Sinopse
Um sádico mentor desencadeia
uma forma distorcida de justiça em Spiral, O Novo Capítulo de Saw. A trabalhar
na retaguarda de um conceituado veterano da polícia (Samuel L. Jackson), o
impetuoso detetive Ezekiel "Zeke" Banks (Chris Rock) e o seu novo
colega (Max Minghella) ficam encarregues duma investigação sobre assassinatos
que recordam, assustadoramente, atos horrendos ocorridos há muitos anos.
Involuntariamente envolvido num mistério profundo, Zeke encontra-se no centro
do jogo mórbido do assassino.
Opinião
por Artur Neves
Os filmes “Saw” constituem
uma saga de terror e suspense gerada em Hollywood pela mão de James Wan e Leigh
Whannell produzida pela Lionsgate, cujo primeiro filme de 2004 (foi estreado em
Portugal em 2005) com o nome de “Saw – Enigma Mortal” a que se seguiram seis
sequelas até 2010 ao ritmo de uma por ano sempre numa vertigem gore que se
pautou por uma sequência decrescente de qualidade no enredo, contrastado com o
progressivo refinamento dos efeitos especiais e das mirabolantes ideias dos
“castigos”… “desafios”… impostos às vítimas numa sanha justicialista com forte
carácter de assassínio mórbido.
Na terceira sequela de 2006
“Saw – O Legado” mata-se o assassino original John Jigsaw (Tobin Bell) e o
mundo tem o ensejo de pensar que seria o fim da saga. Erro crasso, a saga
continua a produzir sequelas com narrativas esdruxulas para explicar como
depois de morto o assassino e os seus aprendizes continuavam a torturar pessoas.
Posteriormente em 2017 aparece ainda um último estertor com “Jigsaw – O Legado
de Saw” e com o mesmo personagem demoníaco agora designado por John Kramer e
interpretado pelo mesmo ator. Se a saga de “Saw” continuava a render então
porque parar?...
Quero ainda deixar claro que
o primeiro filme da saga constituiu uma novidade no seu enredo e na sua
narrativa, considerando que os jogos de computador estavam ainda no seu início,
a tecnologia era insuficiente para provocar as emoções que hoje consegue
transmitir e assim a surpresa contida na história de Saw produzia os efeitos
desejados para os mais corajosos que aceitavam o desafio e se empolgavam com os
ardis criados pela mente perturbada e controversa de Jigsaw. Aliás a cena mais
emblemática do 1º filme, um prisioneiro algemado a um tubo que só conseguirá
libertar-se se serrar a própria perna com um serrote que lhe foi
disponibilizado é repetida neste “Spiral – O Novo Capítulo de Saw” mas sem o
efeito anterior, porque sem a inevitabilidade do acto a cena torna-se supérflua
e passará despercebida aos espectadores de “primeira viagem” neste filme de
2021.
“Spiral, O Novo Capítulo de
Saw” inverte os termos à ideia original e fabrica o suspense através de polícias que procuram descobrir o serial killer que concebe os assassínios
punitivos. Em “Saw” o vilão intocável era Jigsaw para quem a polícia não
passava de meros intervenientes secundários sem capacidade de intervenção
contra a inteligência criativa do seu perpetrador. Contrariamente neste filme,
aproxima-se a sua narrativa à de “Seven – 7 Pecados Mortais” de 1995, mas sem o
brilho, a argúcia, a imaginação da narrativa perfeitamente lógica do assassino
John Doe (Kevin Spacey), em transformar as vítimas em pecadores que morrem de
acordo com o castigo para os seus pecados bíblicos, como mártires das suas
fraquezas terrenas. “Spiral” não tem essa força, embora tenha o mérito de
destacar o presumível conluio de corrupção e mau comportamento cívico e
profissional das forças policiais regulares que vão sendo punidas
sequencialmente com sofrimento e castigos tirados do catálogo de “Saw”, donde
advém a sua referência a essa, esperemos, extinta saga.
Assim, ficamos com o 1º
episódio de uma nova saga que começa por emparceirar o género policial numa esquadra
com polícias corruptos e seguindo no género de terror que lhe deu origem, com
armadilhas semelhantes mas mais sofisticadas que as anteriores, concebidas por
um imitador de Jigsaw que se apresenta com uma máscara de porco e que obriga as
suas vítimas a fazerem as escolhas que selam o seu destino. A razão das mortes
faz parte do enredo da história, todavia sem uma razão convincente para
reivindicar o culto de Jigsaw podendo concluir-se ser a Lionsgate a querer fazer
renascer o “Saw” na espectativa de reativar o filão anterior. Para mim seria
mais produtivo a reinicialização do género com um personagem totalmente novo
mas eles é que sabem.
No original, Jigsaw sempre
afirmou nunca ter matado ninguém e os seus jogos serem apenas uma maneira de
ensinar às pessoas o sentido da vida enquanto a possuímos e podemos agir. Em “Spiral”,
ao combater a corrupção policial através do incorruptível Zeke Banks (Chris
Rock) esbatem-se os dilemas morais que distinguiram os melhores dois filmes da
saga anterior; “Saw I” e “Saw II”, todavia um revivalismo duma história com estes contornos poderia ainda ser pior.
Estreia nas salas de cinema em 12 de Maio
Classificação: 5 numa escala de 10
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