12 de janeiro de 2022

Opinião – “Nightmare Alley – Beco das Almas Perdidas” de Guillermo del Toro

Sinopse

Quando o carismático, mas sem sorte, Stanton Carlisle (Bradley Cooper) se torna querido para a vidente Zeena (Toni Collette) e o seu marido mentalista Pete (David Strathairn) numa feira itinerante, ele ganha um bilhete dourado para o sucesso, usando o conhecimento adquirido com eles para ludibriar a elite rica da sociedade de Nova Iorque dos anos 1940. Com a virtuosa Molly (Rooney Mara) lealmente ao seu lado, Stanton planeia enganar um magnata perigoso (Richard Jenkins) com a ajuda de uma psiquiatra misteriosa (Cate Blanchett) que pode vir a ser sua melhor adversária.

Opinião por Artur Neves

Guillermo del Toro depois do seu premiado filme “A Forma da Água” que sinceramente não me agradou e muito menos para ser destacado com o Óscar de 2017, que me pareceu ser mais uma carolice da Academia Americana nunca justificada, apresenta-nos agora este “Beco das Almas Perdidas” com base na novela com o mesmo nome “Nightmare Alley” de William Lindsay Gresham escrita em 1946 e levada ao cinema numa obra com o mesmo nome realizada por Edmund Goulding em 1947. Temos portanto um remake, quiçá mais inteligente segundo um argumento do próprio Guillermo del Toro, transformado num neo-noir thriller psicológico que decorrente da supremacia dos meios tecnológicos atuais deve acrescentar mais emoção e suspense a uma história com uma base interessante sobre os propalados poderes da mente. Todavia a versão do primeiro filme que passou em França foi rebatizada com o nome de “Le Charlatan” comprovando que ontem tal como hoje, aqueles “poderes” são uma falácia.

Logo no início do filme temos a cena de abertura em que um homem empurra para um buraco no chão de uma casa um volume que parece um cadáver, arruma as suas coisas, acende um cigarro, deita o fósforo para o buraco donde começam a emergir chamas que consomem toda a casa e ele calmamente se afasta da casa para um destino sombrio. Não conhecemos nada sobre o sítio, a casa, o homem nem os seus motivos o que pode ser classificado como o início perfeitamente adequado a um noir inspirado nos clássicos. No seu caminho, que pode ser entendido como um recomeço, ele apanha um autocarro e sai no fim da carreira, depois de ser acordado por uma feira itinerante para onde ele se dirige à procura de trabalho, ou de algo para ganhar uns cobres a fim de se alimentar. Todo o ambiente é escuro, com detalhes macabros. Ele consegue uma ocupação que vai potenciar a descoberta de si como mentalista, e dos amigos e companheiros de espetáculo que o ajudam a compreender que pode escalar a sua ocupação para outro nível de sociedade e de clientes.

Stanton “Stan” Carlisle (Bradley Cooper) recebe todas as indicações de Pete (David Strathairn) e sua mulher Zeena a Vidente (Toni Collette) que lhe ensinam toda a verdade por detrás do mentalismo de feira recheado de pistas verbais que criam a ilusão ao espectador crente que ele está a entrar no cérebro e a conhecer os seus segredos e angústias. O elenco está cuidadosamente escolhido, Toni Collette e David Strathairn como o par da magia, ela cartomante, ele o mentalista de feira. Molly (Rooney Mara) é a rapariga elétrica por quem Stan se apaixona depois de incrementar o seu número com um cenário que prende mais a atenção dos espectadores. Em pouco tempo ambos se apaixonam e separam-se da companhia para procurar rumo numa vida a dois.

O argumento de Guillermo em conjunto com Kim Morgan, um historiador de cinema, seguem os passos da novela original mas os ambiente onde se movem os personagens, os da feira mais pobres e sujos e os da classe alta, mais sofisticados e ricos, vivendo nas melhores casa da época recriadas com cuidado e requinte tanto nas superfícies brilhantes como nas decorações ArtDeco das casas em que vivem. Toda a história decorre com o cuidado e pormenor que os 150 minutos de filme permitem. A música utilizada é deliciosamente barroca em sintonia com os cenários e os figurinos da época impecavelmente produzidos. O cinema de del Toro vale-se de imagens com beleza dura e brutal que ele não tem pressa de as mostrar sem ser na altura certa, na altura em o clímax da sua história explode em sangue, neve e morte, numa boa interpretação de Bradley Cooper. Muito interessante, gostei e recomendo.

Classificação: 8 numa escala de 10

Tem estreia prevista em sala em 27 de Janeiro

 

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