13 de maio de 2021

Opinião – “Spiral, O Novo Capítulo de Saw” de Darren Lynn Bousman

Sinopse

Um sádico mentor desencadeia uma forma distorcida de justiça em Spiral, O Novo Capítulo de Saw. A trabalhar na retaguarda de um conceituado veterano da polícia (Samuel L. Jackson), o impetuoso detetive Ezekiel "Zeke" Banks (Chris Rock) e o seu novo colega (Max Minghella) ficam encarregues duma investigação sobre assassinatos que recordam, assustadoramente, atos horrendos ocorridos há muitos anos. Involuntariamente envolvido num mistério profundo, Zeke encontra-se no centro do jogo mórbido do assassino.

Opinião por Artur Neves

Os filmes “Saw” constituem uma saga de terror e suspense gerada em Hollywood pela mão de James Wan e Leigh Whannell produzida pela Lionsgate, cujo primeiro filme de 2004 (foi estreado em Portugal em 2005) com o nome de “Saw – Enigma Mortal” a que se seguiram seis sequelas até 2010 ao ritmo de uma por ano sempre numa vertigem gore que se pautou por uma sequência decrescente de qualidade no enredo, contrastado com o progressivo refinamento dos efeitos especiais e das mirabolantes ideias dos “castigos”… “desafios”… impostos às vítimas numa sanha justicialista com forte carácter de assassínio mórbido.

Na terceira sequela de 2006 “Saw – O Legado” mata-se o assassino original John Jigsaw (Tobin Bell) e o mundo tem o ensejo de pensar que seria o fim da saga. Erro crasso, a saga continua a produzir sequelas com narrativas esdruxulas para explicar como depois de morto o assassino e os seus aprendizes continuavam a torturar pessoas. Posteriormente em 2017 aparece ainda um último estertor com “Jigsaw – O Legado de Saw” e com o mesmo personagem demoníaco agora designado por John Kramer e interpretado pelo mesmo ator. Se a saga de “Saw” continuava a render então porque parar?...

Quero ainda deixar claro que o primeiro filme da saga constituiu uma novidade no seu enredo e na sua narrativa, considerando que os jogos de computador estavam ainda no seu início, a tecnologia era insuficiente para provocar as emoções que hoje consegue transmitir e assim a surpresa contida na história de Saw produzia os efeitos desejados para os mais corajosos que aceitavam o desafio e se empolgavam com os ardis criados pela mente perturbada e controversa de Jigsaw. Aliás a cena mais emblemática do 1º filme, um prisioneiro algemado a um tubo que só conseguirá libertar-se se serrar a própria perna com um serrote que lhe foi disponibilizado é repetida neste “Spiral – O Novo Capítulo de Saw” mas sem o efeito anterior, porque sem a inevitabilidade do acto a cena torna-se supérflua e passará despercebida aos espectadores de “primeira viagem” neste filme de 2021.

“Spiral, O Novo Capítulo de Saw” inverte os termos à ideia original e fabrica o suspense através de polícias que procuram descobrir o serial killer que concebe os assassínios punitivos. Em “Saw” o vilão intocável era Jigsaw para quem a polícia não passava de meros intervenientes secundários sem capacidade de intervenção contra a inteligência criativa do seu perpetrador. Contrariamente neste filme, aproxima-se a sua narrativa à de “Seven – 7 Pecados Mortais” de 1995, mas sem o brilho, a argúcia, a imaginação da narrativa perfeitamente lógica do assassino John Doe (Kevin Spacey), em transformar as vítimas em pecadores que morrem de acordo com o castigo para os seus pecados bíblicos, como mártires das suas fraquezas terrenas. “Spiral” não tem essa força, embora tenha o mérito de destacar o presumível conluio de corrupção e mau comportamento cívico e profissional das forças policiais regulares que vão sendo punidas sequencialmente com sofrimento e castigos tirados do catálogo de “Saw”, donde advém a sua referência a essa, esperemos, extinta saga.

Assim, ficamos com o 1º episódio de uma nova saga que começa por emparceirar o género policial numa esquadra com polícias corruptos e seguindo no género de terror que lhe deu origem, com armadilhas semelhantes mas mais sofisticadas que as anteriores, concebidas por um imitador de Jigsaw que se apresenta com uma máscara de porco e que obriga as suas vítimas a fazerem as escolhas que selam o seu destino. A razão das mortes faz parte do enredo da história, todavia sem uma razão convincente para reivindicar o culto de Jigsaw podendo concluir-se ser a Lionsgate a querer fazer renascer o “Saw” na espectativa de reativar o filão anterior. Para mim seria mais produtivo a reinicialização do género com um personagem totalmente novo mas eles é que sabem.

No original, Jigsaw sempre afirmou nunca ter matado ninguém e os seus jogos serem apenas uma maneira de ensinar às pessoas o sentido da vida enquanto a possuímos e podemos agir. Em “Spiral”, ao combater a corrupção policial através do incorruptível Zeke Banks (Chris Rock) esbatem-se os dilemas morais que distinguiram os melhores dois filmes da saga anterior; “Saw I” e “Saw II”, todavia um revivalismo duma história com estes contornos poderia ainda ser pior.

Estreia nas salas de cinema em 12 de Maio

Classificação: 5 numa escala de 10

 

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