Sinopse
Daphné, grávida de três
meses, está de férias no campo com o companheiro François. Ele tem que se
ausentar para o trabalho e ela vê se sozinha para dar as boas-vindas a Maxime,
seu primo que ela não conhece. Durante quatro dias, enquanto aguardam o retorno
de François, Daphne e Maxime gradualmente se conhecem e compartilham histórias
cada vez mais íntimas sobre suas histórias de amor do presente e do passado …
Opinião
por Artur Neves
Emmanuel Mouret é um
realizador francês nascido em Marselha em 1970 que já nos surpreendeu em “Mademoiselle
de Jonquières”, filme de 2018, segundo a obra de Diderot, pela gentileza e
finura demonstrada na conversão em argumento do romance do século XVIII, onde
se aborda a eterna volatilidade do amor, dando corpo e figuração à frase de François
de la Rochefoucauld que nos diz: “A constância no amor é uma inconstância
perpétua”.
A história é bastante
simples, Maxime (Niels Schneider), chega á casa de campo do seu primo François
(Vincent Macaigne), a convite deste, depois de uma grande separação com o objetivo
de encontrar o ambiente propício a escrita a que ele se quer dedicar por
vocação e profissionalmente. Todavia ele não se encontra de momento, por
motivos que mais tarde saberemos e quem o recebe é Daphne (Camélia Jordana), a
companheira do seu primo que se encontra grávida, mas que assume os custos da
oferta do seu parceiro, recebendo-o e integrando-o no ambiente da sua casa
durante a ausência de François.
Deste modo não previsto,
Maxime e Daphne têm de conviver e de conversar nos assuntos correntes que
evoluem para outros mais sérios, como a descrição do seu plano de escrita do
livro que se propõe realizar, que inclui o relato de histórias de
relacionamentos amorosos clássicos e modernos começando precisamente pelo seu próprio
relacionamento.
Máxime descreve o seu
desapontamento e a ferida emocional deixada pela mulher que foi o objeto do
seu amor recente, mas que o abandonou ao apaixonar-se pela sua melhor amiga. As
descrições são acompanhadas por flashbacks
que ilustram os acontecimentos vividos e o despontar da paixão e da consequente
desilusão de Máxime que provocam em Daphne sentimentos de comiseração e
simpatia que lhe motivam um envolvimento naquele jogo, partilhando com ele
confidencias mais íntimas do seu percurso amoroso com François e antes dele.
A narrativa das histórias é
construída com grande habilidade e subtileza transportando para o espectador
toda a problemática do amor, dos relacionamentos, das vivências defendido
através do discurso de um sociólogo, para o qual Daphne preparava uma
apresentação, que o amor não implica a posse do objeto amado e que o ciúme, a
raiva, o sentido de perda são impróprios de surgir em qualquer relação. Esse sentimento
negativo deve ser sublimado pela alegria, pela felicidade que se sente em
contemplar a felicidade do outro no novo relacionamento, sem qualquer
sentimento vingativo ou malicioso de qualquer espécie, para lá da dor que isso
nos cause, sendo para a demonstração desse final que o enredo da história nos
conduz durante os 122 minutos de duração.
Como se compreende é um tema
que não tem uma abordagem fácil, principalmente se o isentarmos do tom lamecha para
onde estas situações têm propensão em derrapar. Mouret conseguiu encontrar os
atores adequados para modular os personagens com a elegância necessária que
embora mostrem o sofrimento dos seus tormentos internos, mantêm uma aparente
leveza nas suas atitudes externas em linha com os princípios definidos no parágrafo
anterior. Significa isto que não interpretam uma atitude generalizadamente real,
mas antes, absolutamente coerente com a filosofia apresentada como base do relacionamento
amoroso saudável.
O filme conta magistralmente
a história que o suporta entretecendo as histórias pessoais vistas de ambos os lados,
construindo um jogo de sedução mútuo para Maxime e Daphne, embora não faltem
também os necessários twists que nos
justifiquem algumas atitudes menos claras. Todos os diálogos são bem
construídos, enfatizados pela música constante das valsas de Schubert, das
sonatas de Haydn e dos concertos de Chopin, conduzidos com o perfeito domínio
da escrita e dito pela modulada língua francesa que torna credível a culpa de
tudo o que se prometeu fazer sem sucesso, assim como, de tudo o que fizemos sem
ousar admitir. Não é filme para todas as audiências mas recomendo sem reservas.
Classificação: 7,5 numa
escala de 10
Tem data prevista de estreia
em sala para 25 de Novembro
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