Sinopse
Enquanto um conjunto dos
piores tiranos e mentores da história do crime se reúnem para planear uma
guerra para exterminar milhões, um homem deve correr contra o tempo para os
deter. Descubra as origens da primeira agência de inteligência independente em
"The King's Man: O Início".
Opinião
por Artur Neves
O cinema reúne e possui a
infinita capacidade de exercer a sua visão da história recente ou passada da
maneira que mais lhe convém, mas decorrente dessa liberdade também deve assumir
a obrigação de não se afastar dos factos tão completamente ao ponto de os substituir
por uma macacada que só remotamente, em nomes de intervenientes e datas se
reportem a essa história que pretende abordar por um ponto de vista diferente,
ou como motivo para uma ficção atual fundamentada no passado. Nestes termos o
cinema nega uma das suas mais nobres missões que é ser; um veículo lúdico de
cultura.
Se cito isto é por respeito
ao público alvo, maioritariamente jovem e com interesses bem diferentes das longínquas
razões que fundamentaram a 1ª guerra mundial, que pelo desconhecimento dos
factos reais e de nem sequer lhe sentirem os ecos políticos ou qualquer
informação sobre o cheiro fétido das trincheiras e dos gaseados que por lá
morreram, poderem na sua inocência, pensar, que o que lá se passou tem alguma
relação com a macacada de que este filme se serve para se alimentar. Para todos
esses, eu recomendo verem urgentemente “1917” de 2019, realizado por Sam Mendes
e já comentado neste blogue.
Posto isto, podemos então
referir que Matthew Vaughn, realizador e argumentista desta prequela,
possivelmente entusiasmado pelo relativo êxito de “Kingsman: O Serviço Secreto”
de 2014 onde Colin Firth armado em agente secreto muito British, elegante
e bem vestido, mata secamente um extremista de forma pouco convincente, e de “Kingsman:
O Círculo Dourado” de 2017 mais agitado, barulhento e estúpido que o primeiro,
assume esta realização retrocedendo na linha do tempo, começando na África do
Sul e na guerra com os Bóeres, (antigos colonizadores britânicos que queriam
dominar o território e foram os responsáveis pela política de apartheid que
durante muitos anos dominou o povo e o país) e termina no conflito europeu da
1ª guerra mundial. Honra lhe seja feita pelo menos, ao referir o triunvirato absolutamente
louco que dominava a Europa na época, entre o rei George da Grã-Bretanha, o Kaiser
Wilhelm da Áustria e o czar Nicolau II da Rússia, todos primos entre si pela existência
de casamentos consanguíneos nas famílias imperiais que queriam manter o seu
poder à custa de cruzamentos restritos, sempre combinados, entre os membros dessas
famílias. É essa loucura tresloucada que faz o Duque de Oxford, Orlando (Ralph
Fiennes) pretender constituir uma equipa, que operando em segredo e no mais
rigoroso sigilo de meios, possa construir a paz e o progresso num mundo
dominado por psicopatas e burocratas, embora nobres e aristocratas super ricos.
Do lado da Rússia, quem
dominava a família imperial e a submetia à sua vontade era um monge religioso Grigori
Rasputin (Rhys Ifans) místico, déspota e infame em todos os aspetos que mantém
até hoje alguma dúvida sobre os seus reais poderes mediúnicos, não se parece
nem de longe, com a caricatura carnavalesca de olhos esbugalhados que
contracena com o Duque de Oxford quando este o pretende matar e trava com ele uma
luta em forma de balet dançante que
se aprecia com gosto, mas que não retrata de modo algum o poder e a discricionariedade
do místico déspota. Todavia do ponto de vista do filme, encarado somente como
uma inconsequente brincadeira para nos ocupar durante 131 minutos o personagem
construído por Rhys Ifans está fabuloso, com uma cena de lambidela que vai
ficar nos anais do cómico escabroso. Não tem é qualquer relação com o
personagem que lhe deu origem e para quem não conhece o terror que foi Rasputin
pode até branqueá-lo.
Deste modo o filme de Vaughn
apresenta-nos, sobre uma capa de seriedade, um humor sem sentido, com algumas
piadas no limite do aceitável, com alguns momentos pretensamente sérios,
especialmente com o personagem de Ralph Fiennes, que podemos dizer que “carrega
o filme às costas” de tão extensa que se torna a sua presença e faz o melhor
que pode e sabe para imprimir alguma dignidade ao processo. Como entretenimento
puro o filme até funciona razoavelmente com cenas de ação emotivas,
excessivamente construídas é certo, mas ainda assim compatíveis com a diversão
pura que pretende, quase recriando o ambiente dos super heróis que de todo, não
são para aqui chamados. O que trama a história é a sua premissa ridícula,
incorreta, deturpadora da realidade mas que a faz parecer satisfeita consigo
mesmo, o que de todo não merece.
Tem estreia prevista em sala
em 22 de dezembro
Classificação: 4 numa escala
de 10
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