7 de dezembro de 2017

Opinião – “Woodshock” de Kate & Laura Mulleavy

Sinopse

Theresa (Kirsten Dunst) vive assombrada por uma profunda perda e encontra-se no precário limbo entre um estado emocional fraturado e os efeitos psicadélicos de uma potente droga derivada da canábis. Uma hipnotizante exploração do isolamento, da paranóia e da dor num mundo fantasioso de sonhos, WOODSHOCK é uma experiência imersiva, encantadora e sublime, que transcende o seu género para se tornar numa singular e empolgante experiência cinematográfica que assinala as irmãs Mulleavy como importantes emergentes vozes do cinema contemporâneo.

Opinião por Artur Neves

Estreado em 4 de setembro na 74ª edição do renascido Festival de Cinema de Veneza decorrido entre 30 de Agosto e 9 de Setembro deste ano, este filme mostra-nos a dor e a tentativa de expiação pela assunção velada de culpa, decorrente de um erro de formulação de uma droga herbácea preparada com as melhores intenções mas donde resulta a morte e o sentimento de perda daí decorrente.
Kirsten Dunst, atriz americana de ascendência germânica, não é propriamente uma novata nestas andanças, (tem um papel semelhante em “Melancolia” de 2011) particularmente no que concerne ao tipo e qualidade variável de muitas das interpretações a que dá corpo. Mostra-nos neste filme, no papel de Theresa, a desorientação alienante de quem sabe o que fez, embora sem o querer admitir na realidade dos dias, das noites sem sono, dos tempos de viagem por uma realidade alternativa em que tenta provar a si própria, não ter cometido os atos de que é suspeita.
A ação decorre nas florestas de coníferas da Califórnia, no meio da atividade de corte e preparação da madeira para construção, transmitindo-nos a rudeza do trabalho e conferindo à alienação de Theresa, nas suas fugas à realidade e refúgio entre as árvores, a entrega á natureza do seu destino, da sua punição, da sua perturbação obsessiva em sonhos de levitação, de ascendência a locais superiores da existência que compensem o sentimento de perda irrevogável que provocou, sem contudo assumir na sua consciência o erro que de facto cometeu.
As irmãs; Kate Mulleavy e Laura Mulleavy, designers de moda profissionais, decidiram desviar-se da sua zona de conforto assumindo esta sua primeira realização, nesta obra de cariz contemplativo e diálogo difícil com o espectador, na medida em que o convidam em interiorizar o drama da personagem sem todavia lhe dar outros elementos para além da solidão de Theresa, no seu constante imobilismo facial, em expressões de tristeza, interioridade ou alienação drogada, em que se vê a si própria em lugares e conversas irreais que confundem a transmissão da mensagem.
É todavia uma história de drama, de descida aos infernos da alma humana, perturbada na sua capacidade de cognição do real, despida do discernimento inerente à sanidade mental, imprescindível á compreensão dos eventos dolorosos que nos tiram a paz espiritual e a saúde. Tudo se precipita no final para continuar impune a alienação do início, difícil de ver e confuso de entender todo o esoterismo da mensagem.

Classificação: 4 numa escala de 10

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