Sinopse
Sozinha numas férias à beira-mar, Leda
(Olivia Colman) fica obcecada com uma jovem mãe e a sua filha ao observá-las na
praia. Enervada com a relação cúmplice entre as duas (e a sua família numerosa,
barulhenta e ameaçadora), Leda é dominada pelas suas próprias memórias do
terror, confusão e intensidade da maternidade precoce. Um ato impulsivo atira
Leda para um mundo estranho e sinistro da sua própria mente onde é obrigada a
enfrentar as escolhas inconvencionais que fez enquanto jovem mãe e as suas
consequências.
Esta é a estreia de Maggie Gyllenhaal
enquanto realizadora, baseada no romance de Elena Ferrante. “A Filha Perdida”
conta também com Dakota Johnson, Jessie Buckley, Ed Harris, Peter Sarsgaard,
Dagmara Dominczyk e Paul Mescal.
Opinião
por Artur Neves
É com prazer que registo
mais uma estreia auspiciosa de uma atriz já com créditos firmado no meio como
em “A Secretária” de 2002 ou “Frank” de 2014. Maggie Gyllenhaal oriunda de uma
família de atores e com o seu irmão Jake Gyllenhaal também seguindo uma
carreira de realização já com algum sucesso assinalável, tem neste filme a
estreia numa longa metragem baseada num romance de Elena Ferrante que apresenta
diversos argumentos para estarmos atentos às suas futuras iniciativas.
Em “A Filha Perdida” segue-se
o percurso solitário de Leda (Olivia Colman) em gozo de uma semana de férias
numa praia da Grécia, onde ela se dispõe a observar uma jovem mãe, Nina (Dakota
Johnson) que cuida da sua pequena filha Elena no seio de uma família cujas
atividades em grupo levantam alguma especulação. A observação de Leda é tão
intensa e levanta-lhe tanta curiosidade e interesse o relacionamento de Nina
com Elena que lhe desperta memórias do seu próprio relacionamento com as suas
duas filhas Bianca e Martha, que a certa altura ela reconhece como falhado, ou
pelo menos sem o desvelo e a atenção que Nina revela para com Elena.
Apesar de tudo, numa das
voltas da praia escarpada e perto de um pequeno bosque, Elena perde-se dos pais
o que faz perturbar toda a paz da praia e do pequeno lugarejo onde se insere. Acidentalmente
é Leda quem a encontra e a entrega a Nina estabelecendo assim uma forte ligação
entre as duas mulheres, com Nina agradecida e Leda experimentando sentimentos
confusos na solidão das suas férias e dos seus curtos sonos onde experimenta uma
saudade e um remorso de não ter sido a mãe que hoje desejava ter sido. É aqui
que o argumento se centra e que a realização pontua, pois esta espécie de
expedição psicológica em que o argumento percorre o passado através dos pensamentos
de Leda e das suas lembranças, levanta-nos as mais atuais questões sobre a
condução da maternidade, que são simultaneamente a evidência da necessidade
condicionada por tabus.
O filme mostra-nos através de
flashbacks de Leda (Jessie Buckley)
quando nova, os problemas que levam a perturbação aos pensamentos de Leda de
hoje e neste ponto deixo uma nota que durantes as primeiras vezes temos alguma
dificuldade em estabelecer essa relação, que só posteriormente se vem a
confirmar. A partir daí a história já se torna mais fluida porque as ações de
hoje são provocadas por situações que vemos como são recordadas pelo espírito
de Leda, e neste ponto está verdadeiramente a dificuldade de pôr em filme este
romance de Elena Ferrante sem o complemento da palavra que exprima o contexto.
O personagem de Olívia
Colman, de uma mulher com um pensamento que a condiciona nas suas atitudes,
serve-se do lastro de outros personagens já representados por esta atriz, tem a
capacidade de ser simultaneamente a vítima e o algoz de Elena, quando encontra
e guarda a sua boneca preferida, perdida quando ela momentaneamente
desapareceu, pois é a tentativa derradeira de Leda encenar a retoma do seu relacionamento
com as suas filhas, já que durante a vida anterior Leda se limita a suportar o
papel de mãe, ou na melhor da hipóteses, representar esse papel, após ter voltado
para as filhas depois de uma longa ausência apenas justificada por puro egoísmo
sem justificação. Agora, já sem esperança ela rouba a boneca a Elena como
compensação para os maus tratos que Bianca provocou na boneca de Leda. Ela trata
bem da boneca, compra-lhe vestidos novos, limpa-a, no desejo de mostrar os
cuidados maternos que em tempos ela não soube dar ás suas filhas.
É um filme muito curioso,
passível de diversas interpretações dos factos que nos são mostrados, mas que
confronta sempre o princípio de que a maternidade é inerente a todas as
mulheres, embora o individualismo como mulher e as suas falhas de caráter devem
acabar ou corrigir-se com a maternidade. São 121 minutos de ação intelectual que
se vão consumindo lentamente apesar das perguntas que ficam com a resposta a
cargo do espectador. Recomendo
Tem estreia prevista em sala
dia 03 de Fevereiro
Classificação: 7 numa escala
de 10