Sinopse
O Mauritano é uma história
verídica de sobrevivência que relata a luta pela liberdade de Mohamedou Ould
Slahi (Tahar Rahim) nomeado para um Globo de Ouro®) após ser detido pelo
governo dos EUA, e encarcerado, durante anos, sem julgamento, na Baía de
Guantánamo. Slahi encontra os seus únicos aliados na advogada de defesa Nancy
Hollander (Jodie Foster, vencedora de dois OSCAR® da Academia) e na sua
associada Teri Duncan (Shailene Woodley, nomeada para dois Globos de Ouro®), as
quais, contra o governo dos EUA, lutam por justiça. Através da controversa
defesa de Slahi, juntamente com provas descobertas por um notável procurador militar,
o Tenente-Coronel Stuart Couch (Benedict Cumberbatch, nomeado para um OSCAR® da
Academia), descobre-se a mais chocante verdade...
O Mauritano, baseado nas
memórias inspiradoras de Mohamedou Ould Slahi (Diário de Guantánamo), é
realizado por Kevin Macdonald, vencedor de um OSCAR® da Academia.
Opinião
por Artur Neves
Baseado nas memórias do
prisioneiro que sofreu as sevícias mostradas no filme, esta história conta-nos
o drama de um homem detido durante 14 anos na prisão de Guantánamo sem acusação
formal. Para ser mais preciso, ele foi preso preventivamente 7 anos até ao
primeiro julgamento que o ilibou por falta de provas, mas continuou detido pelo
governo americano por outros 7 anos, pelos sucessivos recursos da acusação que
manteve discordância sobre o sentido do acórdão do primeiro julgamento, tendo
sido libertado somente quando o governo esgotou as alegações que mantinham a
sua discordância.
Decorrente dos esforços e
dedicação de duas advogadas, Nancy Hollander (Jodie Foster) e Teri Duncan (Shailene
Woodley) com destaque fundamental para a primeira, considerando que o espírito
de equipa e colaboração entre elas se desfaz ao fim de algum tempo (será
posteriormente recuperado mas chegam a separar-se) este filme mostra-nos ainda como
as convicções humanas influenciam a razão objetiva que deve presidir à análise
dos factos, de maneira tão absolutamente contraditória, entre duas mulheres que
analisam o mesmo assunto.
Na sequência do 11 de
Setembro os serviços secretos americanos encontram indícios que são compatíveis
com a incriminação de Mohamedou Ould Slahi (Tahar Rahim, num desempenho
surpreendentemente espetacular) como o mentor e estratega do choque do 2º avião
contra as torres gémeas. Conseguem isso pelo conhecimento da localização e dos
contactos de Slahi com os terroristas efetivamente envolvidos no ataque e com
quem ele não nega ter tido esses contactos, embora num contexto totalmente
diferente do que é subentendido pelos investigadores. A investigação assim
desenvolvida gera a convicção de culpa de Slahi, que adicionada à pressão do
governo dos USA em encontrar os culpados, justifica a sua inevitável prisão para
posterior julgamento e inerente acusação.
Para os investigadores e
para o governo dos USA as suspeitas funcionam como provas e a concessão do
direito de defesa pelas advogadas não passa, em princípio, de um mero pró-forma.
Só que Hollander e Teri mergulham profundamente nos documentos da acusação dos
investigadores, assim como o advogado de instrução do processo, o
Tenente-Coronel Stuart Couch (Benedict Cumberbatch) e dessa análise surgem as
mais fundadas dúvidas, não só pela análise dos factos narrados por Slahi, como
também, pelos documentos que são disponibilizados pelos investigadores,
rasurados, truncados no seu conteúdo e resumidos em relatórios fechados que os
impedem de formular um raciocínio coerente e lógico sobre os eventos, ligações
e crimes de que Slahi está acusado.
Hollander e Teri também não
conseguem provar que Slahi está inocente, nem a narrativa nos apresenta
qualquer prova disso, porque as justificações de Slahi para os contactos que
ele efetivamente assume que teve com os terroristas também não podem ser
provadas. Apenas pode concluir-se que não há provas e que as confissões de
culpa de Slahi foram obtidas sob tortura em condições infra humanas em que
qualquer um confessa o que lhe mandem confessar, para aliviar um sofrimento insuportável.
Temos portanto uma história
de contrastes, muito bem contada, com personagens convincentes onde se destaca Tahar
Rahim num desempenho exemplar de resiliência contra as sevícias sofridas nos
interrogatórios, onde consegue aprender inglês com os guardas durante o tempo
de prisão e escrever coerentemente a sua versão dos factos para suporte da
defesa. Jodie Foster destaca-se na sua tenacidade e perseverança pela defesa do
seu cliente e Benedict Cumberbatch mostra-nos com segurança, a frustração de um
oficial general desencantado com a justiça do seu país ao ponto de resignar ao
posto que ocupa.
Kevin Macdonald soube
construir com qualidade este equívoco jurídico e legal que está próximo de
muitas realidades quotidianas. É um filme para ver e refletir, recomendo
vivamente.
Estreia a 20 de Maio nos
cinemas
Classificação: 7 numa escala
de 10
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