Sinopse
Quando se decidem separar,
Linda (Anne Hathaway) e Paxton (Chiwetel Ejiofor) descobrem que a vida tem
outros planos quando estão presos em casa devido a um bloqueio obrigatório. A
coabitação está a revelar-se um desafio, mas alimentada pela poesia e por
grandes quantidades de vinho, irá aproximá-los da forma mais surpreendente.
Opinião
por Artur Neves
Temos aqui um filme de
época, da nossa época, destes tempos de confinamento para combater um contágio
que se intensifica e que se tem revelado sempre crescente, recheado de medidas
insuficientes para o combater e de promessas adiadas na mirífica vacina que
tarda em se afirmar como solução.
Linda e Paxton são um casal em
confinamento numa Londres deserta, cuja relação já teve melhores dias e que
agora a permanente obrigação de presença constante revela as suas fragilidades e
impossibilidades de recuperação que não são atenuadas pelo vinho tomado em
quantidades significativas. As diferenças entre ambos são irreconciliáveis, ela,
executiva de uma empresa de segurança e ele, motorista de uma empresa
transportadora. Perderam-se de encantos um com o outro quando ela, cansada da escravização
à sua agenda e aos seus compromissos profissionais encontrou nele a liberdade e
um lado selvagem da vida sobre uma mota de alta cilindrada à desfilada pelas estradas
do mundo.
Porém, na presente situação
vedada à vertigem da velocidade, quando a opulenta loja Harrods (que permite a
filmagem do seu interior pela primeira vez) é forçada a fechar portas e a
empacotar nos armazéns da cave toda a sua existência de bens como precaução
para roubos e pilhagens, quando as ruas estão desertas e os ocupantes dos
prédios cantam loas à janela homenageando os trabalhadores do Serviço Nacional
de Saúde (onde é que eu já vi isto?…) e Paxton sai para a rua para declamar
poemas que encontra no seu telemóvel, enquanto Linda prepara através do Zoom,
em múltiplas reuniões com os seus pares na empresa e com os clientes, a transferência
para os USA de um valioso diamante adquirido por um comprador duvidoso… surge
uma ideia que vai animar as suas vidas.
Doug Liman é um produtor e
realizador com créditos firmados em filmes de ação e aventura, particularmente em
associação com Tom Cruise, com quem colabora atualmente em mais uma realização
para filmar em órbita, pelo que não nos surpreende este seu desafio consumado
logo após o início da pandemia e em período de quarentena quando a obrigação de
ficar em casa e receber as suas compras em casa era uma absoluta novidade a que
gradualmente nos foram habituando… ou não…
Com todas as novidades
emergentes da pandemia surge esta história centrada num casal divergente, na
forma de comédia acre que combina um romance em extinção com o ambiente de thriller ligeiro criando um ambiente de
suspense que o realizador dirigiu para a ansiedade decorrente do desentendimento
do casal e não para ação em si.
Ambos estão frustrados com
as suas carreiras, ela desencantada com a falta de desafios no seu trabalho,
ele sem ver qualquer futuro naquele lugar que o obriga a levantar cedo, todavia
habitam uma confortável casa em Londres e desfrutam de um frondoso quintal que
serve de palco às suas disputas e desentendimentos. Acusam-se mutuamente de
infelicidade esquecendo os realmente infelizes e procuram algo que de novo os
empolgue, porque o que está realmente em jogo é a sobrevivência do
relacionamento em si sendo aqui que a história descamba para o romance. Porém, o
seu enredo funcional, uma interpretação bem defendida e alguns detalhes
inteligentes sobre o comportamento errático desta pandemia justificam o seu
visionamento e diverte durante o tempo que dura.
Disponível na plataforma HBO
max
Classificação: 6 numa escala
de 10
Sem comentários:
Enviar um comentário