23 de julho de 2021

Opinião – “Uma Família de Doidos” de Jean-Patrick Benes

Sinopse

Certa manhã, os Morel acordam com um grande problema. Descobrem que o espírito de cada um deles está preso no corpo de outro membro da família! Chacha, de 6 anos, está no corpo do pai, o pai (Franck Dubosc) está no corpo do filho adolescente, o filho está no corpo da irmã mais velha, a irmã mais velha está no corpo da mãe e a mãe (Alexandra Lamy) está no corpo de Chacha… Conseguiram acompanhar? Eles também não. E isso é apenas o início.

Opinião por Artur Neves

Esta é a proposta francesa para a silly season e como tal tem mesmo de ser silly, para respeitar o figurino que o cinema francês nos oferece todos os anos por esta altura, só que este ano para se sentir o lado cómico da ideia é necessário ter uma noção clara de cada um dos personagens, para apreciar no que eles se tornam depois da troca dos espíritos, tal como mencionado na sinopse, em todas as vezes que os espíritos individuais resolvem trocar de hospedeiro. Em abstrato a ideia potencia um largo espectro de situações mais ou menos cómicas, de acordo com o assunto abordado, por cada um dos elementos da família, apresentando-se assim uma comédia sustentada pela fantasia de uma situação improvável que a magia do cinema torna possível e concretizável.

Como cada um dos membros da família goza das idiossincrasias próprias da sua personalidade individual teremos de saber quem é quem e o que o torna diferente, para apreciar convenientemente a transformação na situação de quando é abduzido pelo espírito do outro. Para isto ser possível e necessário dar tempo para o conhecimento dos problemas dos personagens individuais primários, que o filme não tem nos seus 110 minutos de duração, para depois os pôr a divergir na interação com esses problemas quando possuídos pelo espírito dos outros.

Para simplificar procedimentos para a obtenção desta necessidade, a realização de Jean-Patrick Benes, que teve a ideia e foi coautor do argumento, mas que não apresenta curricula digna de registo no género, opta por várias estratégias, como colar na testa de cada um dos personagens um post-it com o nome do espírito abdutor, ou vesti-lo com uma T-shirt onde está estampada a cara do espírito abdutor, ou outros estratagemas semelhantes que no mínimo fazem perder a sequencia da história, ou ainda, tornam avulsas as peripécias com que cada personagem se confronta em cada situação que não lhe pertence e que deveriam servir para provocar graça, mas pecam pela confusão que lançam no desenrolar da história.

Todavia não se pode dizer que o filme seja completamente despido de graça, pois contém gags diretos, tais como, a descoberta do amante da mãe pela filha mais nova, ou a incorporação do espírito da mãe no corpo do pai que passa a receber as mensagens de amor do amante da mulher e fica a conhecer a sua infidelidade e outros trocadilhos do género que causariam maior impacto no espectador e na história, se tivesse havido tempo para os conhecer mais profundamente na sua originalidade.

Deste modo a maior conquista desta história esdrúxula, são breves sorrisos em situações imediatas, que não precisariam de tanta imaginação que se torna inerente considerando a complexidade da história, alguns bocejos esparsos para situações declaradamente forçadas e alguma complacência e admiração para a dificuldade de colocar em ação um script que por vezes perde lógica na sua ambição de provocar sorrisos a todo o custo. Vale também a sua promoção da família e a defesa da sua integridade e união em tempos difíceis fabricado à custa de uma fantasia inverosímil. É caso para dizer; … não havia necessidade…

Estreia nas salas de cinema em 5 de Agosto

Classificação: 4 numa escala de 10

 

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