21 de março de 2017

Opinião – “Vida Inteligente” de Daniel Espinosa


Sinopse

“Vida Inteligente” conta-nos a história dos seis membros da tripulação da Estação Espacial Internacional no momento em que a mesma se depara com uma das mais importantes descobertas na história da humanidade: a primeira prova da existência de vida extraterrestre em Marte.
À medida que a tripulação inicia a pesquisa, os seus métodos acabam por ter consequências indesejadas e a forma de vida mostra ser mais inteligente do que alguma vez esperaram…

Opinião por Artur Neves

O limite do nosso conhecimento atinge o princípio do desconhecido quando os acontecimentos atuais diferem substancialmente das nossas expectativas, baseadas no raciocínio lógico do nosso pensamento.
A frase anterior pode resumir toda a história contida neste filme de Daniel Espinosa, realizador Sueco que já nos apresentou dois bons trabalhos anteriores, em 2012; “Detenção de Risco” e 2015; “A Criança nº 44” e traz-nos agora uma história totalmente passada a bordo da EEI (Estação Espacial Internacional) que por ser uma realidade a pairar continuamente sobre as nossas cabeças dando 16 voltas por dia ao nosso planeta, constitui uma “ficção” muito colada à realidade, não fora a presença de um ser alienígena empenhado em nos mostrar que a dimensão do nosso conhecimento científico da vida, como uma força emergente, é muito inferior ao que não conhecemos sobre a sua capacidade de resistência.
Toda a história é vivida por seis astronautas residentes na EEI, vivendo em regime de imponderabilidade, cumprindo os protocolos de controlo de orbita e de segurança a bordo transmitindo-nos um realismo muito credível da atividade espacial do nosso tempo. O trânsito a bordo, a atividade diária dos astronautas, os compartimentos estanques que nos são mostrados por toda a EEI podem ser confirmados por filmes reais do You-Tube, todo o cenário é assim muito cuidado, fazendo-nos quase sentir o sétimo tripulante.
A atividade mais importante para esta história consiste na recolha e análise de detritos captados em Marte, onde é identificado um organismo desconhecido, mas semelhante aos organismos vivos existentes na origem da terra que provoca a curiosidade de toda a tripulação resolvendo estimulá-lo em ambiente reservado para melhor o conhecer, desafiando assim os seus próprios conhecimentos sobre uma matéria recheada de múltiplas construções e demasiadas convicções.
O resultado só pode ser o desastre, materializado no desenvolvimento de uma entidade que luta para se afirmar, afinal como todos nós nas nossas vidas individuais, considerando toda a tripulação como os seus adversários a abater numa luta sem quartel de ambas as partes. Não se pode dizer que seja uma ideia original mas o facto de estar tão próxima da terra e no interior de uma estrutura tecnológica real, coloca assim a ameaça numa perspetiva próxima e possível de cujo desfecho dependerá o nosso futuro.
Estamos portanto em presença de um filme bem realizado, sobre uma ideia plausível, que nos transporta para um eventual problema com que podemos ser confrontados no futuro. Recomendo, o seu desfecho é surpreendente.

Classificação: 8 numa escala de 10

14 de março de 2017

Opinião – “A Autopsia de Jane Doe” de André Ovredal


Sinopse

Para Tommy (Brian Cox) e Austin (Emile Hirsch), dois médicos legistas que são também pai e filho, esta é uma noite igual a tantas outras passadas na morgue, até que chega um estranho cadáver sem identificação. Descoberta na cave de uma família que foi brutalmente assassinada, a jovem Jane Doe - assustadoramente bem preservada - está envolta em mistério.

Opinião por Artur Neves

Estamos em presença de uma história de terror que começa com a descoberta de um cadáver de mulher particularmente bem tratado, com bom aspeto, razoavelmente limpo e não fora a ausência de respiração e de movimento poder-se-ia pensar noutra situação diferente da morte. O cadáver é levado para um necrotério local onde trabalham o médico legista e o seu filho que se lançam na tarefa de descobrir a causa da morte e outros pormenores significativos.
Com este tema André Ovredal, realizador sueco que em 2010 nos apresentou “Caçador de Trolls” (???) com pouco sucesso entre nós, traz-nos aqui uma história com todos os ingredientes do tema que apesar de se passar numa única noite, numa cave onde será feita a autópsia e apenas com dois personagens, prende-nos às cenas que se vão desenrolando e nos vão mostrando que por motivos desconhecidos o “cadáver não estará realmente morto”.
O ambiente criado é soturno, o suspense é credível, conseguido com travellings de câmara que apesar de não mostrarem nada para além das paredes do recinto criam a expectativa da surpresa que nos agarra ao assunto. Como também é comum nestes filmes, a noite é de tempestade, a eletricidade falha, as comunicações também e o ambiente de isolamento criado transporta-nos para os nossos próprios medos e para o sentimento de fraqueza e de incapacidade de defesa que sentiríamos se nos encontrasse-mos naquela situação.
Na primeira parte, a história desenvolve-se pela inferência científica da investigação da presumível morte até que os sinais esotéricos encontrados no interior do corpo transportam os dois analistas para eventuais razões transcendentais que encontram eco nos seus próprios erros e nos seus remorsos sobre atos passados que dão ao filme uma dimensão de culto macabro que se vai repetir naqueles dois personagens tal como tinha ocorrido da casa onde o cadáver foi encontrado.
A história a que assistimos é simples e escorreita, sem grandes rasgos, nem efeitos especiais salvo os de caracterização, mas os que nos submete é o confinamento que o realizador habilmente conseguiu criar que nos causa desconforto e mantem o olhar na tela à procura do caminho de fuga que não existe, porque não é de morte que se trata mas antes de vida sedenta de vingança. É um filme quase série “B” mas vale o tempo que lhe dedicamos.

Classificação: 6 numa escala de 10

8 de março de 2017

Opinião “100 Metros” de Marcel Barrena


Sinopse

Ramón, pai de família, vive para o trabalho até que o seu corpo começa a falhar.
Com o diagnóstico de Esclerose Múltipla todos os prognósticos pareciam indicar que no espaço de um ano não seria capaz de andar nem cem metros. Ramón decide levantar-se para a vida e participar na prova desportiva mais dura do planeta.
Com a ajuda da sua mulher e do rabugento do seu sogro, Ramón começa um treino peculiar no qual lutará contra as suas limitações, demonstrando ao mundo que render-se não é opção.

Opinião por Artur Neves

Marcel Barrena, realizador e autor do argumento desta história fundamentada num caso verídico, mostra-nos o sofrimento e a profunda desestruturação pessoal de um paciente de esclerose múltipla que num pequeno intervalo de tempo vê a sua vida drasticamente alterada por esta doença silenciosa, sem cura, que se agrava com o passar do tempo e que não desaparece até ao fim dos nossos dias. Tal como se refere no filme, é uma companheira para dançar para a qual temos de nos prevenir para que não nos pise.
O título, reporta-se ao limite genérico de capacidade de locomoção quando somos apanhados por ela, embora de maneira ligeira, mas que nos deforma a postura, a clarividência, a vista ou qualquer dos nossos sentidos que estamos habituados a usar. Todavia representa também o alvo a ultrapassar quando cerramos os dentes e decidimos combater (se é que se pode chamar assim) o mal através do esforço, da perseverança, da abnegação pelo sofrimento autoinfligido em muitas horas de treino físico que constitui o alimento da esperança, da raiva, do desespero para que não se piore o que já é muito mau.
Trata-se pois de uma história de superação das nossas fraquezas, de estoicismo, de desafio para todos os que nos cercam e por fim, de descoberta de amigos improváveis, de confirmação de outros que não nos abandonam e de revelação de pequenos nadas que nessa situação são o tudo a que ficamos reduzidos. É sem dúvida uma história de destruição inevitável em que o fim é conhecido e inevitável, mas em que o que conta é que o percurso até lá seja o mais longo e “normal” possível, para nosso bem e dos que nos rodeiam indiretamente afetados pela mesma doença.
A doença não é o verdadeiro mal, mas sim a vida em si mesma que permite que este, ou outro mal se sobreponha a uma existência que prevíamos diferente.
A história está bem contada, Alexandra Jiménez, que desempenha o papel de “Inma”, esposa de “Ramón” Dani Rovira, está muito convincente como esteio da família e o sogro mal-amado “Manolo”, Karra Errejaldo, é o elemento dissonante na tragédia, que constrói um personagem truculento e desafiador mas fundamental para a superação de Ramón e para a elevação da história. Também é agradável ver Maria de Medeiros num papel de hippie que empresta algum colorido à ação, lamenta-se é que seja tão pouco.

Classificação: 6 numa escala de 10