18 de janeiro de 2022

Opinião – “O Bom Patrão” de Fernando Léon da Aranoa

Sinopse

Básculas Blanco, uma empresa espanhola de produção de balanças industriais aguarda a iminente visita do comité do trabalho que tem o seu destino em mãos para saber se a empresa merece o prémio de Excelência Empresarial local: tudo tem que estar em perfeito equilíbrio quando o dia chegar. Trabalhando contra o relógio, o proprietário da empresa, Blanco (Javier Bardem) faz de tudo para abordar e resolver os problemas com os seus funcionários, cruzando todas as linhas imagináveis no processo.

Opinião por Artur Neves

A história que suporta o filme é a suposta vida empresarial de uma empresa familiar de fabricação de balanças e básculas de diferentes formatos e dimensões. Blanco (Javier Bardem) é o patrão, o dono (herdou a fábrica por via umbilical através do seu pai que a herdou do seu avô) o conselheiro e amigo do seu pessoal a quem considera “família” numa dimensão de média empresa para a qual a noção de gestor, ou de gestão de pessoal, fica muito ao cuidado das suas preferências pessoais, dos seus humores e concentrado num homem só, ele próprio, que só delega tarefas nos quadros intermédios seus colaboradores, no âmbito estrito da cadeia de fabricação.

Fernando Aranoa tem um filme de referência no âmbito da comédia dos serviços públicos “Um dia Perfeito” de 2015 em que um grupo de trabalhadores dos serviços humanitários públicos mostram bem a sua incompetência e inépcia numa intervenção para salvar um indivíduo que caiu num poço e não tem maneira fácil de se salvar e a ajuda deles também não conduz a bons resultados. Aqui todos os pormenores da envolvência das forças instituídas são escrutinadas e glosadas de forma a servirem de exemplo para qualquer instituição com fins administrativos em qualquer parte do mundo. Aqui, nada disso acontece porque a empresa é pequena demais, governada pela vontade de um homem só, que só servirá de modelo para empresas familiares semelhantes ou mesmo chafaricas com aspirações.

Blanco despede, promove e admite quem ele quiser a seu belo prazer. No início vêmo-lo num palanque, na fábrica, a proferir um discurso de encorajamento para o próximo desafio que é a visita uma entidade classificadora das atividades empresariais, para a qual ele chama a atenção de todos os colaboradores, de toda a família (trabalhadores assalariados que dependem dele como posteriormente se refere noutras circunstancias) para intensificarem as suas tarefas com mais cuidado e desvelo, mantendo tudo limpo, tudo em ordem porque a data da visita é desconhecida, enquanto ao mesmo tempo um empregado, José (Oscar de la Fonte) que foi despedido se debate no gabinete com o encarregado de produção, alegando a injustiça de que foi alvo. O filme não diz nada sobre os motivos do despedimento e o espectador tem de assumir que foi uma decisão justa, praticada por um homem que é justo e amigo dos trabalhadores. (ponto final)…

Ao nível do estilo de empresa a que se reporta (Aranoa não deve ter querido interferir com corporações maiores que sem atos explícitos são mais criticáveis) o senhor Blanco não é um patrão qualquer, mas um chefe dedicado à sua equipa e aos seus trabalhadores, que também o idolatram porque ele está sempre lá para os ajudar em todas as situações, quer sejam relativas à vida da fábrica, ou às suas dificuldades pessoais que em última instância irão refletir-se no sucesso de vendas, pelo que ele procura sempre resolver todos os problemas. As estagiárias admitidas ao mês, são selecionadas pela sua aparência e pelo seu corpinho e aqui ele cria um grande problema ao ter admitido a filha de um grande amigo seu, andou com ela ao colo a agora 17 anos depois não a conheceu, nem se interessou saber quem era porque com aquele corpinho cumpria todos os requisitos do Sr. Blanco, compreensivelmente cansado da sua augusta esposa.

Quanto à direção de atores não há nada a apontar, a história flui e o personagem de Javier Barden encaixa na perfeição num gestor sempre envergando fatos caros e um bom carro onde se desloca, de quem temos mais referências de dramas do que comédias (a sua interpretação de um vingador em “Este País não é para Velhos” de 2007 marcou a sua carreira). Todavia ele não trabalha sozinho e todos os secundários que o servem na fábrica têm brilhantes interpretações e posição na história com particular destaque para o porteiro Romám (Fernando Albizu) pelas suas opiniões sobre todos os eventos ou a recatada esposa Adela (Sonia Almarcha) que só peca pelas poucas exibições que o argumento lhe destina.

Não se compara a “Nas Nuvens” e 2009 em que George Clooney interpreta um executivo investido na missão de despedimento de trabalhadores mais antigos e depois do trabalho feito é ele que é despedido, ou mais anteriormente, como em “O Grande Salto” de 1994 em que um jovem executivo vê-se envolvido numa complicada teia corrupta de jogadas e armadilhas empresariais de uma grande empresa, mas Fernando Aranoa não é qualquer dos famosos irmãos Coen, como tal, temos apenas a velhacaria bacoca de um patrão esperto da província e deve ser visto como tal.

Tem estreia prevista em sala dia 20 de Janeiro

Classificação: 5 numa escala de 10

 

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