13 de janeiro de 2022

Opinião – “A Vida Extraordinária de Louis Wain” de Will Sharpe

Sinopse

Esta é a extraordinária história verídica do excêntrico artista britânico Louis Wain (Benedict Cumberbatch), cujas imagens lúdicas, às vezes até psicadélicas, ajudaram a transformar para sempre a perceção do público sobre os gatos. Passado entre o final de 1800 até a década de 1930, o filme acompanha as incríveis aventuras deste herói inspirador e anónimo que, ao procurar desvendar os mistérios "elétricos" do mundo, pretendia compreender melhor a sua própria vida e o profundo amor que o uniu à sua mulher, Emily Richardson (Claire Foy).

Opinião por Artur Neves

Fazer um biopic sobre alguém que mesmo sendo anónimo para a maioria do público, devido a ficar mais ou menos esquecido entre os outros factos que com ele conviveram entre o século XIX e XX em que é difícil conhecê-lo e recordá-lo, não é somente evidenciar os factos mais significativos da sua vida, especialmente o período em que conhece o amor para a vida e tem o único tempo feliz ao viver esse amor, na época até mal visto. O objeto do seu amor Emily Richardson (Claire Foy) pertencia a uma classe inferior à dele e a sua paixão não foi apoiado pelas irmãs e pela mãe que desde cedo tudo fizeram para complicar a relação.

Ela cedo morre vítima de um cancro e depois disso o filme perde gás em direção a um final já conhecido (o filme começa por nos apresentar Louis Wien já doente) sem um esforço de enaltecimento do seu trabalho que continua mesmo durante essa fase.

Aliás Louis Wain é um jovem com algumas particularidades a nível mental, (hoje seria considerado hiperativo) que desenha a duas mãos simultaneamente fazendo na época um desenho, uma ilustração, perfeita de uma pessoa ou situação sendo como tal útil para ilustrador de um jornal ou revista, numa altura em que ainda não havia fotografia e o desenho era o elemento que figurava o acontecimento. Aliás essa evolução técnica da fotografia veio roubar-lhe emprego e ocupação, para ele que mantinha uma casa com a mãe e as suas cinco irmãs das quais Caroline (Andrea Riseborough) a mais velha, tinha as funções de governanta e desde cedo que ficou desagradada com a presença de Emily em casa e mais se opôs ao amor entre os dois.

Durante o namoro e posterior casamento há algo de doce na aceitação de Louis por Emily pois ela absorve as suas insuficiências e serve de amortecedor perfeito para a sua inesgotável energia, aceita que apesar de ter casado sem o apoio da família ele continue a suportar os dois orçamentos da sua casa e da mãe e irmãs. O amor entre ambos é completo e poderoso, eles são particularmente cúmplices e é aqui que se dá o aparecimento de Peter, o gato de Emily que desperta nele uma imaginação multiplicadora de imagens inéditas de gatos que virão a constituir a sua obra central e deixará um legado a toda a sociedade que motivará a nossa aceitação pela adoção de felinos.

O personagem de Louis Wien está magistralmente desempenhado por Benedict Cumberbatch que teve em 2021 um ano de glória na sua carreira se contarmos com a sua interpretação em “O Poder do Cão” já comentado nestas crónicas, em que se nota a dedicação de um ator em interiorizar o espírito do personagem, tanto na idade de novo, como posteriormente quando já vencido pela doença, mostrando-nos com verossemelhança a degradação devida à idade e à doença que ele tentou controlar em novo, multiplicando-se em tarefas e atividades que serviam para lhe cansar o corpo que lhe exigiam movimento constante. Outra coisa que reputo de qualidade neste filme é o trabalho de caracterização tanto em Louis como em Emily, devido a ser pormenorizada e muito cuidada.

Todavia o filme embora com seguimento seguro e uma narração eficiente de Olívia Coleman, desenvolve-se num formato 4 x 4, pouco usual nos tempos de hoje, com uma fotografia muitas vezes desfocada e baça nas cores que são a principal atração do trabalho de Louis Wien. A mudança de planos ou a confrontação com cenas fora do presente faz-se de maneira estranha fazendo deslizar os traços da fotografia de forma pouco ortodoxa, provocando que nos perguntemos o porquê de tal enviesamento. O filme e a história são interessantes mas perdem valor pelo modo de realização utilizado.

Tem estreia prevista em sala em 20 de Janeiro

Classificação: 5 numa escala de 10

 

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