Sinopse
Belfast narra a vida de uma família
protestante da Irlanda do Norte da classe trabalhadora da perspectiva de seu
filho de 9 anos, Buddy, durante os tumultuosos anos de 1960. O jovem Buddy
(Jude Hill) percorre a paisagem das lutas da classe trabalhadora, em meio de
mudanças culturais e violência extrema. Buddy sonha em um futuro melhor,
glamoroso, que vai tirá-lo dos problemas que enfrenta no momento, mas, enquanto
isso não acontece, ele se consola com o carismático Pa (Jamie Dornan) e a Ma
(Caitríona Balfe), junto com seus avós (Judie Dench e Ciarán Hins) que contam
histórias maravilhosas. Enquanto isso, a família luta para pagar suas dívidas
acumuladas. Pa sonha em emigrar para Sydney ou Vancouver, uma perspectiva que
Ma encontrou com aflição. No entanto, ela não pode mais negar a opção de deixar
Belfast à medida que o conflito piora e Pa recebe uma promoção e um acordo de
moradia na Inglaterra de seus empregadores.
Opinião
por Artur Neves
Kenneth Branagh é natural de
Belfast, onde nasceu em Dezembro de 1960 pelo que seria expectável ter competência
para nos mostrar os duros anos da guerra “santa” na sua terra entre
protestantes e católicos se ele e a sua família não tivessem imigrado para o
sul de Inglaterra, para Londres quando ele tinha 9 anos para evitar os tumultos
que se vieram posteriormente a verificar. Ainda assim, isso poderia ser uma
vantagem, se a história que nos é contada reproduzisse com seriedade os vários
episódios de conflito entre as populações católicas e protestantes, atualmente
denominados “republicanos e legalistas” respetivamente, e nos apresentasse a
sua visão sobre as raízes do conflito mais importante denominado por “Troubles”,
que se manifestou desde 1960 até 1998, considerando que a história do filme
começa em 1969 quando as fações em confronto se designavam por “nacionalistas e
sindicalistas” sendo os protestantes os mais aguerridos e mais adeptos da ideia
de “sindicato” que despontava na época.
Mas nada disso se verifica, Branagh
opta por nos contar um drama com laivos autobiográficos centrado no ponto de
vista obviamente distorcido de Buddy (Jude Hill), uma criança irlandesa de uma
família protestante que vive num bairro católico com os seus pais e avós tal
como descrito na sinopse, estabelece os seus contactos na escola e na rua sem ligar
de perto ás tendências dos seus colegas, muito particularmente à católica
colega de classe Catherine (Olive Tennant), inteligente e delicada que lhe
motiva todas as atenções e preferências da sua puberdade em formação.
Adicionalmente a isto Kenneth
Branagh começou a sua vida artística pelo teatro clássico e começou a ser
notado no cinema num filme baseado na adaptação feita por ele, de uma peça de William
Shakespeare; “Muito Barulho para Nada” de 1993, tendo continuado em todos os
filmes em que se empenhou a fundo a tentar fazer a junção do teatro ao cinema
sem considerar que ambas as artes têm uma linguagem próprias e vinculadamente
diferentes. Em ambas as artes representa-se, sim, mas de maneira diferente. Aliás,
refira-se ainda que as suas incursões pelos contos de Agatha Christie adaptados
por ele para o cinema; “Um Crime no Expresso do Oriente” de 2017 e o recente “Morte
no Nilo” de 2020 atualmente em exibição, em que ele usurpa o papel de Hercule Poirot,
documenta a maneira prática de destruir a mística de um conto policial teatralizando-o
de forma despudorada.
Posto isto, não percebo como
uma história com tantas vítimas que durante tanto tempo deixou marcas
indeléveis na cultura e na sociedade inglesa, possa ter obtido tantas nomeações
para ser um dos candidatos aos Óscares de 2022 e ficar ao lado de por exemplo; “O
Poder do Cão” uma história poderosa já apreciada neste blogue. Assim sendo e
para continuar a falar do filme em si, posso dizer que o nosso herói Buddy (Kenneth
Branagh, criança) mora num bairro “misto” e fica admirado com a ocorrência de
um motim organizado por protestantes, que ele conhece, são seus amigos e regateiam
a sua colaboração na pilhagem de um supermercado de bairro. Ele só tem
interesse por futebol e histórias de quadradinhos, e fica muito impressionado
quando é convidado a servir-se sem pagar nos despojos de uma loja arrombada
durante um motim. Em casa os pais preocupam-se com a sua falta de dinheiro e a
nostalgia da história é usada para evitar a contextualização dos problemas que
justificam aquele conflito de 30 anos, de caris fundamentalmente social, e que
no filme se resume a um vago problema de “religião violenta”.
Depois de uma primeira
tomada de vistas por um drone sobre a Belfast atual, o filme desenvolve-se a preto
e branco na rua onde mora Buddy fixando a ação às “quatro paredes” do “palco” formadas
pela rua e pelas transversais acima e em baixo onde os motins, filmados de
perto, retiram boa parte da tensão que deve ter sido viver num sítio daqueles. Aqueles
conflitos tiveram contornos de limpeza étnica, mas o filme transforma-os em
sentimental e nostálgico, seguindo Buddy para a escola a e para a igreja ou
Buddy assistindo ao “Star Trek” na televisão manipulando a dureza daqueles
tempos que dividiram e continuam a separar o Reino Unido, mesmo após a solução
de Boris Johnson para a concretização do Brexit.
Nada do que é mostrado nesta
história nos acrescenta algo ao que aconteceu em Belfast nos anos duros da
guerra, que Kenneth Branagh transforma num conto pessoal de agradecimento com
tons de rosa à cidade, aos amigos e aos pais. Serve para ele, para mim fica
muito aquém das expectativas.
Tem estreia prevista em sala
dia 24 de fevereiro
Classificação: 4 numa escala
de 10
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