Uma terna e arrebatadora
história sobre o que nos faz criar raízes, Minari acompanha uma família
coreana-americana que se muda para uma pequena quinta no Arkansas em busca do
seu próprio sonho americano. A casa da família sofre uma enorme mudança com a
chegada da avó, matreira e desbocada, mas extremamente carinhosa. Por entre a
instabilidade e os desafios desta nova vida nas rudes montanhas Ozark, Minari
mostra-nos como a família é resiliente e como se constrói um lar.
Com Steven Yeun (Walking
Dead; Burning) num dos principais papéis, Minari foi o filme vencedor do Grand
Jury Prize e do Audience Award no Festival de Sundance de 2020. Vencedor do
Globo de Ouro para o Melhor Filme Estrangeiro de 2021, Minari foi nomeado para
seis prémios BAFTA e 6 Óscares® da Academia, nomeadamente para ‘Melhor Filme’,
‘Melhor Ator’ (Steve Yeun), ‘Melhor Realizador’, ‘Melhor Atriz Secundária’,
‘Melhor Banda Sonora Original’ e ‘Melhor Argumento Original.
Opinião
por Artur Neves
Minari é um filme simpaticamente desconcertante…
Simpaticamente por ser uma história de família, que valoriza a
célula familiar, a entreajuda que deve existir (e existe neste caso) entre os membros
que a constituem, as pequenas disputas familiares, o quotidiano de uma família
coreana que resolve abandonar a sua terra em busca do sonho americano, no
Arkansas rural e temente a Deus, na década de 60, com uma filha pré adolescente
e um filho em idade infantil que serve como polo de atração para toda a narrativa
que seria ainda mais pobre se ele não existisse.
Desconcertante… porque nos
faz pensar; então e depois?... são imigrantes a lutar pela vida, pelo sustento
do dia a dia obtido á custa da observação do sexo de pintos para os separarem
em caixas diferentes, privilegiando as fêmeas que no futuro podem resultar em
galinhas poedeiras e queimando os machos que por não porem ovos não podem
esperar outro destino que não a incineração.
Minari é apenas uma erva
aromática que a avó, Soonja (Yuh-jung Youn) trouxe da Coreia e plantou nas
margens de um pequeno riacho nos limites da quinta, quando veio viver com a
filha Monica (Yeri Han) a pedido desta e que já tinha motivado alguns atritos
com o marido Jacob Yi (Steven Yeun) que privilegiava com maior interesse a
rentabilização do terreno da pequena quinta para exploração agrícola de
vegetais para vender na cidade, do que para cultivo de flores como era a preferência
de Monica. Quero ainda deixar claro que acho forçada a atribuição a Yuh-jung
Youn o prémio de Melhor Atriz Secundária na cerimónia dos Óscares 2021, quando
comparando o seu desempenho com o de Olivia Colman em “O Pai” ou Glenn Close (muitas
vezes nomeada e nunca premiada) em “Lamento de uma América em Ruínas” (ainda
não anunciado em Portugal) que na minha opinião devem justamente sentir-se
frustradas com as suas desqualificações neste certame.
Não é que o desempenho de Yuh-jung
Youn tenha sido menor ou despiciente, mas o papel que lhe foi atribuído não
exigia mais para lá de uma avó carinhosa, sim, matreira e desbocada como se
refere na sinopse, não, mas apenas avó, coreana tradicional, com hábitos
desajustados à nova vida, que após ter sofrido um AVC provoca um incêndio de consequências
devastadoras a toda a família.
A vida decorre monótona, tendo
no pequeno David (Alan S. Kim) o centro das suas preocupações, no seu problema
cardíaco que preocupa todos e carece de cuidados especiais que o pequeno
coreano nem sempre segue. O trabalho na quinta após as obrigações profissionais
de Jacob Yi também é difícil de manter, só com a ajuda do seu vizinho Paul
(Will Patton) um religioso fanático iluminado por uma fé religiosa que o faz caminhar
cambaleante pelas ruas com uma cruz às costas, celebrando o caminho para o
calvário de Jesus Cristo e impondo a sua presença a Jacob Yi que acaba por aceitá-lo
como colaborador, o que faz deste filme uma história sem heróis em que apesar
das suas diferenças intrínsecas ninguém é minimizado ou ridicularizado,
nivelando igualmente todos os personagens.
Jacob e Monica trouxeram
diferendos conjugais da Coreia que são dificilmente ultrapassáveis e o seu afastamento é
dolorosamente tangível nos conflitos amargos nunca resolvidos e relegados para
um limbo que o filme prefere ignorar, mostrando-nos apenas um hiato de vivência
de um casal que resolveu arriscar fora do seu meio natural. “Minari” fica assim
reduzido a uma erva aromática num “cozinhado insonso” que se esgota em si
próprio e cujo “cozinheiro”; Lee Isaac Chung, parece que perdeu a mão.
Tem estreia prevista para 13
de Maio nas salas de cinema
Classificação: 5 numa escala
de 10
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