Sinopse
Nove tradutores foram
escolhidos por uma editora implacável e trancados em um bunker luxuoso para traduzir o livro altamente antecipado, de um
autor famoso, em tempo recorde. Embora os tradutores estejam confinados e
vigiados à vista para evitar qualquer tipo de fuga de informação por causa dos
grandes riscos financeiros, uma crise irrompe quando alguém publica na internet
as primeiras dez páginas do romance e chantageia a editora a pagar 5 milhões de
euros.
Opinião
por Artur Neves
No retorno possível e tímido
às salas de cinema com todas as reservas impostas pela pandemia eis que temos
este “Os Tradutores” estreado ontem, 12 de Junho, nos cinemas City, pela mão da
distribuidora Cinemundo, no género thriller,
bem ao jeito do cinema Hitchcockiano (se é que o conceito existe) por nos
mergulhar num enigma aparentemente impossível de acontecer, considerando as
condições reservadas aos tradutores que foram selecionados para fazer a
tradução em várias línguas de “Dédalus” o ultimo volume de uma trilogia escrita
por um autor francês que se remete ao mais completo secretismo da sua
personalidade, publicitando somente o seu nome.
Deixo aqui uma nota especial
para a atris portuguesa Maria Leite, que desempenha o papel da personagem
escolhida para a tradutora de português. Não comento as caraterísticas da
personagem em si, determinadas pelo argumento da história, acrescentando
somente tratar-se de um personagem new
wave não muito comum na sociedade portuguesa, particularmente neste ramo de
negócio. Penso tratar-se do reflexo como os outros vêm a nossa cultura e o
nosso povo. Do ponto de vista da representação, o personagem está muito bem
conseguido e Maria Leite, que pertence ao quadro fixo de atores do Teatro
Nacional São João no Porto, não ficou diminuída na confrontação com alguns
consagrados.
Regis Roinsard o realizador
francês responsável pelo projeto apresenta como antecedente “A Datilografa” de
2012, uma comédia romântica na área do trabalho de escritório em 1958, com
todos os maneirismos e convenções da época, que não serve de indicativo para
este filme que documenta a loucura do estado de desvario e obsessão com o roubo
de direitos da indústria editorial, que se por um lado beneficiou com a
desenvolvimento tecnológico, por outro, sofre horrores com a cópia pirata e com
os royalties perdidos.
Nesta história cria-se o suspense pela forma como os
acontecimentos que foram antecipadamente previstos e acautelados, ocorrem de
surpresa, ainda com o processo de tradução a decorrer e com a revelação das dez
primeiras folhas serem divulgadas na internet. Decorrente dessa ameaça todo o
ambiente de rotina maçadora inerente ao trabalho de tradução é alterado e todos
os eleitos passam a ser suspeitos da fraude, seguindo-se pela tentativa de
descoberta do responsável.
Isso implica uma sequência agitada
de denúncia, acusação, defesa e meios de segurança que nos parecem forçados
para o tema abordado. A literatura nunca despertou emoção ou twists muito movimentados na sua
confeção, pelo que apesar de toda a agitação, falta em adrenalina o que excede
em complicação e formalismo, muito embora enfatize que apesar da implícita
rotina do trabalho de tradução, escrever é um ato solitário em que se tenta
condensar toda a criatividade na capa ou na imagem que representa a história.
O verdadeiro criador pode
usar técnicas modernas que todavia não interferem com o ato de criação á moda
antiga, por vocação, dedicação, sem olhar ao tempo dedicado á criação ou aos
proveitos dela obtidos que tem como exemplo máximo Marcel Proust e o seu extenso
“Em busca do Tempo Perdido” citado no filme pelo editor. O suporte em papel está
na genética do livro. O suporte eletrónico, embora moderno e atual, propicia o
roubo e a falsidade e no mundo atual em que o que existe tem de dar lucro para
permitir ser continuado, a história de Regis Roinsard bem pode ficar por aqui,
pois esgota-se no fogo que a consome e aos livros.
É daqueles filmes que nos
prendem enquanto duram, mas no retorno ao grande ecrã e com uma história
intrincada de crime e fuga só pode ser recomendável.
Classificação: 6 numa escala
de 10
Sem comentários:
Enviar um comentário