Sinopse
Em Cyrano, o premiado realizador Joe
Wright envolve os espectadores numa harmonia de emoções, música, romance e
beleza, reinventando esta intemporal história sobre um comovente triângulo
amoroso. Um homem à frente do seu tempo, Cyrano de Bergerac (interpretado por
Peter Dinklage) deslumbra tanto com os seus ferozes jogos de palavras em
disputas verbais, como com a sua esgrima formidável em duelos. Mas, convencido
de que a sua aparência o torna indigno do amor de uma fiel amiga – a
resplandecente Roxanne (Haley Bennett) – Cyrano não lhe declara os seus
sentimentos e Roxanne apaixona-se à primeira vista por Christian (Kelvin
Harrison, Jr.).
Opinião
por Artur Neves
“Cyrano” é mais uma versão
para cinema da peça de teatro feita em 1897 pelo poeta e dramaturgo francês Edmond
Rostand, inspirado na vida real de Cyrano de Bergerac, um homem que viveu em
1600, impetuoso nos duelos de espada, com dotes linguísticos e de escrita e
também um verdadeiro artista musical, provido de um nariz demasiado proeminente
que o desclassificava aos seus próprios olhos de ser merecedor do amor por uma
prima distante, Roxane, que ele amava em silêncio. Deixo aqui já um aviso que
se trata de um filme musical, nem sempre do agrado do público cinéfilo.
A argumentista Erica Schmidt
pegou na peça original e reinventou-a alterando a caraterística identitária de
Cyrano de forma a poder servir para um novo personagem interpretado pelo seu
marido Peter Dinklage, bem conhecido do grande público e com talento
reconhecido na série da HBO “A Guerra dos Tronos” (2011 a 2019), transformando-a
num conto sobre um afeto profundo vivido em segredo e não correspondido, mais
ao jeito das histórias de amantes infelizes que pululam na obra de Shakespeare.
Assim este filme é mais uma adaptação de Hollywood aos contos clássicos que
pela ousadia da sua transformação literária e pela mão de Joe Wright consegue
alcançar um resultado híbrido entre o clássico de amor e os filmes de capa e
espada.
Relembro que as obras
anteriores mais notórias de Joe Wright, como “Orgulho e Preconceito” de 2005 ou
“Expiação” de 2007 eram histórias sensuais, com desenvolvimentos ricos em
detalhes íntimos, que neste seu “Cyrano” só podemos sentir por uma expressão de
vontade, considerando que a profusa banda sonora de Bryce e Aaron Dessner (The
National) consegue interromper a demonstração sentimental dos personagens. As
peças que mais se destacam são uma música rock durante a intervenção do vilão e
uma balada triste ao piano que enquadram os lamentos secretos de Cyrano mas de
difícil recordação após o contexto em que a ouvimos. Por outro lado, sempre que
assistimos a uma narrativa entre quaisquer personagens, logo o diálogo é
substituído por música a que se segue outra, assumindo-se com todos os defeitos
e vantagens dos filmes musicais.
Decorrente da experiencia de
Dinklage o argumento permite-lhe muitas hipóteses de usar o seu pendor cómico,
bem como exibir a sua tristeza de rigidez de rosto enquanto as lágrimas lhe caem
dos olhos quando Roxane lhe revela que está apaixonada por outra pessoa. Ele
nem pestaneja e congela a expressão tornando-a numa máscara destroçada de
tragédia. Roxane, pelo seu lado exibe uma visível energia emotiva para
equilibrar o desempenho de Cyrano, constituindo com ele o par mais desligado do
romance.
É admirável a ideia destas
pessoas em recriar uma nova versão de “Cyrano de Bergerac” que se distinga das
suas congéneres, sem nariz e com outras caraterísticas que valorizam este
personagem pouco conhecido, despindo-o de grandes tiradas teatrais e
substituindo-as por um naturalismo adequado à modéstia das melodias, todavia
isso não consegue ultrapassar que o amor central da peça, apesar de muito
cantado por todos, se cinge a uma amizade forçada mal enquadrada no que deveria
ser um conto de fadas. Vale o propósito, perde-se o resultado.
Tem estreia prevista em sala
dia 24 de fevereiro
Classificação: 5 numa escala
de 10
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