura e desespero sem contudo verificarem algum sucesso. Consegue transmitir-nos
os pormenores de uma vivência constrangida entre ambos mostrando os detalhes ínfimos
da infelicidade entre Bryan e Cassie (Emily Ratajkowski) que promovem os
problemas que se irão seguir.
Bryan Palm (Aaron Paul)
nunca se encontrou em todo o filme, encarnando um personagem hesitante e com
dúvidas, que deve colidir com a personalidade do próprio ator, não transmite verossemelhança
na representação. Já senti isto noutras interpretações deste ator.
Contrariamente ao Federico (Riccardo Scamarcio) que tem um papel mais
complicado entre o sinistro e o evasivo mas não dececiona, esperando-se dele em
todo o filme uma explosão de violência que não aparece, constituindo assim um
personagem particularmente perturbador e transmitindo um medo velado em quase
todas as cenas onde aparece.
É compreensível a evolução
deste tipo de filmes para o novo género em presença, considerando o terrorismo
e a insegurança transmitida pelos atos conhecidos, que justifica a observação
sistemática de todos e de cada um nos seus atos quotidianos, onde todos somos
observados 24 horas por dia, 7 dias por semana e as imagens resultantes
processadas para análise futura. Este comportamento e a facilidades de obter
bons resultados com a atual tecnologia serve igualmente os observadores tóxicos
na sua obsessão compulsiva de violação da privacidade alheia para com isso
obter proventos ou vantagens, tornando isso o terror dos nossos dias. A miniaturização
dos componentes, câmaras, microfones, permitem a sua dissimulação nos mais
variados lugares e a internet faz o resto, permitindo a divulgação imediata das
imagens tornando o mundo num enorme reality
show. O problema reside em assimilarmos isso como um “novo normal”, ao que
anteriormente considerava-mos como paranóia, convictos de que nada disso representa
consequências reais. Interessante!...
Classificação: 6 numa escala
de 10