Sinopse
Antoine Leconte é um homem
de poder - arrogante, dominante em seu ambiente profissional e vida pessoal.
Admirado por alguns, odiado por outros, nada e ninguém resiste a ele ... Até o
dia em que um de seus funcionários o ataca brutalmente. Quando ele recupera a
consciência no hospital, nada é como era: Antoine se encontra no lugar de um
homem comum, descendo a escada social e profissional - e ao seu redor, todos os
papéis são invertidos. Isso é um sonho ou realidade? Uma conspiração? Um
pesadelo? Esgotamento? ... Determinado a reerguer-se, Antoine terá que lutar
para recuperar tudo o que perdeu, sonho ou realidade? Será uma conspiração
contra ele? Ele está K.O.
Opinião
por Artur Neves
Classificado
como thriller, mas sugerindo um género
na área do drama psicológico, este filme apresentado em antestreia na Festa do
Cinema Francês de 2017, traz-nos uma história que dificilmente interpretamos
como pertencendo à classificação atribuída, estabelecendo mais uma vez as
significativas diferenças de conteúdo entre as cinematografias europeia e
americana, que o nosso mercado tem tendência em nos servir sem distinção. O realizador
Fabrice Gobert com uma ampla obra de argumentista e diretor de séries para
televisão desde 2002, apresenta-nos aqui o seu primeiro trabalho para cinema
muito bem conseguido.
Laconte
(Laurent Lafitte) é um gestor de topo numa empresa de comunicações que age
discricionariamente com todos os subordinados na perseguição voraz do sucesso
absoluto que ele pretende alcançar para a empresa e para si próprio como
objectivo último da sua passagem pela vida. Na sua vida privada, escassa e
frugal, replica o mesmo comportamento reunindo-se de bens materiais avultados,
onde desfruta de uma caricatura de vida sentimental, parca de afetos, na
companhia da sua mulher, Solange (Chiara Mastroianni) que deambula solitária
pela casa com muito pouca ligação com ele e com as suas necessidades, que ele
satisfaz onde calha.
Porém,
há sempre um dia em que tudo muda, e esse dia acontece quando na sequência de
um enfarto ligeiro ele entra em coma e o seu cérebro letárgico reverte todos os
conceitos estabelecidos fazendo-o “viver” uma vida oposta da que está
convencido que é a que detém por direito, confrontando-o com a “vida” dos
outros que ele subjuga.
Imobilizado
na cama do hospital, o outrora poderoso Laconte, “faz-se” sofrer das
dificuldades normais que provoca aos outros, como que vivendo a sua vida num
espelho, que transforma a imagem simétrica do seu contrário, na realidade que
ele é agora forçado a viver, coabitando e relacionando-se com todos os
personagens da sua vida real, mas num patamar de igualdade que lhe é
completamente estranho, contra o qual ele se revolta, e por isso luta com todas
as suas forças remanescentes na memória passada.
Trata-se
pois da luta interna deste homem, agora fragilizado pelo acidente vascular que
sofreu, sendo confrontado com a sua fraqueza e normalidade humana que ele
sempre recusou, que ele sempre escondeu sob o manto diáfano do despotismo em
benefício de um bem maior, que subitamente, através de um evento violento o
despoja das suas premissas e o confronta com uma vida e uma realidade que
totalmente desconhece, embora sempre tenha vivido nela mas noutro contexto.
Trata-se no fundo, do confronto connosco próprios para que possamos progredir
para um nível superior de existência, se soubermos aprender e aceitar a
oportunidade de redenção através do reconhecimento dos nossos erros.
Bem interpretado, escorreito
no argumento, sem deixar pontas soltas e com uma história interessante sobre o
verdadeiro “eu” de um personagem que se confunde entre a realidade, e a
fantasia com que está sonhando, constituindo aqui um bom exemplo da
cinematografia francesa moderna de qualidade. Recomendo.
Disponível na plataforma
Filmin para o utilizador, pelo preço de €3,95 durante 72 horas.
Classificação: 7 numa escala
de 10
Sem comentários:
Enviar um comentário