15 de julho de 2021

Opinião – “Mistura Explosiva” de Navot Papushado

Sinopse

Sam (Karen Gillian, “Jumanji: O Nível Seguinte”) tinha apenas doze anos quando a mãe, Scarlet (Lena Headey, “Game of Thrones”), uma assassina profissional, se viu obrigada a abandoná-la. Sam foi criada pela Firma, uma implacável organização criminosa para a qual a mãe trabalhava. Agora, quinze anos depois, Sam seguiu os passos da mãe e tornou-se uma assassina temível que usa as suas "aptidões" para resolver as trapalhadas mais perigosas da Firma, com a supervisão de Nathan (Paul Giamatti). Ela é tão eficiente quanto leal.

Mas quando um trabalho de alto risco corre mal, Sam tem de escolher entre servir a Firma ou proteger a vida de uma inocente menina de oito anos - Emily (Culoe Coleman). Sob perseguição, Sam tem apenas uma hipótese de sobreviver: reencontrar a mãe e as suas letais associadas, As Bibliotecárias (Angla Bassett, Carla Gugino, Michelle Yeoh). Estas três gerações de mulheres têm de aprender a confiar umas nas outras, enfrentar a Firma e o seu exército de capangas, e infernizar a vida de quem lhes pode tirar tudo.

Opinião por Artur Neves

Nota-se uma tendência frequente na proliferação de filmes sobre assassinos que matam de qualquer maneira e por vezes até debaixo de água, bem ao género de John Wick e outras réplicas semelhantes, com a nuance de serem elas quem mais mata neles, invariavelmente representados por façanhudos, ineptos e mentecaptos que elas despacham em três penadas. Zaz, trás, pás e aí estão elas na mó cima, incólumes, sem mácula nem deficiências de maior, apesar de levarem uns tiritos que só lhes fez moça de raspão, mas nada que impeça às nossas heroínas de “levarem a taça” em todas as disputas em que se metem.

Ainda no recentemente estreado “Black Widow” encontramos situações semelhantes, parecendo estarmos a assistir a uma nova ordem social em que elas é que são o supra-sumo da barbatana e passam o “trofeu” de mães para filhas numa dinastia geracional de empoderamento feminino. Só que não basta ser-se a maior, porque os vilões que elas combatem, toscos, burros e manifestamente ineptos, surgem como que uma manobra de simplificação piedosa, já que a história em que se envolvem não tem profundidade, nem tempo, nem oportunidade para analisar as implicações da construção destas super-assassinas, considerando somente o seu trauma de se ligarem a uma franja de homens que manifestamente não as merece, nem em termos de competição física.

Não sei o que se pretende com isto, se é somente os proventos de uma bilheteira de massas, ou se existe algum substrato ideológico impulsionado pelo #MeToo ou outra plataforma semelhante que faz girar as histórias em torno de manifestações de energia feminina abundante, mas que por se restringir somente a isso torna-se fraco na obtenção de resultados que poderia ter tido se colocasse as heroínas, por exemplo, por detrás das câmaras a construir histórias mais apelativas do que em distribuir murros e pontapés em todo o bicho careto que lhes aparece.

Não sei o que se pretende na repetição de sketchs do mais banal que o cinema tem, agora interpretados por mulheres que fazem disso modo vida e pretendem continuar a saga porque a inclusão de uma criancinha abandonada, Emily (Culoe Coleman) uma menina sem mãe, a quem mataram o pai e que nutre particular simpatia e é protegida pela assassina Sam (Karen Gillian) que também foi iniciada pela sua própria mãe Scarlet (Lena Headey) também assassina agora reformada, só pode indiciar que na perspetiva do realizador israelita Navot Papushado, (que também escreveu o argumento em conjunto com Ehud Lavski), só pode significar que se preparam para mais uma saga de assassinos em barda, agora no feminino.

Assim esta “Mistura Explosiva” vive alimentada por ambientes super estilizados, agressivamente iluminados por neons, na sombra de uma organização secreta que se dedica a “trabalhos difíceis” discretamente executados por super assassinas como Scarlet, que passou a herança à filha 15 anos antes e no futuro esta irá passar à adotada Emily, para seguir o modo de vida da estirpe desenterrada de um estereotipo que cheira a mofo, tais são as vezes que o modelo é utilizado no cinema e agora até no feminino.

Temos assim mais um filme inspirado em histórias de quadradinhos, interpretado por um elenco comprometido e sério, com Nathan (Paul Giamatti, quase desaparecido desde “Sideways” de 2004), coadjuvado pelas “tias” da biblioteca (Angla Bassett, Carla Gugino, Michelle Yeoh) que guardam um arsenal de guerra em livros interiormente recortados à medida e os distribuem de acordo com as necessidades do “trabalho” e protagonizam significativas reviravoltas que fazem deste thriller?... ambientado numa cidade sem nome e filmado em Berlim, um filme de ação com muita porradinha e pouca surpresa durante os 116 minutos de duração.

Estreia hoje, dia 15 de Julho nas salas e promete diversão fácil…

Classificação: 4 numa escala de 10

 

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