25 de outubro de 2016

Opinião – “Café Society” de Woody Allen


Sinopse

Nova Iorque nos anos 30. Sem paciência para as discussões dos pais, para o irmão gangster e o negócio de família, Bobby Dorfman chega à conclusão que precisa de uma mudança de cenário! Assim, decide ir para Hollywood, onde o seu tio Phil, um poderoso agente de estrelas de cinema, contrata-o como moço de recados. Em Hollywood, apaixona-se, mas infelizmente a rapariga tem namorado. Bobby conforma-se com a ideia de serem apenas amigos – até ao dia em que ela bate à sua porta, explicando-lhe que o namorado a deixou. Subitamente, a vida de Bobby dá uma inesperada e romântica reviravolta.

Opinião por Artur Neves

Esta é mais uma história escrita e realizada por Woody Allen, mais concretamente o seu quinquagésimo segundo filme de uma carreira dedicada à realização e interpretação de personagens, frequentemente associados a particularidades e características do próprio autor, ou nos tempos mais recentes, ao desenvolvimento de perturbações de personalidade que colidem com o seu normal comportamento social, ou com os outros.
Durante toda a sua carreira o amor foi sempre um tema recorrente das suas histórias, descrito com ansiedade, como em; “Annie Hall” de 1977, com a sua principal musa inspiradora, como em “Manhattan” de 1979, ou “Crimes e Escapadelas” de 1989 apresentando outras facetas deste mesmo sentimento, central na vida de todos nós, bem como o particular amor pelo Jazz que desde sempre preencheu o universo de Woody Allen e que ele inclui no ambiente deste filme com a habitual mestria que nos tem habituado ao longo de todos estes anos.
Este filme é pois como que um regresso às origens do motivo mais significativo das suas obras, o amor, mas vivido de um modo calmo por alguém que não o é na sua essência e apesar de se tratar de um amor desencontrado, um amor frustrado, que nunca se realiza mas por permanecer para sempre nesse estado, se torna perfeito, infinito, perene como a relva, imorredoiro.
Não é por acaso que o actor escolhido foi Jesse Eisenberg, cujas características físicas são muito semelhantes a Woody Allen quando jovem, constituindo assim um alter-ego do autor vivenciando um amor “fatal”, inconseguido, no ambiente muito bem trabalhado de Hollywood, com todos os ingredientes do luxo e do glamour da época, nas recepções e nos bailes em que o jazz soa durante todo a acção e envolve os dois amantes que não se encontram encontrando-se, tanto no principio como no Café Society (que dá nome ao filme) e que ficam para sempre separados mas ligados, como naquela passagem do ano de 1930.
A imagem é excelente acentuando a sua aparência nos tons doirados, os travellings da câmara ajudam a compor e a descrever o ambiente, o amor é simples e fulcral remetendo todos os outros elementos da história para uma secundarização que realça ainda mais esse amor desencontrado, embora real e vivo.

Classificação: 7 numa escala de 10

20 de outubro de 2016

Opinião – “As armas de Jane” de Gavin O’Connor”


Sinopse

Jane Hammond (Natalie Portman) construiu uma nova vida com o seu marido Bill “Ham” Hammond (Noah Emmerich) e filha, nas difíceis e perigosas planícies do oeste americano. Mas quando Hammond se envolve num tiroteio com John Bishop (Ewan McGregor) e o seu bando de criminosos, e regressa a casa ferido, ela tem a certeza que Bishop não irá parar até que toda a sua família seja morta. Em desespero, Jane pede ajuda a Dan Frost (Joel Edgerton), um homem com quem teve um relacionamento no passado. Perseguida por memórias antigas, Jane vai ver o passado confrontar-se com o presente numa batalha épica pela sobrevivência.

Opinião por Artur Neves

Para um tema quase caído no esquecimento por Hollywood, subitamente aparecem duas realizações que embora com pergaminhos diferentes abordam o mesmo tema do western em duas vertentes diferentes; “Os Sete Magníficos” na tradição da conquista do oeste, com bandidos e bandidos transformados em heróis e neste filme; “As Armas de Jane” uma versão mais romântica e minimalista da mesma luta pela miragem de um mundo melhor.
A história desenrola-se nas planícies sem fim onde um homem com a cabeça a prémio é perseguido e ferido pelos seus pretensos captores, mas de quem ele escapa muito mal tratado, bastante ferido com várias balas no corpo até se refugiar na sua casa entretanto guardada pela sua mulher que o acolhe e promove a sua defesa.
Não seria fácil para uma única mulher defender-se com êxito pelo que esta recorre a alguém que nos vai ser revelado ter sido o seu primeiro amor entretanto deixado para trás por razões que vamos conhecendo através de flashbacks e de conversas intimistas durante a espera para o assalto dos caçadores de prémios que eles pretendem combater.
No final tudo se compreenderá com recurso à técnica dos flashbacks apresentados em ordem salteada provando que a nossa compreensão da história não depende da ordem de ocorrência dos eventos, mas sim de eles terem sido referidos ou não. A filmagem recorre a planos longos, mostrados através de janelas com movimentos de camara ao estilo de Jonh Ford denunciando com isso a “escola” do realizador, o que não é um defeito em si mesmo, pelo contrário. Todavia noutros elementos apresenta-se algo naïf como na idílica viagem em balão, num flashback que apenas distrai o espectador da tensão que se avoluma com a chegada dos assaltantes.
O vilão maior porém, não convence, interpretado por um Ewan McGregor que constrói um personagem sem densidade nem espessura perdendo-se numa caricatura tosca do vilão do inóspito oeste americano. Aliás todos os caçadores de prémios apresentam características algo frouxas para o desempenho esperado.
Todo o filme porém assenta num formalismo de acordo com o figurino, com uma história revelada a conta-gotas que cativa o espectador. A Jane exibe a força adequada à acção embora o rosto da Natalie Portman se apresente demasiado doce em certas cenas. O trabalho de fotografia é irrepreensível e o filme vê-se com agrado no seu todo, embora não permaneça muito tempo na nossa memória.

Classificação: 6 numa escala de 10

13 de outubro de 2016

Opinião – “Nem Respires” de Fede Alvarez


Sinopse

Um trio de imprudentes ladrões invade a casa de um homem cego abastado, pensando que irão conseguir safar-se com o assalto perfeito. Estão enganados.

Opinião por Artur Neves

“Nunca se deve considerar como adquirido o que ainda não está na nossa mão” poderia ser o conceito resumo, em jeito de corolário, sobre a moral que se pode extrair desta história escrita e realizada por Fede Alvarez, original do Uruguai e já com outras realizações no género, embora neste caso, elevando-o para um patamar superior, considerando a originalidade e a simplicidade com que o suspense é criado e mantido em todo o filme.
O argumento é linear e o espectador cedo fica informado do que se pretende. Esta característica deixa-o livre para desfrutar o “como”… o terror é criado, sem monstros estranhos, mortos-vivos, espíritos enviados do além, ou outros elementos gore de que outros filmes se suportam para criar a tensão e a surpresa da acção que assim aparece naturalmente, através de pessoas que agem e actuam segundo os seus instintos para tentar obter o que pretendem.
A escuridão é mais penosa para quem está habituado á luz, pelo que nesta história a cegueira apresenta-se como vantagem diferenciadora para quem se defende, atacando os intrusos que o vieram perturbar. O jogo de “gato e rato” é tecido entre elementos que se apresentam como contraditórios relativamente ao resultado tradicionalmente esperado entre o gato e o rato.
Toda a acção decorre dentro de uma casa, durante a noite, na penumbra de uma escuridão provocada em que os olhos são menos importantes do que outros sentidos que possuímos, tal como; o olfacto e a audição que assumem aqui um papel fundamental entre quem sabe e não os sabe usar, tanto na defesa como no ataque, o que torna esta história muito interessante do ponto de vista formal.
Adicionalmente ao “jogo” anteriormente referido juntam-se outros elementos de carácter humano que posteriormente se revelam, fazendo o espectador vacilar sobre o lado em que implicitamente se colocou desde o início do filme, dando continuidade às primeiras imagens vistas que até então se tinham tornado incompreensíveis.
A realização convence com o ambiente criado, os personagens são credíveis, a história é escorreita embora provoque surpresa e emoção em diferentes situações e por diferentes motivos, pelo que constitui um meio de diversão agradável para quem não se assustar sem reais motivos.

Classificação: 7 numa escala de 10

6 de outubro de 2016

Opinião – “Mechanic – Assassino Profissional” de Dennis Gansel


Sinopse

Justamente quando Arthur Bishop julgava que os seus dias como assassino eram coisa do passado, é forçado a voltar ao ativo quando Gina, o amor da sua vida, é raptada pelo seu mais perigoso inimigo. Agora Arthur tem de viajar pelo globo para completar três impossíveis assassinatos, onde estão os nomes dos mais perigosos homens do mundo, e ainda fazer com que eles pareçam acidentes.

Opinião por Artur Neves

Jason Statham (Arthur Bishop) na pele de um assassino reformado desde 2011, (data da primeira aparição deste personagem) volta a presentear-nos com uma movimentada história recheada de acção e de lutas com vitórias improváveis, para nos tentar fazer esquecer a realidade dos dias. Para melhor compor o ramalhete apresenta-nos como motivo uma súbita paixão assolapada por Gina (Jessica Alba, linda como sempre) quando esta constituía inicialmente, a segunda contratante, (a primeira, “Mei”, Michelle Yeho, não teve tanta sorte) para os trabalhos que ele não queria realizar para o mau muito mau que o persegue pelo planeta.
O desmanchar da dureza do herói acontece quando ela lhe confessa os seus puéreis desígnios de protecção a órfãos e criancinhas abandonadas numas ilhas esquecidas da Malásia (bem a propósito com o drama dos refugiados às portas da Europa) sendo então que o seu coração de manteiga se desfaz ao sol e ao calor das águas transparentes das ilhas do Caribe.
Eu sei que todos os motivos do “bem” combater o “mal” já foram utilizados repetidamente em múltiplas histórias, milhares delas, cujo core são sempre as boas práticas de sã convivência social, os bons costumes e as melhores intenções, mas uma estrutura de telenovela num filme de acção contra bandidos internacionais, praticado por um designado assassino profissional não me parece de todo adequado. Por favor meus senhores exige-se um pouco mais de imaginação ou os argumentistas de serviço (Philip Shelby e Tony Mosher) não conseguem mais do que reciclar conceitos estafados.
Como distracção o filme está recheado de acção e de efeitos que nos emocionam e interessam, as diferentes histórias prendem a atenção, cada um dos assassinatos são como pequenas aventuras desenvolvidas com imaginação e meios técnicos suficientes que justificaria maior interligação entre si de forma a não parecerem o que realmente são, casos isolados que se desenrolam durante o tempo de duração do filme dando a impressão que o realizador, Dennis Gansel, nascido em 1973 em Hannover na Alemanha, apenas se preocupou com o preenchimento do tempo disponível.
Ainda assim caro leitor se não tiver nada para fazer, aproveite os 98 minutos que o filme lhe oferece para se evadir da realidade, perdoe o “cheiro” a telenovela barata e aprecie as cenas de acção como só Jason Statham nos tem apresentado em várias oportunidades e divirta-se que este filme é para ver e esquecer.


Classificação: 5 numa escala de 10