25 de fevereiro de 2022

Opinião – “Competição Oficial” de Mariano Cohn, Gastón Duprat

Sinopse

Quando um empreendedor multimilionário decide impulsivamente criar um filme icónico, ele exige os melhores e recruta a conhecida realizadora Lola Cuevas (Penélope Cruz) para orquestrar a sua ambiciosa proposta. A completar um elenco de estrelas são escolhidos dois atores de enorme talento, e egos ainda mais colossais: o grande galã de Hollywood Félix Rivero (Antonio Banderas) e o radical ator de teatro Iván Torres (Oscar Martínez).

Embora sejam lendários no ramo, os dois não são propriamente grandes amigos. Sujeitos por Lola a uma série de testes cada vez mais excêntricos, Félix e Iván têm de se confrontar não só um com o outro, como também com os seus próprios legados. Qual deles restará quando a câmara começar finalmente a filmar?

Opinião por Artur Neves

Os realizadores Mariano Cohn, Gastón Duprat têm como antecedente de referência um filme muito interessante também interpretado por Oscar Martínez com o nome de “Cidadão Exemplar” em que ele, um escritor de renome há muito tempo afastado voluntariamente da sua terra natal na Argentina, propõe-se lá voltar depois de ser agraciado com um prémio Nobel que distinguia a sua obra e, na sua opinião, o valorizava aos olhos dos seus conhecidos na sua terra de origem.

Como pode pensar-se, as coisas não se passam assim e tal como neste filme, em que dois nomes sonantes da sétima arte são contratados para corporizarem o legado de um milionário farmacêutico em empo de reflexão sobre a vida, eles preocupam-se antes em desenvolverem o seu personagem melhor do que o outro, preocupando-se mais com a competição entre si. que normalmente tende a não produzir destaque a uma das partes, do que na canalização de esforços comuns para que o resultado, o filme, seja uma obra-prima como o produtor pretende.

Para que tudo corra pelo melhor o produtor não se escusa a esforços para contratar o melhor realizador da época, Lola Cuevas (Penélope Cruz) que depois de conhecer a história e integrar o tema na sua complexa e excêntrica maneira de ser e sensibilidade esotérica, evidenciada nas suas esdruxulas posições de descontração e de meditação, sente que precisa de se orientar pela busca da verdade e explorar as mais excitantes possibilidades de ambos os atores convidados; Félix Rivero (António Banderas) e Iván Torres (Oscar Martínez) para que eles possam dar o melhor de si e que por ego, ou vaidade masculina, eles não pretendam ofuscar-se mutuamente. Para conseguir isso, Lola submete-os aos mais duros ensaios, durantes as fases de preparação das filmagens, de leitura dos textos, de composição das cenas como maneira de eles esgotarem os seus impulsos primários e trabalharem coordenadamente.

Portanto a história deste filme reporta-se á confrontação de dois colegas de profissão de forma satírica e altamente competitiva tendo com pano de fundo a pretensão cínica do mecenato cultural que mantenha para a história o bom nome do seu financiador. Em boa verdade, a Humberto Suárez (José Luis Gómez) o mecenas bilionário, não lhe interessa o enredo do filme de cujo livro em que é inspirado lhe custou elevada quantia e que ele nem percebe bem. A sua preocupação real é aos 80 anos reconhecer que apesar de toda a sua fortuna não deixa atrás de si algo de valor autêntico ou de utilização e consequências duradouras.

É pois um filme com um sentido de humor indireto, baseado na sensibilidade estética do local dos ensaios e nos pormenores de preparação das cenas e do guarda-roupa dos dois atores para o qual foi utilizado um carinho especial para não prejudicar os personagens, muito embora as suas cenas e os seus diálogos possam surgir como ridículos. “Competição Oficial” é um filme diferente do comum onde tudo se passa antes do início das filmagens e foi o Filme de Abertura do Festival de Cinema de San Sebastian e foi ainda Seleção Oficial quer do Festival de Cinema de Veneza quer do Festival de Cinema de Toronto. Contendo cenas “bem apanhadas”, um twist inesperado no final que não engana Lola Cuevas, define-se como interessante e recomendável.

Tem estreia prevista em sala dia 03 de Março

Classificação: 6 numa escala de 10

 

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