Sinopse
Balram Halwai (Adarsh Gourav)
narra sua ascensão épica e sombriamente humorística de pobre aldeão a
empresário de sucesso na Índia moderna. Astuto e ambicioso, nosso jovem herói
abre caminho para se tornar o motorista de Ashok (Rajkummar Rao) e Pinky (Priyanka
Chopra-Jonas), que acabavam de retornar da América. A sociedade treinou Balram
para ser uma coisa - um servo - então ele se torna indispensável para seus
mestres ricos. Mas depois de uma noite de traição, ele percebe o quão corrupto
eles são, ao ponto de o incriminar para se salvarem. À beira de perder tudo,
Balram se revolta contra este sistema fraudulento e desigual para se levantar e
se tornar um novo tipo de mestre. Baseado no best-seller do New York Times e no
romance vencedor do Prêmio Man Booker de 2008.
Opinião
por Artur Neves
A sociedade Indiana funciona
num sistema de castas que significa não haver transição possível ou fácil entre
os níveis sociais determinados pela origem do seu nascimento e este filme
mostra-nos com clareza o efeito devastador de um tal sistema onde todas as
pessoas não têm um meio de se livrar dele. Balram Halwai o protagonista da
história ilustra a certa altura o sistema de castas comparando-o a um
galinheiro pejado de galos e de galinhas e fechado à chave. Um dia porém a
chave perde-se com o galinheiro aberto mas os animais estão tão completamente
formatados à vida no galinheiro que nem mesmo com a porta aberta pensam em
fugir, continuando a viver no seu interior.
A história é narrada por
Balram e começa em 2010 em que ele nos conta como sendo um menino pobre no seio
de uma grande família de casta baixa, em que todos trabalham para a avó numa
banca de venda de chá, ascende a motorista de uma rica família de senhorios, donos
da terra que a família de Balran ocupa, numa existência miserável.
Nem sempre os filmes
narrados, ou a narração dos factos evidencia as questões essenciais como no
caso deste filme em que Balram nos alerta para o facto do sistema de castas, de
servos obedientes e dos seus senhores contribuir para a paz e a ordem, pois
declara-nos sem rodeios que “… detestamos os nossos mestres por trás de uma
fachada de amor ou os amamos por trás de uma fachada de ódio?...” que fará
sentido no momento em que nos é dito.
Bollywood não passou por
aqui com os seus romances de cordel, suas paixões lânguidas e seus heróis de
pantomima, nem este é um filme sobre um pobre inocente, nem tão pouco um “Quem
quer ser Milionário” que implicitamente Balram denigre, quando, ao nos relatar
o seu passado de pobreza nos diz “… não acredite por um segundo que existe um
jogo de um milhão de rupias que o resgata da sua condição se o ganhar…” pois
ele tem plena consciência que o seu lugar na casta onde nasceu não é mutável
pelos seus meios, porque a única maneira na Índia de chegar ao topo é pelo
crime ou pela política (não é só lá, mas isso Balram já não deve saber).
No seu lugar de motorista da
família, Balram aproxima-se do filho do patrão Ashok (Rajkummar Rao),que
regressou dos USA com sua mulher Pinky (Priyanka Chopra Jonas) que também ocupa
um lugar de relevo na história pela sua posição mais esclarecida, aberta e
independente relativamente a Ashok que apesar da sua formação ocidentalizada
não consegue libertar-se profundamente do sistema da casta onde pertence.
O casal até se entende bem
com Balram, e chama-o de “família” o que não impede porém que eles habitem um
andar de luxo e que Balram durma num catre sobre o pavimento da garagem, pejada
de baratas e mosquitos sem qualquer comodidade, com os outros motoristas dos
outros senhorios. Numa noite de descontração e álcool, Pinky protagoniza um
acidente fatal para terceiros, em que os senhores de Balram o pressionam para
assumir as culpas e ilibar a família. Pinky e Ashok inicialmente repudiam a
participação nesse esquema mas o poder da casta de Ashok não permite essa
mancha, mostrando que á sua maneira o sistema os deformou como fez com Balram,
só que em sentidos opostos. No fundo Pinky e Ashok até são boas pessoas mas a
tradição ancestral é mais poderosa.
Este evento, muda a
permissividade de Balram para com os seus senhores, ele não suporta pensar o
que poderia ter sido se não pertencesse à casta a que pertence e solta-se a
revolta. Antes disso, ele recorda as palavras do seu antigo professor ao saber
que ele vai abandonar a escola para trabalhar para a família. Este fica
admirado pelo seu potencial inato e apelida-o de “Tigre Branco”, um espécime
raro de felino que surge apenas uma vez em cada geração.
Muito bom, recomendo
vivamente, está disponível na plataforma Netflix
Classificação: 8 numa escala
de 10