Sinopse
Num dia em 1988, Dae-su, um
homem casado e com uma filha, é raptado e aprisionado num quarto de hotel sem
qualquer explicação. Quinze anos depois é libertado, é-lhe dado dinheiro, um
telemóvel e um fato novo. Desorientado, ele luta para descobrir porque foi
preso. Mas o seu raptor ainda tem planos para ele e envia-lhe mensagens que o
incitam à vingança.
Opinião
por Artur Neves
Oldboy é um filme Sul Coreano
realizado em 2003 que foi distinguido com o Grande Prémio do Festival de Cinema
de Cannes em 2004, tendo recebido rasgados elogios de Quentin Tarantino que à
data era o presidente do júri, pelas suas sequências de ação e de luta que o
classificaram como um dos melhores filmes neo-noir
de todos os tempos e incluído na lista em construção dos melhores filmes do
século XXI. Foi a seu tempo um campeão de bilheteira tendo compensado com larga
vantagem o seu custo de produção. A história foi baseada numa trilogia mangá
japonesa, “The Vengeance Trilogy” da
qual este título constitui o segundo episódio.
Em boa verdade a história
que o suporta, sumariamente descrita na sinopse, está bem desenvolvida através de
um enredo forte que prende o espectador até ao fim pela dissimulação bem
conseguida sobre os motivos que justificam a detenção de um homem durante 15
anos num quarto fechado, para o qual lhe omitem qualquer razão para o seu
estado. O homem é Dae-su Oh (Choi Min-sik) um empresário coreano que em 1988 foi
preso no dia do aniversário da sua filha de quatro anos, por conduta imprópria
devido a embriaguez na via pública. Imagine-se agora o desespero dessa pessoa
após recuperar o equilíbrio mental perturbado pelo álcool, sentir-se presa num
quarto, atrás de uma porta fechada na qual somente se abre um postigo junto ao
chão para receber um tabuleiro com comida às horas das refeições, sem que qualquer
palavra seja proferida da parte do entregador dos alimentos.
Este isolamento durante um tempo
tão prolongado provoca inevitavelmente insanidade que Dae-su responde como
pode, vendo televisão, fazendo atividades físicas, destruindo os móveis do quarto,
fazendo desenhos, tentando a fuga através da destruição das paredes que resistem
bem às suas investidas, construindo respostas para as perguntas que nunca o
abandonam e desenvolvendo uma filosofia que partilha com o espectador em off e que há de servir de sustentáculo
para todas as suas ações após sair do cativeiro a que foi sujeito, igualmente
sem uma justificação, sem uma palavra, sem um destino, tendo-lhe apenas sido
entregue um fato e algum dinheiro.
Julgo também importante
avisar o leitor, que para lá da excelente qualidade do argumento e da boa
interpretação dos personagens, estamos perante uma cultura diferente da cultura
ocidental o que muda tudo relativamente aos comportamentos que estamos
habituados a experienciar em situações semelhantes. Começando pela linguagem,
com a sua dicção brusca e abrupta em todas as situações que nos faz estranhar o
seu comportamento e onde não encontramos emoções que corroborem a sua equivalência
ocidental. Por outro lado, as ações individuais provocam decisões que aos
nossos olhos são tomadas sem a natural ponderação que é habitual assistir no
ocidente, assim como, as expressões emotivas denotando uma urgência e uma
inevitabilidade a que não estamos habituados e que nos é estranho. Considere-se
ainda ser um filme realizado em 2003, numa fase em que a presença oriental no
ocidente estava no seu início e essa cultura milenar existia ainda muito fechada
dentro dos seus limites.
Todavia, depois de aceitar
as suas peculiaridades e caraterísticas intrínsecas de amor, ética, moral e
forma de executar uma vingança, afinal é disso que se trata a história do
filme, fica-nos o devido espaço para apreciar um enredo que se desenvolve numa
mente ferida, à procura de provocar idêntico sofrimento no causador de um
suicídio. Só no fim saberemos tudo e durante os 122 minutos de duração do filme
vamos sendo lentamente informados, com fugazes indícios, sobre os motivos que
residem por detrás das ações dos personagens. Muito interessante a todos os
níveis, gostei e recomendo sem reservas.
Tem estreia prevista em sala
para dia 25 de Novembro
Classificação: 8 numa escala
de 10
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