Sinopse
Quando o ex-marido de Cami
Bowden (Heather Graham), Craig, morre repentinamente de um ataque cardíaco, a
vida perfeita que Cami criou começa a desfazer-se. No funeral de Craig, Cami e sua
filha adolescente Aster (Sophie Nélisse) encontram Rachel (Jodi Balfour), a
segunda esposa muito mais jovem de Craig, por quem ele deixou Cami, e Talulah (Abigail
Pniowsky), a segunda filha de Craig, que está evitando o processo de luto.
Rachel, tendo passado grande parte de sua vida adulta como esposa que fica em
casa, revela a Cami que Craig escondeu uma infinidade de dívidas e que a casa
deles terá de ser vendida - Rachel e Talulah ficarão sem casa ou com qualquer
cêntimo em seu nome enquanto esperam que a apólice de seguro de vida de Craig se
execute. Movida pela precária situação de Rachel, Cami oferece relutantemente a
sua casa para ambas morarem temporariamente. Agora, juntas sob o mesmo teto, as
mulheres processam a sua tristeza e raiva pela morte de Craig e procuram um significado
e direção para as suas vidas. Durante este tempo, velhos segredos e conflitos
de lealdade ameaçam fragilizar o tênue equilíbrio em torno deste grupo.
Opinião
por Artur Neves
Aisling Chin-Yee cofundadora
do movimento #MeToo é uma produtora e recente realizadora de origem chinesa,
estabelecida em Montreal, Canadá que nos traz um argumento de Alana Francis e
uma estreia destas duas colaboradoras em longas-metragens de cinema, adaptando o
romance de Patrick Ness; “The Rest of Us just Live Here”, sobre um tema pouco
explorado, talvez pela raridade de casos reais conhecidos e pelo criticismo
inerente à situação de coabitação de duas mulheres casadas com o mesmo homem em
tempos diferentes e atualmente viúvas, cada uma com a sua respetiva descendência.
Este tema, sobre o qual não
me vou alongar considerando que a sinopse é suficientemente elucidativa, tem
sido abordado de forma jocosa, como motivo de paródia da relação estabelecida e
nunca com a generosidade comovente, engraçada e por vezes maliciosa de uma
relação improvável entre duas mulheres e as suas respetivas filhas que apesar
da diferença etária significativa que as separa, uma adolescente e outra
infantil, competem entre si pelos seus direitos e com meios difíceis de
imaginar á partida.
Observada globalmente, esta história
pode descrever-se, como a influência de um homem, relacionado a diferentes
níveis com cada elemento deste quarteto de mulheres em diferentes estágios da
vida, e a importância para cada uma que ele teve durante o tempo de convívio,
de época social, de preconceito, de convenção assumida no estilo de vida que
todas viveram. Não se pense que é projeto fácil se for pretendida uma abordagem
honesta e credível, sendo o primeiro defeito que lhe aponto a sua limitada
duração de 80 minutos para desenvolver um quadro tão complexo de emoções contraditórias
e de relações humanas.
Este facto faz com que a
história apresente personagens de espírito ágil, com resoluções simplistas e
breves para situações complexas sem deixar amadurecer as contradições que as
repelem, ou as semelhanças que sem quererem admitir, as torna próximas entre si
subordinadas a um modelo comum de relacionamento, todavia pela exiguidade do
tempo disponível tudo tem de ser dirimido em tom breve e superficialmente.
Repare-se que Aster, por
exemplo, tem um segredo que envolve o namorado e como tal distancia-se das
opiniões de Cami, cedendo. Talulah por seu lado, na sua infantilidade, assume
um estado de negação em relação à morte do pai que reproduz em certa medida a
repulsa de Rachel à memória de Craig, responsabilizando-o pelo estado de
pobreza em que ele as deixou, decorrente de vários negócios sem sucesso.
De todas estas contradições,
acusações mútuas, e os impasses daí decorrentes vai lentamente nascer um
espírito de solidariedade comum nunca antes imaginado que promove um espírito
de equipa e uma condescendência onde antes só existia azedume. Aster opta por
proteger a sua meia-irmã quando antes a repelia. Cami verifica no estado de
fragilidade emocional de Rachel um motivo para justificar a sua própria existência,
numa altura em que Aster prepara a sua emancipação. São tudo processos que
requerem tempo, não só para serem descritos como para serem ilustrados e não
pode culpar-se o quarteto de atores que com toda a qualidade desempenham os
personagens que lhe são confiados.
É pena… ainda assim, pode
ser visto na plataforma de streaming; Prime Video – Amazon