Sinopse
Theresa (Kirsten Dunst) vive assombrada por uma
profunda perda e encontra-se no precário limbo entre um estado emocional
fraturado e os efeitos psicadélicos de uma potente droga derivada da canábis.
Uma hipnotizante exploração do isolamento, da paranóia e da dor num mundo fantasioso
de sonhos, WOODSHOCK é uma experiência imersiva, encantadora e sublime, que
transcende o seu género para se tornar numa singular e empolgante experiência
cinematográfica que assinala as irmãs Mulleavy como importantes emergentes
vozes do cinema contemporâneo.
Opinião
por Artur Neves
Estreado em 4 de setembro na
74ª edição do renascido Festival de Cinema de Veneza decorrido entre 30 de
Agosto e 9 de Setembro deste ano, este filme mostra-nos a dor e a tentativa de expiação
pela assunção velada de culpa, decorrente de um erro de formulação de uma droga
herbácea preparada com as melhores intenções mas donde resulta a morte e o
sentimento de perda daí decorrente.
Kirsten Dunst, atriz
americana de ascendência germânica, não é propriamente uma novata nestas
andanças, (tem um papel semelhante em “Melancolia” de 2011) particularmente no que
concerne ao tipo e qualidade variável de muitas das interpretações a que dá
corpo. Mostra-nos neste filme, no papel de Theresa, a desorientação alienante
de quem sabe o que fez, embora sem o querer admitir na realidade dos dias, das
noites sem sono, dos tempos de viagem por uma realidade alternativa em que
tenta provar a si própria, não ter cometido os atos de que é suspeita.
A ação decorre nas florestas
de coníferas da Califórnia, no meio da atividade de corte e preparação da madeira
para construção, transmitindo-nos a rudeza do trabalho e conferindo à alienação
de Theresa, nas suas fugas à realidade e refúgio entre as árvores, a entrega á natureza
do seu destino, da sua punição, da sua perturbação obsessiva em sonhos de
levitação, de ascendência a locais superiores da existência que compensem o
sentimento de perda irrevogável que provocou, sem contudo assumir na sua consciência
o erro que de facto cometeu.
As irmãs; Kate Mulleavy e
Laura Mulleavy, designers de moda profissionais,
decidiram desviar-se da sua zona de conforto assumindo esta sua primeira
realização, nesta obra de cariz contemplativo e diálogo difícil com o
espectador, na medida em que o convidam em interiorizar o drama da personagem
sem todavia lhe dar outros elementos para além da solidão de Theresa, no seu constante
imobilismo facial, em expressões de tristeza, interioridade ou alienação drogada,
em que se vê a si própria em lugares e conversas irreais que confundem a transmissão
da mensagem.
É todavia uma história de
drama, de descida aos infernos da alma humana, perturbada na sua capacidade de cognição
do real, despida do discernimento inerente à sanidade mental, imprescindível á
compreensão dos eventos dolorosos que nos tiram a paz espiritual e a saúde. Tudo
se precipita no final para continuar impune a alienação do início, difícil de
ver e confuso de entender todo o esoterismo da mensagem.
Classificação: 4 numa escala
de 10
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