Sinopse
"O Bando de Ned Kelly" é a
história verdadeira do fora de lei australiano mais famoso de sempre e da sua
trágica queda à revolta que o levou às trevas. Um relato dos anos mais jovens
da vida de Ned e o tempo que antecedeu à sua morte em que o filme explora os
limites confusos entre o bom e o mau, e as motivações para a morte do seu herói
que recrutou um exército e planeou uma rebelião lendária para libertar a sua
mãe. Juventude e tragédia colidem no bando de Ned Kelly e na essência desta
história está um amor fragmentado e poderoso entre uma mãe e um filho.
Opinião
por Artur Neves
Este filme é uma viagem à inocência de
um menino que não queria nada para além de proteger e manter as necessidades de
subsistência fundamentais à sua família, no início da colonização da Austrália no
século XIX, pelos povos anglo-saxónicos de Inglaterra e da Irlanda com base no
romance premiado com o Booker Prize, de Peter Carey, nascido na austrália em
1943 e atualmente a viver em Nova Iorque.
Ned Kelly (nascido em dezembrode1854 e falecido em 11 de novembro de 1880) é hoje ainda um herói ambíguo da
cultura australiana, uns abominam a sua memória e as suas façanhas criminosas,
outros consideram-no carinhosamente como o Robin Hood da Austrália,
profusamente difundido e considerado um dos símbolos nacionais mais conhecidos.
O realizador Justin Kurzel logo nas primeiras imagens do filme avisa-nos de
que; “nada que o público verá em seguida é verdade” para manter a sua liberdade
de trabalhar a lenda da forma que bem entender e para permitir a quem assiste
tirar as suas próprias conclusões através do que nos apresenta, muitas vezes no
limite do real e da sanidade, considerando que através dos tempos o misticismo
que envolve Ned Nkelly tem crescido e adensado, ao ponto de só em 20 de Janeiro de
2013, os parentes atuais de kelly enterraram os seus restos mortais no
cemitério de Greta, perto da sepultura da sua mãe, depois de múltiplas
investigações arqueológicas sobre a localização do cadáver, após a execução da
condenação à morte por enforcamento na prisão, que o vitimou.
A história começa com kelly
(George MacKay) ainda menino, (Orlando Schwerdt) numa casa pobre e despojada de
comodidades, matando animais e protegendo a mãe, Ellen Kelly (Essie Davis) e os
seus irmãos, como insurgindo-se contra a presença constante do sargento O'Neill
(Charlie Hunnam) quando espiava as atividades da mãe recebendo-o clandestinamente
para obtenção de proventos em dinheiro. A miséria era muita, com a morte do pai
ele assume definitivamente a família, e a mãe para o preparar e obter algum
dinheiro, vende-o a Harry Power (Russell Crowe, já algo afastado das grandes
produções que o notabilizaram), na época um foragido perigoso já amplamente
referenciado pela polícia, com o intuito de o ensinar nas duras leis da vida e
providenciar uma visão mais abrangente da realidade que lhe permitisse ocupar
as novas funções de chefe de família.
Esta infância difícil vem a
transformá-lo na idade adulta no assassino que a lenda lhe atribui. A certa
altura quando um polícia que se relacionava com ele, Constable Fitzpatrick (Nicholas
Hoult) ameaça a vida de um bebé e ele enfrenta-o empunhando uma arma
diretamente à sua cara, Fitzpatrick despreza-o dizendo que ele não é um homem, mas sim continua o mesmo menino, embora mais crescido e com ambições que não
pode alcançar. É esta ambiguidade narrativa que o realizador imprime à história
que a transforma num filme dinâmico e criativo no sentido visual, seja na
preparação do seu exército que se desfaz no exato momento de agir, como no
planeamento da ação que é revelada ao inimigo por um prisioneiro, como
envergando uma armadura de metal moldado para o proteger das balas da força
policial que o captura, depois de uma sangrenta luta em que ele sabe não ter
possibilidade de vencer.
O filme é maioritariamente
rodado em ambiente noturno, com uma suficiente dosagem de momentos épicos,
enquadrados por uma banda sonora bem conseguida e suficientemente capaz de
transmitir emoção e realismo a uma violência de dimensão louca que transforma
heróis em vilões conseguindo transmutar o personagem entre ambas as facetas e
consagrando-lhe a humanidade que o símbolo possui hoje. É interessante, merece
ser visto.
Tem estreia prevista em sala
dia 17 de fevereiro
Classificação: 6 numa escala
de 10
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