16 de fevereiro de 2022

Opinião – “Uncharted” de Ruben Fleischer


 Sinopse

O perspicaz Nathan Drake (Tom Holland) é recrutado pelo experiente caçador de tesouros Victor “Sully” Sullivan (Mark Wahlberg) para recuperar a fortuna arrecadada por Fernão de Magalhães e perdida há 500 anos pela Casa de Moncada. O que começa como um golpe, rapidamente se torna numa corrida pelo mundo para encontrar este tesouro antes do implacável Santiago Moncada (Antonio Banderas), que acredita que ele e a sua família são os seus legítimos herdeiros. Se Nate e Sully conseguirem decifrar as pistas e resolver um dos mais antigos mistérios do mundo, irão alcançar o tesouro de 5 mil milhões e talvez até o irmão desaparecido de Nate... isto se aprenderem a trabalhar em equipa.

Opinião por Artur Neves

A história que suporta o filme é um argumento de videojogo, no qual os personagens têm todos os movimentos previstos e o espectador não pode intervir além de olhar, olhar e continuar a olhar para uma ação que se desenvolve em frente dos seus olhos, revelando os segredos que ocultam o desfecho final que facilmente se antecipa sem muita surpresa. Por outro lado não tem novidade. As armadilhas e os alçapões pensados e criados não foram objeto de um rasgo visionário de um argumentista em ascensão mas antes a repetição com algumas variantes de situações já vistas, recicladas, reinterpretadas que conduzem sempre à mesma solução e ao mesmo final estafado do bem que vence o mal, glória aos heróis e castigo aos vilões.

Quando se começa a ver recordamos algo semelhante de outras épocas, como “Os Salteadores da Arca Perdida” e as suas sequelas, porque na essência a história remete-nos para essa mirífica idade em que um professor de História de uma faculdade, despia o fato da cátedra envergava a pele do explorador científico e partia para outras paragens em busca do Santo Graal da cultura que haveria de certificar a sua tese debatida em plenário. Claro que era uma história, mas a sua devoção ao resultado era mais séria e tanto as motivações como as atitudes estavam impregnadas duma dignidade que neste “Uncharted” não paira por qualquer das cenas. Claro que no outro era tudo falso, a fingir, mas neste a justificação são somente a ganancia e a ideia de poder que se esboroa no tempo.

Este “Uncharted” possui uma história muito acessível, logo ao nível dos videogames e uma dinâmica bem humorada que todavia não são suficientes para transformarem em homem o personagem criança crescida Nathan Drake (Tom Holland), bar tender de profissão em Nova Yorque que abandona as sua atividades quando desafiado por Victor Sullivan (Mark Wahlberg) para procurar o ouro perdido na viagem de Fernão de Magalhães no século XVI, que constitui igualmente o projeto de Santiago Moncada (Antonio Banderas) só que com mais meios e dinheiro contrata mercenários para lhe fazerem o trabalho que serão os principais vilões contra quem Nathan e Sulli têm de se confrontar em toda a demanda pelos locais menos comuns, que as pistas indiciam. Porém, ainda existe mais um personagem Chloe Frazer (Sofia Ali), que de acordo com as circunstâncias, joga para ambos os lados em todas as situações construídas por Ruben Fleischer e sua equipa, que apesar da multiplicidade de confrontos cruzados não confere ao filme um “sabor” que o caraterize. O que é pena, porque em algumas sequências mais arrojadas sente-se que foram construídas com imaginação, todavia a brevidade da sua duração e a sua imediata superação tornam-nas vulgares e supérfluas.

No seu conjunto a história explora uma tradição de aventuras perversas, com uma equipa de heróis que desconfiam todos uns dos outros para conferir à aventura um cariz de imprevisibilidade em todas as pistas encontradas por Nathan, o mais bonzinho de todos, Sulli, o mais sarcástico, e Chloe que conhece e não confia em Sulli e que por isso duvida de Nathan. Não há química entre eles e do lado dos vilões só Jo Braddock (Tati Gabrielle) contratada pelo implacável Moncada se fixa no nosso olhar pelo irrealismo de algumas ações. Bem sabemos que os filmes de aventuras há muito tempo abandonaram as leis da física mas uma série de paletes carregadas a saírem amarradas de um DC10, em pleno voo, como mostra o poster do filme, parece imediatamente impossível, porém constitui um exemplo da prodigiosa imaginação dos efeitos especiais e faz-nos pensar nas possibilidades que sobram para os personagens. É uma aventura total e o que mais interessa é a pura fruição das sequências arrojadas, se não é este o seu objetivo caro leitor, então este filme não é para si.

Tem estreia prevista em sala dia 17 de fevereiro

Classificação: 5 numa escala de 10

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