16 de novembro de 2018

Opinião – “A Vingança de Lizzie Borden” de Craig William Macneill


Sinopse

“A Vingança de Lizzie Borden” é um thriller psicológico baseado no infame assassinato à machadada da família Borden, em Fall River, no Massachusetts. O filme explora a vida de Lizzie Borden, concentrando-se no período até aos homicídios e ao seu rescaldo imediato; e revela várias camadas da mulher estranha e frágil que foi acusada deste crime atroz.
Mulher solteira com 32 anos e socialmente inadaptada, Lizzie (Chloë Sevigny) leva uma vida claustrofóbica sob o jugo frio e dominador do pai. Quando Bridget Sullivan (Kristen Stewart), uma jovem empregada, vem trabalhar para a família, Lizze encontra nela uma alma gémea e compreensiva, bem como uma oportunidade de intimidade que se transforma num plano malvado e num desfecho sombrio e perturbador.

Opinião por Artur Neves

Para os menos avisados informo que só no fim sabemos que se trata da representação de um caso real através da informação da situação actual de Lizzie Borden e de Bridget Sullivan, pois como thriller psicológico que é não seria novidade se se tratasse de uma ficção, mas não. Esta história aconteceu mesmo, numa pequena cidade do Massachusetts, em 1892 e já serviu de argumento para o cinema em diferentes realizações através dos tempos, tais como em: 1975; 1983; 2004; 2013 e 2015, sendo as duas ultimas versões para a TV. Todavia esta actual versão está muito bem contada, através de personagens fortes e bem estruturadas que documentam com rigor de época os tempos em que aconteceram.
Lizzie é uma mulher castrada nos seus desejos e nos seus projetos, fruto da moral da época, em que o pai, embora frágil e desequilibrado, mantém subjugada à moral convencional em que acredita para manter a sua posição de destaque. O pai, viúvo da mãe de Lizzie, assume-se como o senhor da casa, dono de tudo e de todos, incluindo de uma segunda mulher que ele não considera como legítima, embora a mantenha como a senhora da casa sem contudo lhe conferir os inerentes privilégios e apenas para representar um papel de acordo com os cânones da época que ele, a todo o custo não quer divergir.
A expressão mais clara da sua fraqueza intrínseca é a sua submissão ao escroque do tio de Lizzie, um negociante falhado em todos os negócios onde se intrometeu, mas que o pai de Lizzie ouve e segue sem reservas, contra o parecer desta que não o suporta por o conhecer suficientemente. A chegada da nova criada Bridget, vem alterar a dinâmica da casa e formular uma promessa de felicidade que Lizzie nunca antes vislumbrara.
É pois este o ambiente “normal” da casa senhorial dos abastados Borden que desencadeia o brutal assassínio do pai e da madrasta, num ato de desespero louco mas premeditado, á machadada, desferida com determinação por Lizzie, uma mulher sofrida e humilhada durante muitos anos. O realizador consegue dar-nos assim um relato tenso dos factos, não tanto pela exibição dos mesmos mas antes, pela repulsa, pelo pavor, pelos sinais que nos levam a intuir o drama que está para acontecer, oferecendo-nos um thriller raro, cujo valor assenta nas meticulosas informações que nos levam a antecipar este sangrento desfecho. Muito interessante, recomendo.

Classificação: 7 numa escala de 10

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