21 de novembro de 2021

Opinião – “Oldboy” de Park Chan-Wook

Sinopse

Num dia em 1988, Dae-su, um homem casado e com uma filha, é raptado e aprisionado num quarto de hotel sem qualquer explicação. Quinze anos depois é libertado, é-lhe dado dinheiro, um telemóvel e um fato novo. Desorientado, ele luta para descobrir porque foi preso. Mas o seu raptor ainda tem planos para ele e envia-lhe mensagens que o incitam à vingança.

Opinião por Artur Neves

Oldboy é um filme Sul Coreano realizado em 2003 que foi distinguido com o Grande Prémio do Festival de Cinema de Cannes em 2004, tendo recebido rasgados elogios de Quentin Tarantino que à data era o presidente do júri, pelas suas sequências de ação e de luta que o classificaram como um dos melhores filmes neo-noir de todos os tempos e incluído na lista em construção dos melhores filmes do século XXI. Foi a seu tempo um campeão de bilheteira tendo compensado com larga vantagem o seu custo de produção. A história foi baseada numa trilogia mangá japonesa, “The Vengeance Trilogy” da qual este título constitui o segundo episódio.

Em boa verdade a história que o suporta, sumariamente descrita na sinopse, está bem desenvolvida através de um enredo forte que prende o espectador até ao fim pela dissimulação bem conseguida sobre os motivos que justificam a detenção de um homem durante 15 anos num quarto fechado, para o qual lhe omitem qualquer razão para o seu estado. O homem é Dae-su Oh (Choi Min-sik) um empresário coreano que em 1988 foi preso no dia do aniversário da sua filha de quatro anos, por conduta imprópria devido a embriaguez na via pública. Imagine-se agora o desespero dessa pessoa após recuperar o equilíbrio mental perturbado pelo álcool, sentir-se presa num quarto, atrás de uma porta fechada na qual somente se abre um postigo junto ao chão para receber um tabuleiro com comida às horas das refeições, sem que qualquer palavra seja proferida da parte do entregador dos alimentos.

Este isolamento durante um tempo tão prolongado provoca inevitavelmente insanidade que Dae-su responde como pode, vendo televisão, fazendo atividades físicas, destruindo os móveis do quarto, fazendo desenhos, tentando a fuga através da destruição das paredes que resistem bem às suas investidas, construindo respostas para as perguntas que nunca o abandonam e desenvolvendo uma filosofia que partilha com o espectador em off e que há de servir de sustentáculo para todas as suas ações após sair do cativeiro a que foi sujeito, igualmente sem uma justificação, sem uma palavra, sem um destino, tendo-lhe apenas sido entregue um fato e algum dinheiro.

Julgo também importante avisar o leitor, que para lá da excelente qualidade do argumento e da boa interpretação dos personagens, estamos perante uma cultura diferente da cultura ocidental o que muda tudo relativamente aos comportamentos que estamos habituados a experienciar em situações semelhantes. Começando pela linguagem, com a sua dicção brusca e abrupta em todas as situações que nos faz estranhar o seu comportamento e onde não encontramos emoções que corroborem a sua equivalência ocidental. Por outro lado, as ações individuais provocam decisões que aos nossos olhos são tomadas sem a natural ponderação que é habitual assistir no ocidente, assim como, as expressões emotivas denotando uma urgência e uma inevitabilidade a que não estamos habituados e que nos é estranho. Considere-se ainda ser um filme realizado em 2003, numa fase em que a presença oriental no ocidente estava no seu início e essa cultura milenar existia ainda muito fechada dentro dos seus limites.

Todavia, depois de aceitar as suas peculiaridades e caraterísticas intrínsecas de amor, ética, moral e forma de executar uma vingança, afinal é disso que se trata a história do filme, fica-nos o devido espaço para apreciar um enredo que se desenvolve numa mente ferida, à procura de provocar idêntico sofrimento no causador de um suicídio. Só no fim saberemos tudo e durante os 122 minutos de duração do filme vamos sendo lentamente informados, com fugazes indícios, sobre os motivos que residem por detrás das ações dos personagens. Muito interessante a todos os níveis, gostei e recomendo sem reservas.

Tem estreia prevista em sala para dia 25 de Novembro

Classificação: 8 numa escala de 10

 

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