28 de janeiro de 2021

Opinião – “News of the World” de Paul Greengrass

Sinopse

Cinco anos após o fim da Guerra Civil, o capitão Jefferson Kyle Kidd (Tom Hanks) cruza-se com uma menina de 10 anos Johanna (Helena Zengel) libertada pelo povo Kiowa que a tinha sequestrado. Forçada a retornar para sua família sobrevivente, Kidd concorda em escoltar a criança através das planícies severas e implacáveis do Texas. No entanto, a longa jornada logo se transforma em uma luta pela sobrevivência, pois os dois companheiros de viagem encontram o perigo a cada passo – tanto humano quanto natural.

Opinião por Artur Neves

Em ritmo de western pacato, este “Notícias do Mundo”, em tradução livre, mostra-nos um Tom Hanks na pele de um Captain Kidd, ex-combatente na guerra civil americana, em modo de avô paternal durante uma viagem pelo selvagem estado do Texas para entregar uma miúda emigrante alemã, órfã de pais, aos seus tios ainda vivos a seiscentos km de distância.

A história baseia-se no romance de Paulette Jiles, uma historiadora especialista na guerra civil americana e atualmente residente no estado do Texas, que tem no seu curriculum diversos escritos sobre este conflito e cuja escolha se centrou neste conto carregado de revisionismo sobre a crueza dessa guerra, amenizada pelo excelente desempenho de Tom Hanks na personagem de um militar de regresso ao lar (desfeito, como viremos a saber depois) que auto assume a paternalista tarefa de servir de guardião a uma menina, já sem referencias da sua origem e em estado de transição para a comunidade e cultura Kiowa que a sequestrou, depois de matar os seus pais.

Hanks sempre nos habituou a boas interpretações e neste filme não foge à regra transmitindo-nos a ideia de homem comum, de caráter sólido e íntegro, cheio de ideias nobres ocupando-se com a tarefa de fazer de leitor de jornais da civilização, à luz de lampiões, aos imigrantes analfabetos que habitam as cidades por onde passa no caminho para casa. O Captain Kidd já não usa armas de guerra, tendo substituído as munições por cartuchos de granalha esférica para matar pardais, pelo que nos transmite a sensação de que Johanna está em boas mãos e tudo vai correr conforme previsto.

As reações dos ouvintes são diversas, de acordo com as fações que apoiaram durante a guerra e quando alguns texanos criticam as opções do norte aí temos o calmo e seguro Captain Kidd a apaziguar as hostes com histórias que divertem e informam sobre a nova ordem que impera no novo país unificado. Ele não poderia imaginar que os netos e bisnetos dos seus ouvintes contestatários haveriam de votar em Donald Trump 150 anos depois… mas isso já faz parte de outra história.

Twists, só os que Luke Davis que adaptou o romance original para argumento cinematográfico achou convenientes para não adormecermos durante o visionamento desta realização do britânico Paul Greengrass que já teve melhores dias nas suas histórias se nos lembrarmos por exemplo da saga “Jason Bourne” (“Identidade Desconhecida”, “Supremacia” e “Ultimato”) ou “Voo 93” de 2006 ou mesmo “Capitão Phillips” em 2013 com Tom Hanks já a pensar na reforma, embora ainda com garra.

A história relata-nos as peripécias da viagem do honorável Captain Kidd depois de encontrar a menina abandonada no deserto ao sul de Wichita Falls e de assumir a sua guarda até a entregar à sua família, só que, o seu próprio retorno à casa e à mulher que deixou para se alistar na guerra não correspondem ao que esperava. Pelo lado de Johanna as coisas também não se afiguram melhores com os seus tios e é então que o coração fala mais alto e Kidd tenta um novo recomeço a dois com esta parceira inesperada ao seu cuidado.

Para ao mais cinéfilos este filme é de alguma maneira uma homenagem a John Wayne no filme “A Desaparecida” de 1956 o que todavia me parece injusto pois o trabalho de Hanks é sólido, bem como o de Helena Zengel, que com uma expressiva juventude nos convence de quem não é, representando com segurança o seu trauma e a aculturação recebida, que os salva em situações de aperto. É um retrato duma época dos USA e como tal deve ser encarado.

Classificação: 6 numa escala de 10

 

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