18 de maio de 2021

Opinião – “Protótipo” de Gavin Rothery

Sinopse

2049. George Almore (Theo James), especialista em robots, está à beira de uma descoberta. Instalado num complexo remoto e secreto, tem trabalhado no modelo dum androide que é um verdadeiro equivalente humano. O mais recente protótipo deste, o J3, está praticamente terminado. J3 é o aperfeiçoamento de dois protótipos anteriores, o J1 e o J2, em que cada um dos quais é uma versão cada vez mais avançada da sua esposa, Jules (Stacy Martin), que morreu num violento desastre de viação.

Motivado pelo seu amor por Jules, George desviou secretamente o foco do seu trabalho, desenvolvendo os robots com o objetivo de criar um simulacro da falecida mulher.

NOTA – Reedito esta opinião já anteriormente emitida, quando este filme tinha previsão de estreia em Novembro de 2020, Tudo o que anteriormente foi dito continua válido e acrescento a informação que o mesmo tem estreia prevista nas salas para o próximo dia 20 de maio, 5ª feira.

Opinião por Artur Neves

O local é uma montanha coberta de neve na China, perto de Kyoto (na realidade o filme foi realizado na Hungria, num cenário igualmente severo, e digo isto, não para retirar a mística da história mas simplesmente para reposicionar o filme) onde encontramos uma instalação de investigação científica de alta segurança, em que George Almore (Theo James) assume o papel de um one man show, um lobo solitário da ciência robótica que passou quase três anos a desenvolver um androide que mais se aproximasse de um ser humano através da introdução de Inteligência Artificial na sua programação.

Embora o trabalho se encontre praticamente concluído do ponto de vista técnico, George chegou à fase mais sensível do trabalho com uma máquina que replica o livre arbítrio da condição humana, começando a formar os seus próprios desejos diferentes dos do seu criador, já notados nos protótipos anteriores J1 e J2 que apesar de possuírem uma forma quadrada, distante da forma humana e de terem ficado paralisados nos níveis; infantil e adolescente, respetivamente, já experimentam sensações de ciúme e insegurança, particularmente J2 que questiona diretamente George sobre o seu distanciamento atual, decorrente do envolvimento com J3 em fase avançada de realização.

Sendo este o tema principal da história, esta complica-se quando George mistura no seu trabalho o seu sofrimento pela perda da sua mulher num desastre de automóvel e pretende encontrar a imortalidade e a suavização da sua dor, através da programação da personalidade da sua falecida esposa Jules Almore (Stacy Martin) na consciência de J3, tornando-a no monstro ciumento de Frankenstein. Esta evolução é conseguida através de flashbacks sobre a vida de ambos antes do desastre, dos tempos felizes que passaram, que confere à história um fundo emocional que nos mostra o que ele perdeu, justificando a sua vontade de trazê-la de volta.

Gavin Rothery é também o autor do argumento que não dá respostas ao espectador e pelo contrário até levanta questões sobre os limites do controlo através da Inteligência Artificial, sem todavia ensaiar qualquer resposta e adicionar assuntos periféricos, tais como a vigilância remota do seu trabalho por uma supervisora mal-humorada Simone (Rhona Mitra) e a intervenção de vilões sombrios e deslocados que presumidamente vêm inspecionar o seu trabalho mas de uma forma a todos os níveis imprópria para um trabalhador intelectual na área da investigação robótica. É uma utilização avulsa do ator Toby Jones que definitivamente não pertence a esta história nem contribui para ela.

O desenvolvimento da narrativa não é linear, mas para nos fazer entender que ele pretende recuperar a sua falecida esposa no corpo de um androide talvez isso se justifique. O ambiente do laboratório foi conseguido em tons de prata serenos que alternam com o vermelho pulsante no caso de alarme, ou em neons elétricos sempre que o mundo exterior se intromete no santuário tecnológico isolado de George. A música de Steven Price (compositor de “Gravidade”) faz o seu trabalho envolvendo a ação em cordas suaves e sintetizadores nos momentos mais agudos. O enredo prende-nos se tivermos disponibilidade para o aceitar, mas isso só se verifica através de um esforço de vontade durante 109 minutos.

Classificação: 6 numa escala de 10

 

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