Sinopse
A lendária Billie Holiday,
uma das maiores intérpretes de jazz de todos os tempos, foi adorada por fãs de
todo o mundo durante a maior parte da sua carreira. Na década de 1940, em Nova
Iorque, o governo federal perseguiu Holiday no âmbito de um esforço crescente
para escalar e racializar a guerra contra a droga, procurando impedi-la de
cantar a sua controversa e comovente balada Strange Fruit.
Com realização do nomeado
para Óscares® Lee Daniels (realizador de 'Precious' e 'O Mordomo'). e com
participação da cantora e compositora nomeada para Grammys® Andra Day, Estados
Unidos vs. Billie Holiday apresenta com frontalidade a vida complicada e
irreprimível deste ícone musical. A argumentista Suzan-Lori Parks, a primeira afro-americana
a ganhar um Prémio Pulitzer de Teatro, escreveu esta íntima história sobre uma
destemida pioneira, cuja rebeldia na música ajudou ao crescimento do movimento
dos direitos civis. Vencedora do Globo de Ouro para Melhor Atriz na categoria
Drama, Andra Day está nomeada ao Óscar de Melhor Atriz.
Opinião
por Artur Neves
Este é mais um biopic da dramática vida de uma mulher
que fez carreira como intérprete de jazz com ampla aceitação de um público
vasto que incluía os seus semelhantes raciais mas também uma América na euforia
do progresso, saída recentemente da grande recessão e como tal ansiosa por
tempos melhores de descontração e lazer que fizessem esquecer os anos de chumbo,
cujas consequências estavam ainda visíveis em muitas comunidades, principalmente
na comunidade negra que constituía a população alvo das acusações de desagregação
de um povo que se assumia como superior. Em termos práticos, nada de novo,
ontem como hoje, relativamente a um passado recente de má memória de que
estamos bem lembrados.
O filme começa com uma
entrevista a um jornalista de costumes, Reginald Lord Devine (Leslie Jordan) de
aparência e comportamento francamente efeminado que sem qualquer pudor, considerando
a história de Billie Holiday, lhe pergunta “Como é ser uma mulher de cor?” ao
mesmo tempo que exibe um sorriso idiota sem transmitir o mínimo sinal de
empatia a uma mulher visivelmente debilitada, claramente doente pelo vício da
droga e pela perseguição que lhe foi movida durante toda a vida para que não
cantasse a sua comovente balada “Strange Fruit” que constituía a mais flagrante
denúncia contra a perseguição sofrida pelos negros numa américa de raiz
esclavagista que apesar de formalmente democrática, dificilmente continha o
espírito sulista fiel seguidor de práticas condenadas por uma sangrenta guerra
civil. A sua polémica canção em tons de profundo lamento, pretende dar voz a
todos os que sofrem por si próprios e pelos mais próximos e resistem sofrendo
com medo de serem linchados. Este lamento cantado incomodava a elite por receio
que dele resultasse uma revolta popular em defesa dos direitos civis dos
negros.
É na sequência de a quererem
calar que a polícia a acusa de consumo de drogas exigindo a denúncia dos seus
fornecedores, que ela de facto não conhece mas que é entendido como uma
ocultação do tráfico e punido como tal. Para a tentar apanhar em flagrante
atribuem a Jimmy Fletcher (Trevante Rhodes) um polícia negro, a tarefa de a
seguir e incriminar mas o resultado é contrário ao objetivo porque ele
apaixona-se por ela, reconhece os seus motivos e defende-a em tribunal
carreando o ódio do seu chefe, Harry Anslinger (Garrett Hedlund) e sendo
expulso da organização. Ele constituiu o verdadeiro amor da sua vida, porque da
parte do marido só recebia maus tratos e droga.
Lee Daniels pretende mostrar-nos
isso através da representação de múltiplas cenas da vida de Billie Holiday que
não foram escolhidas com a mesma atenção da cena da entrevista,
desqualificando-a e retirando-lhe o poder que o espectador perceciona nas
primeiras imagens. As tentativas de conferirem profundidade à história como uma
conversa entre o polícia apaixonado por Billie, Jimmy Fletcher e o ascensorista
do hotel (Furly Mac) são demasiado rápidas e fugazes para refletirem o debate
de ideias que a vida de luta de Billie merece. Percebe-se a intenção, mas neste
caso é necessário saber o que se quer contar e como apresentá-lo numa sequencia
coerente. Neste filme isso é entendido como o regresso à “casa da partida” (a
entrevista) mas ao contrário, só faz e reduzir o vigor daquela conversa.
A história vale sobretudo
pela soberba interpretação de Andra Day, inerentemente nomeada ao Óscar 2021
sem todavia lho ter sido concedido, pela sua superior atuação num papel
exigente que polariza a atenção do espectador durantes os 130 minutos do filme pela
tão convincente representação de uma das maiores cantoras de jazz da história que
para além do seu lado artístico personifica uma lutadora pelos direitos dos
negros. Pena é que a história se centre mais no melodrama sentimental e menos na
luta de classes que permaneceu constante nos 44 anos de vida de Billie Holiday.
Morreu no hospital, vítima dos seus excessos de droga, bebida e de cancro mas teve
uma vida cheia, foi amada e é um ícone do seu tempo.
Te estreia prevista nas
salas em 20 de Maio
Classificação: 6 numa escala
de 10
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