5 de julho de 2021

Opinião – “A Cada Passo Teu” de Vaughn Stein

Sinopse

Philip (Casey Affleck) é um psiquiatra cuja carreira fica comprometida quando uma paciente com quem tem uma relação especial se suicida. Quando convida o irmão da paciente (Sam Claflin) para ir a sua casa conhecer a mulher (Michelle Monaghan) e a filha (India Eisley), a vida familiar de Philip é subitamente destruída.

Realizado por Vaughn Stein, “A Cada Passo Teu” é um intenso thriller psicológico.

Opinião por Artur Neves

Este é daqueles filmes em que se espera mais do que ele pode oferecer. Tem tudo para ser um sucesso, uma boa história, atores consagrados, um director com provas dadas embora com algumas fraquezas, aliás não se compreende bem como Casey Affleck deu corpo a este projeto, presumo que ao ler o argumento onde se desenvolve um thriller psicológico com alguma complexidade, ele deve ter pensado num resultado diferente do que se veio a revelar.

O início é verdadeiramente explosivo pois não se espera um evento daqueles a escassos minutos da abertura, mas em tudo o que se segue, para a qual a revelação inicial é fundamental embora não sendo central na história, o filme “perde gás” e só posteriormente toma o lugar que lhe é devido quando outros eventos chamam a atenção do espectador duma maneira arrastada, dúbia e pouco verosímil para o tema em apreço.

Tal como referido sumariamente na sinopse o princípio do drama ocorre quando, surpreendentemente Phillip (Casey Affleck) convida James (Sam Claflin), irmão da sua paciente que se suicidou, que lhe aparece à porta de casa com o motivo de devolução de um livro que tem escrito o nome dele. Acrescente-se ainda que o convite é coadjuvado por Grace (Michelle Monaghan) e por sua filha Lucy (India Eisley) que ficaram quase como que fascinadas por aquele estranho que lhes bate à porta à hora do jantar. Começa assim o argumento de telenovela, mais adequado a tarde de cinema de domingo do que a trhiller psicológico, e continua com o encantamento das duas mulheres durante o jantar relativamente a James, apesar de ele nem ter uma conversa muito interessante, nem o trabalho de romancista a que ele declara ter-se dedicado tenha tido o sucesso desejado pelas suas próprias palavras.

O convite, bem como a sua aceitação têm algo de insólito e confirma-se que as suas intenções, pela conversa travada, têm algo de sinistro. O que não soa bem é que através desse primeiro contacto que foi tudo menos auspicioso, ele consiga de uma penada seduzir a mãe e a filha que ficam ambas caidinhas por ele, a filha por ser jovem e se encontrar na idade das descobertas e a mãe como compensação para o afastamento emocional do marido após o evento que deteriorou a estabilidade do casal e para a qual esse afastamento apresenta-se como uma nota de culpa da qual ela não é responsável.

Como se pode inferir o enredo é complexo e tem todos os elementos que permitiriam criar múltiplas cenas de suspense. Aliás, James é hábil em deslizar entre dois modos de ser, na sombra a prejudicar a vida profissional de Phillip e à luz do dia manipulando as duas mulheres no sentido dos seus interesses sem qualquer dose de pudor ou compaixão, só que o argumento mostra-nos somente os factos sem dar espaço ao ator para trabalhar o personagem com mais profundidade nas complexidades psicológicas de um comportamento que se adivinha doente, ficando-se assim pelo estereótipo sem a análise da personalidade em presença. O que sabemos de James é estritamente o que ele nos mostra através das suas ações.

O filme socorre-se da doença mental obsessiva mas banaliza a sua ação para de alguma forma justificar o enredo que criou, inserindo um fator de previsibilidade ao tentar melhorar a trama que nos apresenta com o drama afetivo das duas mulheres para com o psicopata que as manipula. Já conhecemos o género em elementos utilizados em “O Cabo do Medo” de Scorsese, ou em “Atração Fatal”, mas aí de uma forma mais convincente.

Tem estreia prevista nas salas dia 8 de Julho

Classificação: 5 numa escala de 10

 

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