31 de dezembro de 2017

Opinião – “Insidious: A Última Chave” de Adam Robitel

Sinopse

Os criadores da trilogia Insidious, regressam com “Insidious: A Ultima Chave”. Neste thriller sobrenatural, que traz de volta Lin Shaye, como a Dra.Elise Rainier, a brilhante parapsicóloga enfrenta na sua casa de família, a maior das assombrações.
Escrito por Leigh Whannell (Saw – Enigma Mortal), co-criador, escritor da trlogia e realizador do Capítulo 3; produzido pela equipa de Insidious, Jason Blum (A Purga, Foge), Oren Peli (Atividade Paranormal) e co-criador James Wan (The Conjuring – A Evocação, Velocidade Furiosa 7) e realizado por Adam Robitel (A Possessão)

Opinião por Artur Neves

A continuação da saga “Insidious” que se iniciou em 2010 como o melhor filme desta série (na minha opinião) continua agora com este; “A Ultima Chave”, depois de em 2013 e 2015 ter apresentado histórias menos conseguidas, com particular relevo para a sequela de 2015 poder ser classificada como a de pior memória.
Desta vez, pela mão de Adam Robitel, um realizador da nova geração, formado pela Universidade da Califórnia no curso de Arte Cinematográfica e já com antecedentes no género como argumentista, retorna ao início da história e traz nos como que uma prequela do tema, abordando a infância traumatizante de Lin Shaye (Elise Rainier) como o ”nó” a ser desatado na corporização do mal que atormenta os personagens da saga. Atormenta e vai continuar a atormentar, pois pelo final pode inferir-se que não se trata ainda o último capítulo, apesar de ter sido nomeado como “Ultima Chave”.
A demonologista Lin Shaye é chamada, pelo actual habitante, à casa onde nasceu e viveu a sua infância na área contígua á prisão onde o pai desempenhava a função de carcereiro e onde despontam os seus dotes de sensibilidade ao paranormal, fortemente contrariados pelo pai e protegidos pela mãe, por amor à filha e por compreensão pelas suas particularidades. A sua infância foi dolorosa e de tal modo infeliz, ao ponto de ela se ver motivada a abandonar a casa e o irmão e fugir sem destino definido só para se livrar do sofrimento que a presença maligna que habitava a casa lhe infligia directamente e através do seu pai, também possuído pela mesma entidade, tornando a sua existência um purgatório em vida, que consubstancia afinal a génese do universo de “Insidious”.
Nesta saga a morte não é um fim mas antes a transição para um sofrimento eterno que se propaga e multiplica por todos os seres cativos pela entidade demoníaca que subjuga os vivos tornando-os objecto dos seus desígnios e que Lin Shaye se vê finalmente forçada a enfrentar. A participação de James Wan como Produtor, tal como no primeiro filme da saga em 2010, veio repor o filme nas suas premissas iniciais de suspense, imprevisibilidade e surpresa constituindo assim um certificado de qualidade que este produtor já nos mostrou nesta área, em situações anteriores. Pode não se gostar do género pelos mais variados motivos individuais mas que esta história prende o espectador e apresenta cenas de completo sobressalto é uma realidade.

Classificação: 6 numa escala de 10

28 de dezembro de 2017

Opinião – “O Boneco de Neve” de Tomas Alfredson

Sinopse

O detetive alcoólico Harry Hole encabeça uma unidade de elite que está a investigar o caso de uma mulher que desapareceu num subúrbio de Oslo quando a neve começou a cair. Não demora muito até reparar no paralelo entre esse caso e o de um assassino em série chamado “Boneco de Neve”, com que lidou anos antes.
Realizado pelo sueco Tomas Alfredson trata-se da adaptação de mais um romance policial homónimo do norueguês Jo Nesbo publicado em 2007 e corresponde ao sétimo caso da saga do detetive Harry Hole, interpretado por Michael Fassbender. Fazem também parte do elenco: Rebecca Ferguson, Charlotte Gainsbourg, Val Kilmer e J.K.Simmons.

Opinião por Artur Neves

Mais uma vez uma adaptação ao cinema de uma obra nórdica de qualidade corre mal. Estou a lembrar-me dos filmes; “Deixa-me Entrar” em 2010 e “Os Homens que não gostam das Mulheres” em 2011, primeiro volume da saga Millenium de Stieg Larsson. Em ambos os casos houve uma primeira versão realizada por realizadores nórdicos. No presente filme a realização de Hollywood é a sua primeira adaptação cinematográfica por um realizador nórdico que não consegue pegar neste intrigante enredo e apresentá-lo de forma fluida e coerente, tendo ficado alguns furos abaixo das expectativas iniciais que esta história poderia transmitir.
O principal problema resulta da forma confusa como a intriga é transmitida ao espectador resultando numa história sem alma, embora contenha cenas fortes e dramáticas, mas que são “plantadas” sem o devido enquadramento que lhes confira espessura, drama e aquela trama policial impregnada de mistério, suspeita e pistas falsas que prendem o espectador à história e às emoções dos personagens.
Logo no início surpreendemo-nos ao constatar que o bêbado sem casa que nos apresentam caído na rua (caído do céu) é afinal o polícia de elite que vai acompanhar e desvendar todo o mistério do crime. A relação com a mulher de quem está divorciado e com o seu filho adolescente também só começa a fazer sentido lá muito para a frente. Os outros personagens são introduzidos sem se saber exatamente a sua relação entre si. A relação com a sua colega de investigação é-nos mostrada como ambígua e banal, quando no final toma um lugar e assume atitudes perfeitamente surpreendentes cuja justificação encontramos somente no fim da história.
O ambiente onde a história se passa, repleto de neve e de brancura fatal é do melhor que o filme tem decorrente do trabalho de fotografia, que por si só descreve alguma das justificações da opressão silenciosa que transparece em toda a história e que o realizador, o argumentista, ou ambos, não tiveram arte nem engenho para articular os elementos figurativos a comunicar em cada momento, tornando o filme quase incompreensível em situações fulcrais para o desenvolvimento da ação, incompleto e provocando a alienação do espectador, por se sentir incomodado com a sua própria incompreensão.
Ainda assim trata-se de um thriller que na versão de romance deve ser muito interessante, pois a história é forte, os elementos estão lá todos, e no final até se compreende toda a intriga, lamenta-se é que seja só no final. A imagem é muito boa e toda aquela frieza gélida do rigoroso inverno nórdico acentua o espírito sombrio do filme e se conseguirmos aguentar todas as perguntas que nos veem á mente até final podemos não dar o nosso tempo por completamente perdido.

Classificação: 5 numa escala de 10

22 de dezembro de 2017

Opinião – “O Grande Showman” de Michael Gracey

Sinopse

“O Grande Showman” é um musical ousado que celebra o nascimento do show business e a sensação maravilhosa que sentimos quando os sonhos ganham vida. Inspirado pela ambição e imaginação de P. T. Barnum, “O Grande Showman” conta a história de um visionário que surgiu do nada para criar um espetáculo fascinante que se tornou uma sensação mundial. “O Grande Showman” foi realizado pelo estreante Michael Gracey, com músicas dos vencedores de um Óscar, Benj Pasek e Justin Paul no filme “La La Land”. Protagonizado por Hugh Jackman e acompanhado pela candidata ao Óscar; Michelle Williams e também por; Zendaya, Zac Efron e Rebecca Ferguson.

Opinião por Artur Neves

O género musical em cinema ocupou desde o seu início uma categoria particular, tendo servido para divulgar arte e espetáculo maioritariamente só acessíveis em teatros e casas de representação. Nesta evocação de Phineas Taylor Barnum nascido em 5 de julho de 1810 nos Estados Unidos e apontado como talvez o primeiro empresário “a sério” do Show Business, só podia ter sido feita através de um filme musical com as características e esplendor de “O Grande Showman” realizado por um homem que tem nesta obra a sua primeira realização.
Tal como em todos os filmes musicais é através das canções que os personagens dos atores exprimem os seus sentimentos e emoções do papel que lhes é atribuído e que no caso, bem defendidos por extraordinárias interpretações acima mencionadas. Através das canções especialmente desenvolvidas para o argumento, exprime-se a dor através de canções ligeiras, ou a alegria através de canções calmas num ambiente exuberante, de circo, no início circo de horrores com a exibição de deformações humanas condenadas na época e de animais estranhos, como era tradição no início do século XIX na Inglaterra da rainha Victória.
Sempre ao sabor da música são mostradas as diferenças sociais impostas por uma sociedade burguesa, recentemente saída do regime esclavagista, que privava os palácios da corte e denegria o povo, inculto, trabalhador indiferenciado, ser humano sem estatuto e até condenado sem culpa formada, que o génio empreendedor de P. T. Barnum aglutina em torno das artes performativas diversificadas, do seu museu inicial que evoluiu posteriormente para a atividade circense, quase como a conhecemos hoje.
O ponto alto da vida de Barnum, bem documentado no filme, centra-se na promoção da tournée pelos USA da cantora Sueca Jenny Lind (Rebecca Ferguson) por quem Barnum se encantou ao ouvi-la cantar pela primeira vez e com ela ganhou milhares de dólares e perdeu a sua casa e também quase a sua família, subjugado ao efeito de uma voz denominada na época pelo “Rouxinol Sueco” mas que significou para ele o primeiro grande revés como empresário artístico.
É pois toda esta ação, declamada em forma de canção, dançada, representada em cenários modestos ou riquíssimos que se conta esta história, de seres humanos, com todas as suas misérias e grandezas da alma humana e que nos transportam durante 105 minutos através da fantasia, do luxo e da habilidade de um espetáculo que ainda hoje permanece com aceitação geral.

Classificação: 7,5 numa escala de 10

19 de dezembro de 2017

Opinião – “Jumanji – Bem-vindos à Selva” de Jake Kasdan

Sinopse

Quatro estudantes da escola secundária descobrem uma antiga consola de jogos de vídeo, da qual nunca tinham ouvido falar – Jumanji – e são de imediato transportados para o ambiente de selva do jogo, transformando-se, literalmente, nos seus próprios avatares.
Spencer, um viciado em gaming, transforma-se num aventureiro cerebral (Dwayne Johnson) a estrela do futebol, Fridge, perde (e são estas as suas palavras) “o primeiro meio metro do seu corpo”, transformando-se em Einstein (Kevin Hart); Bethany, uma das miúdas populares, transforma-se num professor de meia-idade (Jack Black); e a tímida Martha transforma-se numa guerreira destemida (Karen Gillian). O que eles descobrem é que não se podem limitar a jogar Jumanji – eles têm de sobreviver ao jogo… e para sobreviver e regressara ao mundo real terão de passar pela mais perigosa aventura das suas vidas, descobrir o que Alan Parrish deixou há 20 anose mudar a sua visão deles próprios – ou ficarão presos para sempre no jogo…

Opinião por Artur Neves

O que se nos apresenta hoje nesta história é um remake, tecnologicamente actualizado, dum filme de aventura e fantasia realizado em 1995, com o mesmo nome, baseado no livro infantil de histórias fantásticas escrito em 1981 por; Chris Van Allsburg e que muito embora não tenha tido uma crítica muito favorável, constituiu um sucesso de bilheteira no ano de estreia e que com mais propriedade se persegue nesta versão em 3D que nos transporta para o ambiente de selva em que decorre o jogo “inserindo-nos” completamente nas dificuldades e condições do jogo fazendo de nós mais um jogador da equipa.
Pessoalmente não sou adepto de jogos de computador porque acho que uma máquina tão poderosa como esta terá certamente melhor utilização do que o seguimento condicionado de acções e respostas programadas, impostas por qualquer jogo de computador que no limite, têm o poder de alienar os seus praticantes da realidade que os cerca. Por outro lado, do ponto de vista dos adeptos desta modalidade, através desta máquina têm a possibilidade de viver aventuras impossíveis, conhecer mundos fantásticos e sentir o poder do heroísmo virtual que o programador lhes confere através dos códigos utilizados no software produzido.
Se o leitor se insere nesta segunda categoria então este filme é lhe dedicado e pode usufruir de toda a magia implícita à tecnologia de criação do espaço tridimensional que acolhe toda a acção. Não pode ser um membro da equipa, é certo, mas pode vivenciar toda a emoção das fugas e perseguições no solo, da arrepiante viagem de helicóptero, da fuga aos rinocerontes albinos e de todos os eventos inimagináveis somente possíveis através da magia do cinema magistralmente mantida durante 119 minutos em que certamente não se aborrecerá.
Jake Kasdan realiza este filme depois de vários créditos firmados nesta industria e de muitos filmes no âmbito da comédia, emprestando ao presente argumento uma graça e uma ligeireza que se adaptam á época que atravessamos podendo constituir o complemento adequado á diversão do Natal em família pelo que o recomendo para todas as assistências.

Classificação: 6 numa escala de 10

14 de dezembro de 2017

Opinião – “Feliz dia para Morrer” de Christopher Landon

Sinopse

“Feliz Dia Para Morrer” é um thriller original e engenhoso, produzido pela Blumhouse (“Fragmentado”, “Foge”, “Whiplash - Nos Limites”), onde uma jovem estudante (Jessica Rothe, “La La Land: Melodia de Amor”) revive incessantemente o dia do seu assassinato, com todos os excecionais detalhes e aterrorizante final, até conseguir descobrir a identidade do assassino.

Opinião por Artur Neves

Á maneira de “O Feitiço do Tempo” de 1993, este filme conta-nos uma história de pretenso terror e suspense misturado com comédia, na forma de fim e recomeço sucessivos da mesma ação, com ligeiras transformações, para demonstrar que não se trata somente de repetições, numa história de descoberta do assassino da protagonista que morre e renasce no mesmo dia voltando tudo a acontecer de formas ligeiramente diferentes mas com o mesmo desfecho.
Aliás, o filme “Feitiço do Tempo” chega a ser mesmo citado por um dos personagens, como que a desculpabilizar o realizador pelo plágio de forma utilizado, para contar esta história que se arrasta ao longo de 96 minutos e em que eu me perguntei para quê e porquê, a sua apresentação deste modo absolutamente inverosímil que não acrescenta nada ao interesse do espectador e só o satura nos inevitáveis takes (trechos) de absoluta repetição.
A história em si mesma, reporta-se a um assassínio num colégio secundário que poderia tornar-se num bom caso de ficção policial, pois com todos os ingredientes periféricos construídos, permitir-se-ia a apresentação de uma multiplicidade de suspeitos, com diferentes motivações, como aliás vem de certa maneira a verificar-se embora com a nuance da sistemática repetição/inicialização da história, no mesmo dia e local, que se traduz em termos práticos numa monotonia inultrapassável do argumento.
Christopher Landon é um realizador americano, oriundo da Califórnia, rodado neste género de suspense como atestam alguns filmes anteriores tais como; “Paranoia” de 2007 sobre uma obsessão voyeurista (mixoscopia em Português) e a tetralogia de “Atividade Paranormal” entre 2010 e 2014, sem necessidade de recorrer a este efeito de retorno sistemático ao lugar do início que não acrescenta nada de útil à história que se pretende contar.
Deste modo o filme torna-se chato, enrolado no seu desenvolvimento, embora em certa medida consiga manter-nos a esperança para que a história evolua para padrões “normais” o que definitivamente não acontece e como tal deixa-nos no fim com um sentimento de frustração e de tempo perdido. Ver, só se não houver mais nada para fazer.

Classificação: 4 numa escala de 10

7 de dezembro de 2017

Opinião – “Woodshock” de Kate & Laura Mulleavy

Sinopse

Theresa (Kirsten Dunst) vive assombrada por uma profunda perda e encontra-se no precário limbo entre um estado emocional fraturado e os efeitos psicadélicos de uma potente droga derivada da canábis. Uma hipnotizante exploração do isolamento, da paranóia e da dor num mundo fantasioso de sonhos, WOODSHOCK é uma experiência imersiva, encantadora e sublime, que transcende o seu género para se tornar numa singular e empolgante experiência cinematográfica que assinala as irmãs Mulleavy como importantes emergentes vozes do cinema contemporâneo.

Opinião por Artur Neves

Estreado em 4 de setembro na 74ª edição do renascido Festival de Cinema de Veneza decorrido entre 30 de Agosto e 9 de Setembro deste ano, este filme mostra-nos a dor e a tentativa de expiação pela assunção velada de culpa, decorrente de um erro de formulação de uma droga herbácea preparada com as melhores intenções mas donde resulta a morte e o sentimento de perda daí decorrente.
Kirsten Dunst, atriz americana de ascendência germânica, não é propriamente uma novata nestas andanças, (tem um papel semelhante em “Melancolia” de 2011) particularmente no que concerne ao tipo e qualidade variável de muitas das interpretações a que dá corpo. Mostra-nos neste filme, no papel de Theresa, a desorientação alienante de quem sabe o que fez, embora sem o querer admitir na realidade dos dias, das noites sem sono, dos tempos de viagem por uma realidade alternativa em que tenta provar a si própria, não ter cometido os atos de que é suspeita.
A ação decorre nas florestas de coníferas da Califórnia, no meio da atividade de corte e preparação da madeira para construção, transmitindo-nos a rudeza do trabalho e conferindo à alienação de Theresa, nas suas fugas à realidade e refúgio entre as árvores, a entrega á natureza do seu destino, da sua punição, da sua perturbação obsessiva em sonhos de levitação, de ascendência a locais superiores da existência que compensem o sentimento de perda irrevogável que provocou, sem contudo assumir na sua consciência o erro que de facto cometeu.
As irmãs; Kate Mulleavy e Laura Mulleavy, designers de moda profissionais, decidiram desviar-se da sua zona de conforto assumindo esta sua primeira realização, nesta obra de cariz contemplativo e diálogo difícil com o espectador, na medida em que o convidam em interiorizar o drama da personagem sem todavia lhe dar outros elementos para além da solidão de Theresa, no seu constante imobilismo facial, em expressões de tristeza, interioridade ou alienação drogada, em que se vê a si própria em lugares e conversas irreais que confundem a transmissão da mensagem.
É todavia uma história de drama, de descida aos infernos da alma humana, perturbada na sua capacidade de cognição do real, despida do discernimento inerente à sanidade mental, imprescindível á compreensão dos eventos dolorosos que nos tiram a paz espiritual e a saúde. Tudo se precipita no final para continuar impune a alienação do início, difícil de ver e confuso de entender todo o esoterismo da mensagem.

Classificação: 4 numa escala de 10