30 de novembro de 2017

Opinião – “Geostorm – Ameaça Global” de Dean Devlin

Sinopse

Depois de inúmeros desastres naturais terem ameaçado o planeta, os líderes mundiais uniram-se para criar uma rede interligada de satélites para controlar o clima global e manter a humanidade a salvo. Mas agora, algo está errado o sistema construído para proteger a terra está agora a atacá-la, e é uma corrida contra o relógio para revelar o verdadeiro problema, antes que uma tempestade mundial destrua tudo...e toda a gente.

Opinião por Artur Neves

Este é mais um filme catástrofe, limitada aos estragos mínimos por um mais um herói abnegado de histórias que associam o avanço tecnológico e o futuro aos potenciais malefícios dessa mesma tecnologia que se prepara para nos aniquilar a todos. Só é pena que façam essa associação de forma tão linear, improvável e previsível, denunciando claramente o fim esperado que tira toda a “pica” que uma história destas é destinada a provocar.
Dean Devlim, estreia-se neste filme como realizador, todavia ele não é propriamente um novato nestas coisas, considerando que no seu curriculum de produtor tem obras como “Dia da Independência” de 1996 e 2016 (o primeiro melhor do que o segundo) “Godzila” de 1998 ou “Stargate” de 1994 mas a abordagem que faz neste filme, da tecnologia de controlo do clima e do seu efeito perverso no caso de provocação deliberada de mau funcionamento do sistema, é infantil e mais voltada para o sensacionalismo rasteiro, com a lágrima no canto do olho, do que uma simulação adulta de um problema relevante e atual no tempo que vivemos.
Os efeitos especiais de catástrofe são o prato forte desta história, bem como a estação espacial onde quase toda a história se desenrola mas o argumento que a suporta e a ação que que nos mostram não têm espessura, nem drama real, nem causam a emoção pretendida com tanta parafernália por manifesta falta de autenticidade.
Gerard Butler representa o herói abnegado, empenhado até ao sacrifício da própria vida para salvar o planeta mas de uma maneira que ninguém acredita porque todo o desenvolvimento da ação não conduz a esse sacrifício, não está no espírito, não faz parte dos “genes” da trama de bastidores que envolve o presidente e o vice-presidente dos USA como causadores do desastre de que eles próprios seriam também vítimas. Apesar da urgência do assunto abordado, há sempre oportunidade para a novela fácil, para a lamecha, para o brique-a-braque dos sentimentos comezinhos que induzem a pena ou a compaixão por uma fantasia.
No final, a salvação de tudo e de todos, como aliás já era esperado desde o princípio, é conseguida de uma maneira surpreendentemente pífia que a única coisa que se salva são mesmo os efeitos especiais, mas mesmo esses, têm aspetos intragáveis. Ver só se não houver mais nada de interessante para fazer.

Classificação: 4 numa escala de 10

26 de novembro de 2017

Opinião – “A Montanha entre Nós” de Hany Abu-Assad

Sinopse

Após um trágico acidente de avião, dois estranhos terão de se unir para sobreviver em condições extremas numa remota montanha.
Quando percebem que a ajuda não vai chegar, decidem embarcar numa viagem assustadora por centenas de quilómetros de terra selvagem, encorajando-se mutuamente para aguentar e abrindo espaço para uma atração inesperada. Realizado pelo nomeado Óscar da Academia Hanny Abu-Assad e interprestado pela vencedora do Óscar da Academia Kate Winslet e o vencedor do Globo de ouro Idris Elba.

Opinião por Artur Neves

Hany Abu-Assad, realizador Israelita nascido em 1961 deu-nos em 2005 “Paradise Now” que estabeleceu um marco distintivo numa carreira que prometia maiores voos do que veio a verificar-se posteriormente. O filme reporta-se à catequização dogmática dos aspirantes a mártires pelo Islão, mostrando um exemplo, bem estruturado e credível, do caminho de sofrimento por onde eles são conduzidos até carregarem no botão fatídico que os faz explodir. Porém, depois desta obra e por motivos que desconhecemos, Abu-Assad infletiu a trajetória e dedicou-se a temas bem menos fraturantes, tais como “Omar” em 2011, “O Ídolo” em 2015 e em 2017 este “A Montanha entre Nós”, na mesma toada romanesca dos anteriores, no género fácil, com laivos de épico, que de original apenas tem o ambiente gelado onde o romance se desenvolve.
Também não se percebe como dois atores com créditos firmados, “contribuem para este peditório”, emprestando o seu talento a uma historieta, barata, convencional, de moral tradicional e com um epílogo digno de novela Mexicana, que apesar de não revelarmos deixamos o aviso.
Á partida poder-se-á pensar que se trata de uma aventura de abnegação e sobrevivência, num ambiente hostil e selvagem em que a imensidão dos espaços filmados por Mandy Walker poderia emprestar uma carga de temor e solidão naquela montanha branca e gelada, mas nada disso acontece e corre tudo muito direitinho, incluindo a proverbial curiosidade feminina que seria lógico ter preocupações diferentes, considerando o risco de vida que enfrentavam, mas não, e quando as coisas têm de descambar para o chinelo, descambam mesmo.
O terceiro personagem para compor a história é um cão, de raça labrador, pertencente a Ben (Idris Elba) que este leva no fatídico voo fretado, pilotado por Walter (Beau Bridges) e que sofre um ataque cardíaco na viagem, provocando o desastre no pico de uma montanha gelada e deixando ao seu destino Ben e Alex (Kate Winslet) que entre dor e medo do ataque de animais selvagens, constroem uma relação conturbada, de apoio mútuo mas também de divergência, justificado pelo espírito de sobrevivência e pelo medo que a incapacidade de reagir contra os elementos confere.
É pois neste caldo de natureza em forma pura que se desenvolve esta história, que depois de vários eventos dolorosos mas pouco verosímeis, nos querem “vender” este enredo pouco realista que se embrenha nos seus “rodriguinhos” de cordel, num filme que tinha tudo para ser bem sucedido. Valem as interpretações dos atores, as paisagens imensas e uma fotografia competente e estimulante que se desfruta no conforto do cinema, indo para eles a classificação indicada.

Classificação: 5 numa escala de 10

24 de novembro de 2017

Opinião – “A Estrela de Natal” de Timothy Reckart

Sinopse

Neste filme da Sony Animation Studios, um pequeno mas valente burro, chamado Bo, sonha com uma vida para além da existência corriqueira na sua aldeia.
Um dia ganha coragem para se libertar e inicia a aventura dos seus sonhos. Na sua viagem junta-se a Ruth, uma adorável ovelha que se perdeu do rebanho e a Dave, um pombo com grandes ambições.
Juntamente com três camelos sábios e outros tantos excêntricos animais do estábulo, Bo e os seus novos amigos seguem a Estrela e tornam-se os improváveis heróis na maior história alguma vez contada – o primeiro Natal.

Opinião por Artur Neves

De responsável pela animação de “Anomalisa” o excelente filme de animação sobre egoísmo e solidão premiado nos Óscares de 2015, Timothy Reckart assume-se agora como realizador de nova animação, dedicada à quadra natalícia de 2017, onde conta de maneira renovada a história conhecida pela generalidade dos católicos referente ao nascimento de Jesus Cristo e bem assim, ao milagre de Natal celebrado em todo o mundo católico em 25 de dezembro.
Como á fácil de intuir a história é tudo menos nova, já vai com 2017 anos, (e recomenda-se) dedicada fundamentalmente ao público infantil ainda com o encantamento da ignorância ingénua, considerando a forma linear e superficial da narrativa.
Para animar a “festa”, porque o tema central só por si não seria capaz de encher o tempo de filme, Reckart socorre-se da presença criativa dos animais que vão compor o presépio final, o burro e a vaca, acompanhados de outros parceiros de peripécias várias e aventuras de percurso, todas ingénuas e muito simples, que compõem a viagem de Maria e José até Belém da Samaria, e finalmente ao estábulo, onde tradicionalmente se atribui o nascimento de Jesus. (Não o Jorge, esse nasceu na Amadora).
O filme começa pela Anunciação do Espírito Santo a Maria, de ter sido a escolhida por Deus para mãe do seu filho homem, o que esta aceita embevecida com a notícia, sete meses antes de se casar com José, carpinteiro de profissão, ao qual só é revelada a paternidade antecipada, depois do casamento, durante a noite de núpcias em que Maria se assume como virgem grávida de Jesus e José aceita como uma dádiva de amor divino… Confuso?... Nada disso caro leitor, com certeza que já deve ter havido um tempo em que lhe contaram esta história, só que agora mostram-lha de forma animada e colorida.
“A Estrela de Natal” é assim um filme para toda a família, particularmente para os mais pequeninos, que vão delirar, com o protagonismo do burro Bo, o pombo Dave, a ovelha Ruth, três camelos e dois cães muito maus que no fim se convertem à bondade extrema. Desta forma os anjos estarão na plateia muito sossegadinhos, de olhos esbugalhados, fixos em tanta beleza ingénua durante 86 minutos em que o caro leitor poderá respirar descansado. Recomendo para esta quadra festiva.

Classificação: 5 numa escala de 10

15 de novembro de 2017

Opinião – “A Torre Negra” de Nikolaj Arcel

Sinopse

Há outros mundos para além deste. No filme A Torre Negra de Stephen King, a original história de um dos mais conceituados autores mundiais, chega ao grande ecrã. O Pistoleiro Cavaleiro, Roland Deschain (Idris Elba), encontra-se preso numa batalha eterna com Walter O’Dim, também conhecido como o Homem de Negro (Matthew McConaughey), e decidido a impedi-lo de destruir a Torre Negra que mantém a unidade do Universo. Com o destino do mundo em jogo, o bem e o mal colidem numa derradeira batalha onde apenas Roland pode defender a Torre do Homem de Negro.

Opinião por Artur Neves

Esta é uma adaptação de mais uma obra de Stephen King, autor americano com cerca de quarenta adaptações ao cinema de obras suas, sendo umas por ele próprio, outras por outros e ainda outras por ambos, devido à sua discordância com as versões resultantes da interpretação dos outros sobre as suas obras o que indicia a dificuldade da extração da essência de conteúdos escritos por Stephen King, por serem todos constituídos por personagens profundamente complexas.
Baseado numa obra complexa o filme é todavia bem simples, direi mesmo, básico, porque assenta no eterno confronto entre o bem e o mal, corporizados no temido Homem de Negro que procura destruir a dita “Torre Negra”, que representa a última linha de defesa do universo e num psicologicamente perturbado Pistoleiro, atormentado por questões existenciais relacionados com a missão para a qual se sente incapaz de concretizar e que se resume precisamente à defesa da referida “Torre Negra”. O seu improvável “ajudante” e motivador é um jovem rapaz, que a partir de determinada altura é assaltado por sonhos realistas passados num mundo paralelo para onde ele se transmuta durante o sono para servir de apoio ao perturbado Pistoleiro.
Para contar esta salganhada improvável, o filme toma a forma de uma aventura genérica de ficção/fantasia, baseada nas trivialidades do género, sem rasgo nem brilho, sem qualquer novidade digna de nota e com propensão para ser considerado um filme destinado a encantar os jovens, mais propensos a dicotomias simples, bem definidas e seguramente representadas por duas personagens que não deixam dúvidas de quem, apesar de todas as vicissitudes, vai sair vencedor do duelo.
Salvam-se os efeitos especiais de que o filme se socorre e dos dois personagens bem caracterizados e interpretados por Matthew McConaughey e Idris Elba, muito particularmente o segundo, já que ao primeiro basta-lhe ser altivo e arrogante como cabe a todos os vilões.
Considerando que Stephen King discordou da realização de Stanley Kubrick no filme; “The Shining” de 1980 e realizou uma versão de sua própria autoria, menos interessante e fastidiosa, refira-se, vejamos o que acontecerá com esta versão cinematográfica de mais um romance seu. A classificação atribuída vai direitinha para os efeitos especiais e desempenho dos atores, porque no resto da história é verdadeiramente pobre.

Classificação: 4 numa escala de 10

6 de novembro de 2017

Opinião – “Mães à Solta 2” de Jon lucas e Scott Moore

Sinopse

Mães à Solta 2 continua com as nossas três amigas que apesar de sobrecarregadas da trabalho não perdem a sua loucura e boa disposição. Nas vésperas da organização do maior evento do ano: o Natal, o feriado mais perfeito de todos para as suas famílias, elas recebem a visita das suas mães! Estas visitas tornam as suas vidas num caos, mas as três amigas unem-se para tentar voltar a ter um natal divertido!

Opinião por Artur Neves

Temos na primeira quinzena de novembro a nossa primeira história de Natal a chamar a atenção para um evento que se realizará na última semana de dezembro. Idiossincrasias da atividade comercial sempre ávida por eventos que levem ao consumo, bem ilustrado pelas múltiplas sugestões que nos são expressamente apresentadas e sugeridas sem rodeios, todavia com graça e alguma inteligência o que já nem é mau.
A história serve-se de três estereótipos maternos bem conhecidos, a saber; a mãe snob, a mãe galinha e a mãe displicente, interagindo com as suas respetivas proles, também elas do sexo feminino e também mães de outros filhos ainda em idade escolar.
Á boa maneira do cinema americano, as relações entre todas (cada uma com a sua, claro) são mais ou menos conflituosas, servindo como introdução para a componente de terapia psicológica de origem Freudiana como está bem de ver. A abordagem aos conflitos é moderna, descomplexada e francamente erótica em algumas cenas, o que apesar do tema natalício de que o argumento se serve, poderá não provocar muitos sorrisos aos mais conservadores que do Natal têm outra perspetiva.
Mas ainda assim está lá tudo; a celebração católica do Natal com todos os seus sinais distintivos, o conflito geracional mãe filha, a supremacia feminina por herança e por direito de género, numa história em que o elemento masculino é completamente decorativo seguindo aliás a tendência atual do cinema americano, até em filmes de ação, veja-se o recente “Agente Especial” (“Atomic Blond” no original) de David Leitch com todos os ingredientes de uma James Bond no feminino mas sem um Bond boy.
Não obstante, as três histórias estão bem engendradas e interligadas pela amizade das filhas que provocam a interligação das mães e através de gags bem conseguidos, diálogos sem reservas nem falsos pudores e cenas picantes, provocam sorrisos e emoção pelas verdades que se dizem e pelas razões distribuídas que são alegadas por todas, cada uma por si com a sua verdade, como aliás acontece sempre na vida real.
A realização e a autoria do argumento são feitas a quatro mãos, as mesmas que anteriormente já produziu “A Ressaca” e suas sequelas, mas desta feita com mais inteligência, graça e um peculiar espírito natalício que nos diverte, dispõe bem e nos conduz ao âmago do Natal e á reconciliação que dele esperamos. A ver por pura diversão.

Classificação: 6 numa escala de 10