20 de janeiro de 2021

Opinião – “Locked Down” de Doug Liman

Sinopse

Quando se decidem separar, Linda (Anne Hathaway) e Paxton (Chiwetel Ejiofor) descobrem que a vida tem outros planos quando estão presos em casa devido a um bloqueio obrigatório. A coabitação está a revelar-se um desafio, mas alimentada pela poesia e por grandes quantidades de vinho, irá aproximá-los da forma mais surpreendente.

Opinião por Artur Neves

Temos aqui um filme de época, da nossa época, destes tempos de confinamento para combater um contágio que se intensifica e que se tem revelado sempre crescente, recheado de medidas insuficientes para o combater e de promessas adiadas na mirífica vacina que tarda em se afirmar como solução.

Linda e Paxton são um casal em confinamento numa Londres deserta, cuja relação já teve melhores dias e que agora a permanente obrigação de presença constante revela as suas fragilidades e impossibilidades de recuperação que não são atenuadas pelo vinho tomado em quantidades significativas. As diferenças entre ambos são irreconciliáveis, ela, executiva de uma empresa de segurança e ele, motorista de uma empresa transportadora. Perderam-se de encantos um com o outro quando ela, cansada da escravização à sua agenda e aos seus compromissos profissionais encontrou nele a liberdade e um lado selvagem da vida sobre uma mota de alta cilindrada à desfilada pelas estradas do mundo.

Porém, na presente situação vedada à vertigem da velocidade, quando a opulenta loja Harrods (que permite a filmagem do seu interior pela primeira vez) é forçada a fechar portas e a empacotar nos armazéns da cave toda a sua existência de bens como precaução para roubos e pilhagens, quando as ruas estão desertas e os ocupantes dos prédios cantam loas à janela homenageando os trabalhadores do Serviço Nacional de Saúde (onde é que eu já vi isto?…) e Paxton sai para a rua para declamar poemas que encontra no seu telemóvel, enquanto Linda prepara através do Zoom, em múltiplas reuniões com os seus pares na empresa e com os clientes, a transferência para os USA de um valioso diamante adquirido por um comprador duvidoso… surge uma ideia que vai animar as suas vidas.

Doug Liman é um produtor e realizador com créditos firmados em filmes de ação e aventura, particularmente em associação com Tom Cruise, com quem colabora atualmente em mais uma realização para filmar em órbita, pelo que não nos surpreende este seu desafio consumado logo após o início da pandemia e em período de quarentena quando a obrigação de ficar em casa e receber as suas compras em casa era uma absoluta novidade a que gradualmente nos foram habituando… ou não…

Com todas as novidades emergentes da pandemia surge esta história centrada num casal divergente, na forma de comédia acre que combina um romance em extinção com o ambiente de thriller ligeiro criando um ambiente de suspense que o realizador dirigiu para a ansiedade decorrente do desentendimento do casal e não para ação em si.

Ambos estão frustrados com as suas carreiras, ela desencantada com a falta de desafios no seu trabalho, ele sem ver qualquer futuro naquele lugar que o obriga a levantar cedo, todavia habitam uma confortável casa em Londres e desfrutam de um frondoso quintal que serve de palco às suas disputas e desentendimentos. Acusam-se mutuamente de infelicidade esquecendo os realmente infelizes e procuram algo que de novo os empolgue, porque o que está realmente em jogo é a sobrevivência do relacionamento em si sendo aqui que a história descamba para o romance. Porém, o seu enredo funcional, uma interpretação bem defendida e alguns detalhes inteligentes sobre o comportamento errático desta pandemia justificam o seu visionamento e diverte durante o tempo que dura.

Disponível na plataforma HBO max

Classificação: 6 numa escala de 10

 

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