24 de maio de 2021

Opinião – “Ninguém” de Ilya Naishuller

Sinopse

Por vezes, o homem em quem ninguém repara é o mais perigoso de todos…

Bob Odenkirk (vencedor de dois Emmy®) interpreta Hutch Mansell, um pai e marido negligenciado, que tudo aceita, sem nunca reclamar. Ele não é ninguém.

Numa noite, dois ladrões invadem a casa de Hutch e este recusa defender-se a si e à sua família, na esperança de evitar uma escalada de violência. O filho adolescente, Blake (Gage Munroe, A Cabana), fica desiludido com o pai e a sua mulher, Becca (Connie Nielsen, Mulher-Maravilha), parece afastar-se cada vez mais dele. Após o assalto, a fúria de Hutch desencadeia instintos adormecidos, levando-o por um caminho que irá trazer à tona segredos mais sombrios e capacidades mortíferas. Num cenário de luta, armas e derrapagens, Hutch tem de salvar a sua família de um perigoso adversário e garantir que nunca mais será subestimado.

Opinião por Artur Neves

Já tínhamos o devaneio violento de John Wick, que por causa da morte do seu cachorro inicia uma jornada vingativa com muitos mortos e um rasto de sangue, que já leva três capítulos e promete, até agora mais dois, sendo um em 2022 e outro em data ainda por determinar, mas que tem potencial para continuar como todos sabemos, eis senão quando entra este novo personagem Hutch Mansell (Bob Odenkirk) que por causa de um assalto a sua casa que ele até permitiu sem se defender, incendeia a sua personalidade secreta quando descobre que os ladrões levaram também a coleira do gato de sua pequena filha.

Dito assim o motivo de tanta pancadaria, mortes e tiros, é leviano e supérfluo mas não deixa de se complicar até incluir a morte de um senhor do crime russo Yulian Kuznetsov (Aleksei Serebryakov), que chefiava uma organização para guardar na américa, as fortunas dos oligarcas russos.

Como se chega a este desatino só mesmo vendo o filme se pode saber, até porque a história tem diversos twists que só assistindo se compreendem e justificam o percurso que o argumentista de John Wick, Derek Kolstad, deu à história e pelos vistos vai continuar porque estas sagas quando são despoletadas nunca se ficam por um filme somente e também porque o final de “Ninguém” já aponta para o futuro.

Até ao desatino de Hutch ele até se apresenta como um cidadão normal, pacato, muito pacato mesmo, envolvido nas suas rotinas diárias de trabalho numa empresa em que é sócio com mais dois amigos, deslocando-se de transporte público, ajudando nas tarefas domésticas, aliás com êxito reduzido, pouco considerado pelo seu filho adolescente, mas amado pela sua filha ainda criança e tolerado pela esposa Becca Mansell (Connie Nielsen) com quem dorme com um travesseiro entre ambos. Até aqui nada nos revela a sua identidade secreta, ou o segredo que o impediu de responder adequadamente ao assalto a sua casa, ou a existência e uma raiva reprimida que depois de libertada nos mostra uma fúria sem limites.

Depois do assalto é que as coisas se complicam, isto é, Hutch reconsidera a viabilidade da sua pacatez (que vimos a saber posteriormente; autoimposta) e geram-se várias situações de alto impacto violento como início da sua nova identidade comportamental, como aquela cena no interior de um autocarro em que ele, só com as mãos e uma pequena faca despacha um punhado de arruaceiros entre os quais se encontra o irmão do oligarca russo, cujo encontro vai ocupar o resto da história e da ação, com um nível de violência feroz e muitos… muitos tiros por minuto.

“Ninguém” funciona num vazio de autoridade onde a população da cidade é ignorada ou deixada à mercê de um bando de fanáticos sociopatas como na cena do autocarro, e tanto Hutch como Yulian possuem elementos de grupo que cuidam deles, que os apoiam em devastadoras cenas de luta com uma simulação de inteligência que se esgota na imaginação dos ataques e das defesas de parte a parte, introduzindo alguma graça em breves momentos, numa história de autodescoberta individual e reencontro familiar, com laivos sentimentais que transformam a violência delirante baseada no ódio num convívio comovente e restaurador de um certa confiança social.

Tem estreia prevista em sala para dia 27 de Maio

Classificação: 5 numa escala de 10

 

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