Sinopse
Quando o carismático, mas
sem sorte, Stanton Carlisle (Bradley Cooper) se torna querido para a vidente
Zeena (Toni Collette) e o seu marido mentalista Pete (David Strathairn) numa
feira itinerante, ele ganha um bilhete dourado para o sucesso, usando o
conhecimento adquirido com eles para ludibriar a elite rica da sociedade de
Nova Iorque dos anos 1940. Com a virtuosa Molly (Rooney Mara) lealmente ao seu
lado, Stanton planeia enganar um magnata perigoso (Richard Jenkins) com a ajuda
de uma psiquiatra misteriosa (Cate Blanchett) que pode vir a ser sua melhor
adversária.
Opinião
por Artur Neves
Guillermo del Toro depois do
seu premiado filme “A Forma da Água” que sinceramente não me agradou e muito
menos para ser destacado com o Óscar de 2017, que me pareceu ser mais uma carolice
da Academia Americana nunca justificada, apresenta-nos agora este “Beco das
Almas Perdidas” com base na novela com o mesmo nome “Nightmare Alley” de William
Lindsay Gresham escrita em 1946 e levada ao cinema numa obra com o mesmo nome
realizada por Edmund Goulding em 1947. Temos portanto um remake, quiçá mais inteligente segundo um argumento do próprio Guillermo
del Toro, transformado num neo-noir thriller psicológico que decorrente da
supremacia dos meios tecnológicos atuais deve acrescentar mais emoção e suspense a uma história com uma base interessante
sobre os propalados poderes da mente. Todavia a versão do primeiro filme que
passou em França foi rebatizada com o nome de “Le Charlatan” comprovando que
ontem tal como hoje, aqueles “poderes” são uma falácia.
Logo no início do filme
temos a cena de abertura em que um homem empurra para um buraco no chão de uma
casa um volume que parece um cadáver, arruma as suas coisas, acende um cigarro,
deita o fósforo para o buraco donde começam a emergir chamas que consomem toda
a casa e ele calmamente se afasta da casa para um destino sombrio. Não conhecemos
nada sobre o sítio, a casa, o homem nem os seus motivos o que pode ser
classificado como o início perfeitamente adequado a um noir inspirado nos clássicos. No seu caminho, que pode ser
entendido como um recomeço, ele apanha um autocarro e sai no fim da carreira,
depois de ser acordado por uma feira itinerante para onde ele se dirige à
procura de trabalho, ou de algo para ganhar uns cobres a fim de se alimentar. Todo
o ambiente é escuro, com detalhes macabros. Ele consegue uma ocupação que vai
potenciar a descoberta de si como mentalista, e dos amigos e companheiros de espetáculo
que o ajudam a compreender que pode escalar a sua ocupação para outro nível de
sociedade e de clientes.
Stanton “Stan” Carlisle
(Bradley Cooper) recebe todas as indicações de Pete (David Strathairn) e sua
mulher Zeena a Vidente (Toni Collette) que lhe ensinam toda a verdade por detrás
do mentalismo de feira recheado de pistas verbais que criam a ilusão ao
espectador crente que ele está a entrar no cérebro e a conhecer os seus
segredos e angústias. O elenco está cuidadosamente escolhido, Toni Collette e David
Strathairn como o par da magia, ela cartomante, ele o mentalista de feira.
Molly (Rooney Mara) é a rapariga elétrica por quem Stan se apaixona depois de incrementar
o seu número com um cenário que prende mais a atenção dos espectadores. Em pouco
tempo ambos se apaixonam e separam-se da companhia para procurar rumo numa vida a dois.
O argumento de Guillermo em
conjunto com Kim Morgan, um historiador de cinema, seguem os passos da novela
original mas os ambiente onde se movem os personagens, os da feira mais pobres
e sujos e os da classe alta, mais sofisticados e ricos, vivendo nas melhores
casa da época recriadas com cuidado e requinte tanto nas superfícies brilhantes
como nas decorações ArtDeco das casas em que vivem. Toda a história decorre
com o cuidado e pormenor que os 150 minutos de filme permitem. A música
utilizada é deliciosamente barroca em sintonia com os cenários e os figurinos
da época impecavelmente produzidos. O cinema de del Toro vale-se de imagens com
beleza dura e brutal que ele não tem pressa de as mostrar sem ser na altura
certa, na altura em o clímax da sua história explode em sangue, neve e morte,
numa boa interpretação de Bradley Cooper. Muito interessante, gostei e
recomendo.
Classificação: 8 numa escala
de 10
Tem estreia prevista em sala
em 27 de Janeiro
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