Sinopse
Cinco anos após o fim da
Guerra Civil, o capitão Jefferson Kyle Kidd (Tom Hanks) cruza-se com uma menina
de 10 anos Johanna (Helena Zengel) libertada pelo povo Kiowa que a tinha
sequestrado. Forçada a retornar para sua família sobrevivente, Kidd concorda em
escoltar a criança através das planícies severas e implacáveis do Texas. No
entanto, a longa jornada logo se transforma em uma luta pela sobrevivência,
pois os dois companheiros de viagem encontram o perigo a cada passo – tanto
humano quanto natural.
Opinião
por Artur Neves
Em ritmo de western pacato,
este “Notícias do Mundo”, em tradução livre, mostra-nos um Tom Hanks na pele de
um Captain Kidd, ex-combatente na guerra civil americana, em modo de avô
paternal durante uma viagem pelo selvagem estado do Texas para entregar uma
miúda emigrante alemã, órfã de pais, aos seus tios ainda vivos a seiscentos km
de distância.
A história baseia-se no
romance de Paulette Jiles, uma historiadora especialista na guerra civil
americana e atualmente residente no estado do Texas, que tem no seu curriculum
diversos escritos sobre este conflito e cuja escolha se centrou neste conto
carregado de revisionismo sobre a crueza dessa guerra, amenizada pelo excelente
desempenho de Tom Hanks na personagem de um militar de regresso ao lar
(desfeito, como viremos a saber depois) que auto assume a paternalista tarefa
de servir de guardião a uma menina, já sem referencias da sua origem e em
estado de transição para a comunidade e cultura Kiowa que a sequestrou, depois
de matar os seus pais.
Hanks sempre nos habituou a
boas interpretações e neste filme não foge à regra transmitindo-nos a ideia de
homem comum, de caráter sólido e íntegro, cheio de ideias nobres ocupando-se
com a tarefa de fazer de leitor de jornais da civilização, à luz de lampiões, aos
imigrantes analfabetos que habitam as cidades por onde passa no caminho para
casa. O Captain Kidd já não usa armas de guerra, tendo substituído as munições
por cartuchos de granalha esférica para matar pardais, pelo que nos transmite a
sensação de que Johanna está em boas mãos e tudo vai correr conforme previsto.
As reações dos ouvintes são
diversas, de acordo com as fações que apoiaram durante a guerra e quando alguns
texanos criticam as opções do norte aí temos o calmo e seguro Captain Kidd a
apaziguar as hostes com histórias que divertem e informam sobre a nova ordem que
impera no novo país unificado. Ele não poderia imaginar que os netos e bisnetos
dos seus ouvintes contestatários haveriam de votar em Donald Trump 150 anos
depois… mas isso já faz parte de outra história.
Twists, só
os que Luke Davis que adaptou o romance original para argumento cinematográfico
achou convenientes para não adormecermos durante o visionamento desta
realização do britânico Paul Greengrass que já teve melhores dias nas suas
histórias se nos lembrarmos por exemplo da saga “Jason Bourne” (“Identidade
Desconhecida”, “Supremacia” e “Ultimato”) ou “Voo 93” de 2006 ou mesmo “Capitão
Phillips” em 2013 com Tom Hanks já a pensar na reforma, embora ainda com garra.
A história relata-nos as
peripécias da viagem do honorável Captain Kidd depois de encontrar a menina
abandonada no deserto ao sul de Wichita Falls e de assumir a sua guarda até a
entregar à sua família, só que, o seu próprio retorno à casa e à mulher que
deixou para se alistar na guerra não correspondem ao que esperava. Pelo lado de
Johanna as coisas também não se afiguram melhores com os seus tios e é então
que o coração fala mais alto e Kidd tenta um novo recomeço a dois com esta
parceira inesperada ao seu cuidado.
Para ao mais cinéfilos este
filme é de alguma maneira uma homenagem a John Wayne no filme “A Desaparecida”
de 1956 o que todavia me parece injusto pois o trabalho de Hanks é sólido, bem
como o de Helena Zengel, que com uma expressiva juventude nos convence de quem
não é, representando com segurança o seu trauma e a aculturação recebida, que
os salva em situações de aperto. É um retrato duma época dos USA e como tal
deve ser encarado.
Classificação: 6 numa escala
de 10
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