9 de junho de 2021

Opinião – “O Ruído” de Doug Liman


 

Sinopse

Num futuro não muito distante, Todd Hewitt foi criado para acreditar que uma doença matou todas as mulheres e tornou possível que todos consigam ouvir os pensamentos dos outros através de um certo “ruído”, Como resultado, ninguém pode guardar seus segredos. Mais tarde, ele encontra uma fonte de silêncio: uma mulher misteriosa chamada Viola (Daisy Ridley), a primeira que ele conheceu. Neste enredo perigoso, a vida de Viola está ameaçada e como Todd jura protegê-la, ele terá que descobrir o seu poder interior e desvendar os segredos sombrios do planeta.

Do realizador de The Bourne Identity e Edge of Tomorrow, e baseado no romance best-seller The Knife of Never Letting Go, Daisy Ridley e Tom Holland contracenam com Mads Mikkelsen, Demián Bichir, Cynthia Erivo, Nick Jonas, Kurt Sutter e David Oyelowo.

Opinião por Artur Neves

Este filme já teve uma primeira versão em 2011 que foi tão detestada pelo público e pela crítica que a produção resolveu refilmá-lo de novo em 2019 mas com resultados idênticos pois o problema está na história confusa contida no romance distópico de Patrick Ness “The Knife of Never Letting Go” (“A Faca que não Deixa Partir” em tradução livre) porque na história deste povo do futuro (ou do passado, não se sabe) o ato de entregar uma faca a um jovem significa a sua emancipação e o seu reconhecimento como homem integrado na comunidade. Só que não se percebe de onde vêm, para onde querem ir ou que sociedade formaram para estabelecerem esse princípio.

Identifica-se que estão num estado quase primitivo, que são sobreviventes não se sabe de quê, de que cataclismo lhes matou as mulheres. Pela semelhança física com a raça humana presumimos que fugiram da terra e habitam um planeta hostil que lhes retirou a privacidade dos seus pensamentos, expondo-os publicamente através da emissão de ondas mentais percetível pelos outros que estejam perto, a que eles chamam “O Ruído” que dá nome à história. Essas ondas mentais são coloridas pelo que para lá de impedirem a privacidade limita-lhes também a possibilidade de se esconderem revelando a sua localização como um semáforo bruxuleante.

Porém tudo muda quando uma nave chega ao planeta e dela sai Viola (Daisy Ridley) que encontra o jovem Todd (Tom Holland) que ao ver uma mulher pela primeira vez não sabe o que fazer para ocultar os seus pensamentos, apesar de repetir convulsivamente o seu nome para tentar ocupar o seu cérebro e não revelar os reais desejos que possui. No fundo ele só quer ajudá-la (vá-se lá saber porquê) a regressar ao seu planeta pelo que a tem de conduzir aos destroços de outra nave para comunicar com a nave mãe. Ele não conhece a localização dos destroços e o local é meio secreto (com o sempre constante “Ruído” nada é secreto mas…) mas ele tem de descobrir o caminho para a salvar e fica formado o novelo do caos em que se enredou esta história resultando num completo desperdício de recursos e de talento (Mads Mikkelsen desempenha o papel de presidente da comunidade) da história recente de Hollywood.

Quero declarar que não me regozijo com este completos flops cinematográficos pois seja como for, representam as esperanças onde muitas pessoas investiram as suas economias no pressuposto de contribuir para um objeto de diversão e uma obra de cinema capaz de transmitir uma ideia, um pensamento estruturado ou uma filosofia, só que aqui não “habita” nada disso. Alegar ficção científica e mostrar personagens em vestes andrajosas montados em cavalos e desenvolver a história num bosque com cenas de canoagem para chegar aos destroços de uma nave que miraculosamente mantinha intactos e alimentados os meios de comunicação interplanetário é talvez um pouco excessivo para granjear adeptos entre os espectadores.

No livro de Patrick Ness, a trilogia de onde esta história é o 1º volume, é a atmosfera do planeta que faz com que os pensamentos destes colonos sejam audíveis e visíveis. Charlie Kaufman um realizador e argumentista de ideias surrealistas foi quem primeiro deu corpo ao argumento e foi substituído por outros escritores, entre os quais Doug Liman que também assumiu a realização. Ele tem créditos firmados, dos quais “No Limite do Amanhã” de 2014 é um bom exemplo mas aqui ficou aquém do esperado apesar do bom elenco utilizado num pacote de fácil digestão e de adequada configuração. No entanto não ultrapassou o caos que gerou.

Disponível nas salas a partir de 10 de Junho

Classificação: 4 numa escala de 10

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