23 de setembro de 2021

Opinião – “Até à Morte” de S.K. Dale

Sinopse

Emma (Megan Fox) sente-se presa num casamento moribundo. Como surpresa para o 10º aniversário de casamento, o marido leva-a para uma casa isolada à beira de um lago onde preparara um serão romântico. Mas antes que ela tenha tempo para fazer perguntas, Mark levanta a arma e… dá um tiro na cabeça. Emma fica em estado de choque. Coberta pelo sangue do marido, a cabeça não lhe pára, a tentar perceber o que aconteceu e como sair daquela situação. Emma dá por si encalhada na casa do lago, no meio do nada, em pleno Inverno, sem roupa para trocar, sem telefone para pedir ajuda, sem um carro que funcione, sem objetos afiados que lhe permitam libertar-se do corpo e das algemas. Mas esse é apenas o início do plano retorcido de Mark.

Será Emma capaz de enfrentar o seu pior pesadelo e libertar-se finalmente – e literalmente – do seu morto casamento?

Opinião por Artur Neves

SK Dale (realizador australiano que faz segredo do seu nome) estreia-se em longas metragens com este filme que reúne bons fatores de surpresa e suspense para uma primeira realização. No seu curricula incluem-se mais quatro curtas metragens, algumas das quais foi também argumentista e produtor mas no momento importa este seu trabalho, de vulto para o panorama cinematográfico, do qual se pode dizer que não tenha saído mal.

A história é simples e direta tal como a sinopse resume, mas o seu desfecho não é inferível como inicialmente se poderia pensar de um estreante. Os personagens são consistentes e o enredo desenrola-se ao longo da história que apanha Emma de surpresa com o suicídio do marido, tal como aos espectadores. Emma é uma mulher marcada por um ataque violento que sofreu há uns anos e do qual vem lentamente recuperando, ficando agora entre a raiva e o susto na sequência do inusitado suicídio do homem que a convidou para um fim de semana idílico de recuperação da confiança e do amor.

Deve ser chocante pensar-se em felicidade e se súbito ver-se algemada a um morto, depois das primeiras palavras trocadas com Mark, ainda na cama de uma noite de amor que prometia redenção. É mais um daqueles filmes que demonstram elogiosamente a capacidade de resiliência das mulheres, outrora reconhecidas como frágeis e indefesas e agora mostrando em todo o seu esplendor de força e coragem necessárias para resolverem os seus problemas pelas suas próprias mãos, invariavelmente criados por homens que as destratam, desconsideram e constituem a razão fundamental dos seus insucessos. Uma lapidar inversão de valores que os novos tempos trouxeram e a justa igualdade entre os dois sexos veio defender e provar, numa história cáustica sobre o poder autodestrutivo e a fragilidade masculina que a todo o tempo não para de se revelar.

A vingança de Mark, porém tem outros cambiantes que ele preparou para infligir o maior sofrimento possível a Emma mesmo após a sua morte, mostrando a complexidade inerente aos relacionamentos tóxicos que esta história postula. Megan Fox está muito bem no seu personagem e o seu magnetismo domina a tela defendendo a posição que arrasta todos os eventos subsequentes, construindo uma Emma valorosa que arrasta a simpatia dos espectadores, decorrente da sua sensibilidade fria que enfrenta com determinação e engenho todas as dificuldades que se lhe apresentam.

O filme apresenta muitos twists que envolvem diamantes escondidos, invasores contratados por Mark, cofres de alta segurança, uma paisagem branca com um percurso de gelo fino sobre o lago que estimulam o desempenho de Megan Fox para tornar este “Até à Morte” um desafio entusiasmante e divertido, que embora não tenha nada a dizer sobre as virtudes ou defeitos do casamento, vale todos os seus 88 minutos de duração que nos afastam da vida real. Não é um filme de grandes voos, mas é interessante e gostei.

Nos cinemas a partir de 23 de Setembro

Classificação: 6 numa escala de 10

 

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