Sinopse
Esta é a extraordinária
história verídica do excêntrico artista britânico Louis Wain (Benedict
Cumberbatch), cujas imagens lúdicas, às vezes até psicadélicas, ajudaram a
transformar para sempre a perceção do público sobre os gatos. Passado entre o
final de 1800 até a década de 1930, o filme acompanha as incríveis aventuras
deste herói inspirador e anónimo que, ao procurar desvendar os mistérios
"elétricos" do mundo, pretendia compreender melhor a sua própria vida
e o profundo amor que o uniu à sua mulher, Emily Richardson (Claire Foy).
Opinião
por Artur Neves
Fazer um biopic sobre alguém que mesmo sendo
anónimo para a maioria do público, devido a ficar mais ou menos esquecido entre
os outros factos que com ele conviveram entre o século XIX e XX em que é
difícil conhecê-lo e recordá-lo, não é somente evidenciar os factos mais
significativos da sua vida, especialmente o período em que conhece o
amor para a vida e tem o único tempo feliz ao viver esse amor, na época até mal
visto. O objeto do seu amor Emily Richardson (Claire Foy) pertencia a uma
classe inferior à dele e a sua paixão não foi apoiado pelas irmãs e pela mãe que
desde cedo tudo fizeram para complicar a relação.
Ela cedo morre vítima de um
cancro e depois disso o filme perde gás em direção a um final já conhecido (o
filme começa por nos apresentar Louis Wien já doente) sem um esforço de
enaltecimento do seu trabalho que continua mesmo durante essa fase.
Aliás Louis Wain é um jovem com
algumas particularidades a nível mental, (hoje seria considerado hiperativo)
que desenha a duas mãos simultaneamente fazendo na época um desenho, uma
ilustração, perfeita de uma pessoa ou situação sendo como tal útil para
ilustrador de um jornal ou revista, numa altura em que ainda não havia
fotografia e o desenho era o elemento que figurava o acontecimento. Aliás essa
evolução técnica da fotografia veio roubar-lhe emprego e ocupação, para ele que
mantinha uma casa com a mãe e as suas cinco irmãs das quais Caroline (Andrea
Riseborough) a mais velha, tinha as funções de governanta e desde cedo que
ficou desagradada com a presença de Emily em casa e mais se opôs ao amor entre
os dois.
Durante o namoro e posterior
casamento há algo de doce na aceitação de Louis por Emily pois ela absorve as
suas insuficiências e serve de amortecedor perfeito para a sua inesgotável
energia, aceita que apesar de ter casado sem o apoio da família ele continue a
suportar os dois orçamentos da sua casa e da mãe e irmãs. O amor entre ambos é
completo e poderoso, eles são particularmente cúmplices e é aqui que se dá o
aparecimento de Peter, o gato de Emily que desperta nele uma imaginação
multiplicadora de imagens inéditas de gatos que virão a constituir a sua obra
central e deixará um legado a toda a sociedade que motivará a nossa aceitação pela
adoção de felinos.
O personagem de Louis Wien
está magistralmente desempenhado por Benedict Cumberbatch que teve em 2021 um
ano de glória na sua carreira se contarmos com a sua interpretação em “O Poder
do Cão” já comentado nestas crónicas, em que se nota a dedicação de um ator em interiorizar
o espírito do personagem, tanto na idade de novo, como posteriormente quando já
vencido pela doença, mostrando-nos com verossemelhança a degradação devida à
idade e à doença que ele tentou controlar em novo, multiplicando-se em tarefas
e atividades que serviam para lhe cansar o corpo que lhe exigiam movimento constante.
Outra coisa que reputo de qualidade neste filme é o trabalho de caracterização
tanto em Louis como em Emily, devido a ser pormenorizada e muito cuidada.
Todavia o filme embora com
seguimento seguro e uma narração eficiente de Olívia Coleman, desenvolve-se num
formato 4 x 4, pouco usual nos tempos de hoje, com uma fotografia muitas vezes
desfocada e baça nas cores que são a principal atração do trabalho de Louis
Wien. A mudança de planos ou a confrontação com cenas fora do presente faz-se
de maneira estranha fazendo deslizar os traços da fotografia de forma pouco
ortodoxa, provocando que nos perguntemos o porquê de tal enviesamento. O filme
e a história são interessantes mas perdem valor pelo modo de realização
utilizado.
Tem estreia prevista em sala
em 20 de Janeiro
Classificação: 5 numa escala
de 10
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