14 de novembro de 2021

Opinião – “O Meu Primo Desajeitado” de Jan Kounen

Sinopse

Pierre (Vincent Lindon, de “A Lei do Mercado”) é um executivo em funções na sua empresa familiar de vinhos. Prestes a firmar o que ele julga ser o negócio do século, ele deve concluir uma última formalidade: conseguir a assinatura do seu primo Adrien (François Damiens, de “A Família Bélier”) que possui 50% das ações da empresa. Os dois vão embarcar na viagem de negócios mais explosiva das suas vidas onde os sentimentos familiares serão testados ao limite.

Opinião por Artur Neves

Este filme, na tradição comum do cinema francês, apresenta-nos uma história em jeito de comédia, mas com mais mensagem para lá dos gags normais dos filmes de comédia, na viagem de avião e noutras cenas que conduzem a trapalhadas caricatas das suas personalidades dissonantes, considerando que se trata do confronto de dois homens com posturas perante a vida profundamente diferentes que o acaso conduziu a um projeto comum abordado à luz das suas diferenças.

A sinopse sumariza a história que não passa da realização de um negócio de compra de uma empresa e de uma marca com créditos firmada no ramo, com vista ao incremento da empresa familiar de vinhos de que ambos são possuidores, que lhes trará inerentes benefícios mútuos na continuação do negócio. Todavia a história profunda assenta no olhar diferente que ambos têm sobre o negócio comum, nos diferentes pormenores que ambos valorizam na empresa, decorrente da forma muito diferente que ambos têm em ver o mundo, o amor e as coisas da vida. É mais um filme de pormenores, de subtilezas, que embora não sendo óbvias e tradicionais, devido às suas diferentes personalidades, não deixam de ser subtis e de pormenor.

Pierre Pastié é o gestor focado no trabalho, na obrigação de conseguir o progresso continuado para a sua empresa, criar e manter oportunidades de negócio cada vez mais vantajosas com prejuízo da atenção devida à sua família, ao filho e à sua casa. Adrien Pastié, seu primo muito chegado devido a tê-lo salvado de um desastre de afogamento, como viremos a saber mais tarde, é o oposto dele. Desorganizado, sempre inspirado para viver o momento, indiferente às consequências das suas atitudes, intempestivo sem contudo ser violento e com uma sensibilidade exacerbada em relação a tudo o que o cerca e envolve. Desaparece sem deixar rasto nem atualiza a sua localização, como desta vez em que já não via o primo Pierre há 10 anos e só volta para se inteirar da necessidade da sua presença no negócio que Pierre quer consumar. Todavia a sua forma de interagir com o meio é totalmente personalizada e estranha aos olhos menos habituados a compreender comportamentos fora da caixa, o que gera todo o enredo da história contada neste filme.

Como pode imaginar-se não é fácil objetivar diferenças subtis entre pessoas, o que torna a história interessante do ponto de vista da surpresa que as diferentes conceções possam apresentar, mas por outro lado enferma de uma narrativa com pouca dinâmica porque fica declarada à partida a divergência mútua de opiniões, tornando esta algo arrastada. Porém, o twist final imposto à história, com um misto de lucidez, humanidade e discernimento inesperado de onde menos era previsível, reabilita a confiança nas personalidades flexíveis relativamente às obstinações teimosas. Interessante.

Tem estreia prevista em sala para dia 18 de Novembro

Classificação: 5 numa escala de 10

 

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