Sinopse
Lily (Susan Sarandon) e Paul
(Sam Neill) convocam os seus filhos adultos para um encontro na casa de praia
com a intenção de lhes comunicar uma decisão. O casal planeara um fim de semana
de amor com as habituais tradições de família, mas o ambiente começa a ficar
tenso quando surgem problemas mal resolvidos entre Lily e as filhas Jennifer
(Kate Winslet) e Anna (Mia Wasikowska). Para além das filhas, estão o genro de
Lily, a sua amiga de longa data, a companheira da filha Anna e o neto. Neste
derradeiro encontro na casa de praia, e ainda na posse de todas as suas
faculdades Lily partilha a sua decisão de pôr fim à sua longa batalha contra a
doença. A sua história é, em última análise, um relato de esperança, amor e uma
celebração da vida.
NOTA – Reedito esta opinião
já anteriormente emitida, quando este filme tinha previsão de estreia em 2020
sem data definida. Tudo o que anteriormente foi dito continua válido e
acrescento a informação que o mesmo tem estreia prevista nas salas para o
próximo dia 27 de Maio, 5ª feira
Opinião
por Artur Neves
Neste filme aborda-se de
modo suave a temática da eutanásia, sem conflito, sem discussão política e
apenas respondendo à pergunta crucial desta questão, que impropriamente tem
levantado tanta polémica e que se resume à seguinte pergunta: Afinal, de quem é
a vida?...
Na história, uma família de
classe média alta convoca uma reunião que inclui três gerações para a mãe e avó
desfrutar um fim de semana com todos antes de cometer suicídio acompanhado e
assim usufruir do seu direito à vida que deve incluir a definição do seu termo
de acordo com a sua vontade. Lily tem ELA que já lhe paralisou um braço e lhe
dificulta o andar, arrastando a perna direita e provocará imenso sofrimento no
futuro próximo, tal como, não poder alimentar-se, nem somente respirar sem
ajuda mecânica. Ela rejeita esse sofrimento e enquanto goza das suas faculdades
mentais e de um braço ativo, e quer despedir-se de todos os que lhe são mais
próximos, pelo que inclui a sua amiga desde os anos de faculdade Liz (Lindsay
Duncan) que sempre desempenhou um papel particular na sua vida e que vai
continuar para lá da sua morte.
Para o almoço de domingo ela
pede que seja um almoço de Natal (antecipado, não gosta do Dia de Ação de
Graças) em que todos se empenham em recriar o ambiente Natalício, embora numa
família estável existam sempre divergências, questões não resolvidas do passado
e sofrimento contido que extravasa os limites em momentos de tensão como este.
Sua filha mais velha; Jennifer (Kate Winslet) de temperamento nervoso, crítica
absoluta, louca por controlo e impulsiva é casada com um homem, Michael (Rainn
Wilson), que fala de assuntos que ninguém liga e facilmente se desliga do
ambiente ou é posto de parte por este. Têm um filho; Jonathan (Anson Boon), um
adolescente em plena descoberta da sua vocação e autonomia que lhes faz inusitadas
revelações durante o almoço. A sua filha mais nova; Anna (Mia Wasikowska) gay, sofre de distúrbio bipolar nem
sempre controlado, e vive uma relação instável com a sua namorada Chris (Bex
Taylor-Klaus) que apesar de tudo vai contendo as imprevisibilidades comportamentais
de Anna.
A cena do almoço que se
celebra com estas pessoas é digna de ser apreciada pela cordialidade e elevação
dos temas abordados, em que o sexo é comentado sem culpa nem preconceito, mas
antes como a maior pulsão natural, própria de pessoas. São ditas coisas sem
nota de culpa ou vergonha, incluindo as prendas que Lily destinou a cada um dos
membros da família que inclui um vibrador para acalmar a impulsividade física e
verbal de Jennifer que o marido é incapaz de compensar. É aqui que o cinema mais
cumpre a sua função mostrando-nos eventos do quotidiano de uma forma neutra,
despida de formalismo ou convenções atávicas, fazendo-nos refletir (se
quisermos) sobre a nossa própria realidade.
Todo o elenco tem excelente
desempenho em personagens realistas e credíveis mas Lily, Susan Sarandon,
destaca-se pela sua habilidade de lidar com as inevitáveis cenas pesadas entre
personalidades tão diversas, assim como em todos os momentos de humor suave
criados para aliviar os momentos tensos. O seu desejo de ter um fim de semana
“normal” só é conseguido depois de imprevistas revelações que ela não estava
preparada para ouvir, embora isso não a afaste do seu objetivo, pois a sua
decisão de morte é imposta pela progressiva degradação física provocada pela
doença. Para lá das palavras, a história é enquadrada pelas arias de Johan
Sebastian Bach e pela sonata para piano nº 16, de Mozart, que conferem a
solenidade que o evento se reveste.
É um filme completo no
aspeto da diversidade humana, importante, apesar de ser um remake de um filme
dinamarquês de 2014, “Coração Silencioso”, cujos argumentos têm o mesmo autor; Christian
Torpe, desta vez tendo como cenário a costa inglesa que só o valoriza. Está
prevista a sua estreia em sala, sem contudo possuir ainda uma data. Recomendo
sem reservas.
Classificação: 8 numa escala
de 10
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