Sinopse
Maria, Pinuccia, Lia, Katia
e Antonella são cinco irmãs que vivem num apartamento em Palermo. Ganham a vida
alugando pombas para cerimónias. Num dia normal, na praia, Antonella morre
acidentalmente. A sua morte irá transformar as suas relações para sempre.
Filme que esteve em
competição no Festival de Veneza de 2020, onde foi o vencedor de vários
prémios, nomeadamente o Pasinetti Award para melhor filme e melhores atrizes.
Opinião
por Artur Neves
Esta história baseia-se num
romance escrito em 2014 pela realizadora Emma Dante, que dele fez inicialmente
uma peça de teatro e agora passou para filme, notando-se aqui a centralidade do
desenvolvimento da ação no interior do apartamento em Palermo na Sicília,
viveiro de pombos, (nem imagino como em teatro isto foi representado) o que
limita toda a história ao interior das paredes da habitação, subordinando-se
assim à linguagem teatral que apresenta princípios cénicos diferentes da
linguagem cinematográfica em que agora é apresentado.
Claro que há filmes
totalmente rodados em espaços fechados, como tribunais, quartos ou mesmo casas,
mas a história que os suportam não se reporta à forma como a juventude destas
cinco irmãs se transforma em idade adulta e daqui passa para a desilusão da
velhice solitária e insatisfeita. A mais nova, Antonella, com 6 ou 7 anos e a
mais velha, Maria, com 17 ou 18 anos, é quem toma conta dos negócios da casa,
entre elas ficam; Katia, Lia, que prefere isolar-se para ler do que cooperar nas
tarefas domésticas e Pinuccia que cedo começa a dar sentido aos seus impulsos
sexuais.
Quando as conhecemos elas já
vivem por sua própria conta, sem pais, tutores, ou alguém que lhes mostre um
caminho de vida, qualquer que ele seja. O seu relacionamento com o exterior é
com o empresário de eventos que lhes aluga os pombos, para os soltar durante a
festa e que posteriormente regressam novamente ao pombal. Elas vivem em roda
livre, por elas próprias, cada uma mostrando as suas tendências, desejos,
conflitos entre elas, sem qualquer modelo para se guiarem, ou se conterem. Nenhuma
frequenta a escola ou tem qualquer tarefa estruturado exceto alimentar os
pombos e mesmo essa tem diferenças de acordo com a sua autora. A ida à praia é
uma distração fortuita, imediatista, sem preparação, exceto vestirem-se e prepararem
o lanche. Do acidente que vitima a mais nova, só temos conhecimento dele em flashback no final do filme, sendo todavia
sugerido na ida à praia, servindo como transição para encontrarmos as quatro irmãs
restantes na idade adulta, dando início à 2ª parte do filme.
Vemo-las num reunião
familiar em que Lia, empurrada pelo seu marido, pretende convencê-las a vender
o apartamento para usufruir de algum dinheiro do bem que é de todas. Lia
procura essa vantagem sem se preocupar como ficariam as outras três irmãs que continuam
a partilhar o espaço embora já sem a atividade do negócio dos pombos que continuam
a pairar nas redondezas. É um diálogo amargo, generalizadamente conflituoso
entre todas, com ameaças e acusações mútuas que podem derivar das suas
diferenças, da sua coabitação forçada por ausência de alternativas e não
especificamente do remorso pela morte da irmã mais nova, tal como é referido na
sinopse. Elas encontram-se a meio da vida, Lia não é feliz no casamento, as
outras não seguiram um caminho autónomo e suportam-se por necessidade. Não há
felicidade naquele conjunto de mulheres e é isso que motiva os seus confrontos.
Na 3ª parte encontramos três
irmãs já velhas a cuidarem penosamente umas das outras, preparando o funeral de
uma delas e despejando o apartamento de que já não precisam e que foi
negligenciado e sem amor durantes os anos em que o coabitaram. É uma tragédia
global que define esta história em que a morte da irmã foi apenas o episódio
mais doloroso.
Emma Dante tem aqui uma
história poderosa, da saga de uma família desestruturada que cresceu sem
amadurecer que serviria para uma série ao estilo de “Downton Abbey”, e que por isso não
cabe nos 89 minutos que lhe foram dedicados aparecendo-nos como uma série de
postais ilustrados sobre cenas da vida de pessoas ligadas por laços familiares
mas que nada mais conseguiram entre si do que o desgosto, a angústia da solidão,
e as acusações mútuas da sua própria miséria. As personagens criadas são
planas, carecem de densidade, porque nós vemo-las apenas nas situações que a
realizadora nos mostra, omitindo o caminho que as levou até ali. É fácil,
dentro do senso comum, inferir o seu percurso, mas aí é o espectador a dar
conteúdo às imagens e aos factos e não a interpretar o caminho que caberia a
Emma Dante mostrar e justificar.
Na 3ª parte podemos observar
uma estranha paz de comiseração e aceitação da vida que gorou as expectativas
de juventude e culpar o sentimento de perda insuperável, mas ainda assim serão
liberalidades do espectador e não uma conclusão do fio da história. É pena… algumas
imagens de dias ensolarados e pássaros esvoaçando no céu sem nuvens não inibem sair-se
do filme com a sensação de saber a pouco… muito pouco mesmo.
Tem estreia prevista em sala
dia 01 no de Dezembro
Classificação: 4 numa escala
de 10
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