5 de junho de 2021

Opinião – “Supernova” de Harry Macqueen

Sinopse

Sam (Colin Firth, vencedor do Óscar) e Tusker (Stanley Tucci, nomeado ao Óscar) estão juntos há vinte anos e estão tão apaixonados como sempre. Mas o diagnóstico de demência precoce de Tusker veio alterar radicalmente as suas vidas. Com o agravar da condição de Tusker, Sam viu-se obrigado a suspender a sua vida para se dedicar a tempo inteiro ao companheiro. Enquanto Tusker ainda está em condições de viajar, decidem fazer uma viagem para retomar o contacto com amigos, familiares e lugares de seu passado. Embora Tusker já tenha sido o grande amparo de Sam, cabe agora a este assumir o comando da situação. Com o desenrolar da viagem, as ideias que cada um tem para o futuro começam a confrontar-se. Descobrem-se segredos, revelam-se planos individuais e o amor que sentem um pelo outro é testado como nunca. Por fim, face à doença incurável de Tusker acabam por ter de se enfrentar o que significa amarem-se.

“Supernova” é realizado e tem o argumento original de Harry Macqueen ("Hinterland"), e conta com o diretor de fotografia nomeado para Óscar, Dick Pope ("Os Órfãos de Brooklyn", "Mr. Turner), e é uma comovente e moderna história de amor sobre um casal que que procura resgatar o passado e as amizades que construiu durante a sua vida.

Opinião por Artur Neves

Esta é uma história de perda, perda irreparável porque é a perda do objeto do amor e isso tem um significado maior para o perdedor. Tal como em “A Despedida”, recentemente estreado nas salas de cinema, esta história trata do direito inalienável de cada um sobre o destino a dar à sua vida, quando, pela degradação irremediável da sua saúde isso comprometa a sua autonomia e o seu conhecimento de si de forma tão radical que não se possa chamar vida, ao que resta da sua atividade orgânica.

Já são vários os filmes recentes que abordam esta temática tão em voga, talvez decorrente do aumento da expectativa de duração do tempo de vida, mas que de nada valerá se não incluir a sanidade mental que a justifica. Recordo-me de Julianne Moore em “O Meu nome é Alice” de 2014, Anthony Hopkins em “O Pai” de 2020 ou Susan Sarandon no filme anteriormente referido, cabendo agora a Sam e Tusker (Colin Firth e Stanley Tucci respetivamente) que interpretam um casal gay que estão juntos há vinte anos e desfrutam de uma harmonia invejável fundamentada no amor que continua a justificar a sua união.

Tal como em a “A Despedida” Tusker prepara uma reunião de familiares e velhos amigos na casa da irmã de Sam, Lilly (Pippa Haywood) para a qual se dirigem na sua caravana de muitas viagens, pelas estradas secundárias da província de Lake District, no Reino Unido. Sam preferiria a ajuda do GPS mas porque a voz metálica do aparelho desagrada a Tusker, este prefere seguir no mapa e guiá-lo sobre os caminhos a tomar, a conversa entre ambos é amena e suave, incomum em casais com uma longa vida juntos.

Sam é pianista em licença sabática prestes a reativar a sua atividade logo a seguir a este feriado em que programaram a viagem e Turker é um escritor presentemente afastado da sua atividade pela progressividade da sua doença e relutante em começar a recolher notas para o início, todavia ele continua a dizer que está a escrever um livro para publicação em breve, para acalmar o companheiro que percebe e se preocupa com o crescendo das suas limitações. Quando param para abastecer numa bomba de gasolina, percebe-se a aflição de Sam ao ver que Turker saiu da caravana e não se encontra nas proximidades. Sam pega na caravana e segue a estrada à sua procura até o encontrar, parado em frente de um portão, de olhar vazio, perguntando-se onde está e sem saber como foi ali parar.

O argumento escrito por Harry Macqueen é lento como a vida dos seus personagens colocando o espectador no mundo do casal, dando ênfase ao mais importante que é a relação amorosa entre ambos, a sua vida no interior da caravana, o quarto onde Sam viveu a sua infância na casa dos pais onde ainda vive a sua irmã, a sua cama de solteiro que agora serve para ambos, gerando um ambiente de sã intimidade que nos transmite a paz que reina entre eles.

A viagem não é inocente, Tusker está suficientemente conhecedor do seu estado e o motivo para a festa de aniversário em casa de Lilly arrasta a despedida e a comunicação da sua decisão que é descoberta por Sam antes de tempo, quando a Tusker lhe falta a palavra e ele gere generosamente essa falta. O mais importante em Macqueen é evitar o sentimentalismo barato, a comiseração ou qualquer outra mancha afetiva e consegue-o com pleno êxito. Muito bom, recomendo sem reservas.

Estreia nas salas de cinema a 17 de Junho

Classificação: 7 numa escala de 10

 

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