Sinopse
Existe a teoria que o ser
humano deveria nascer com uma pequena quantidade de álcool no sangue e que a
embriaguez moderada abre as mentes para o mundo ao nosso redor, diminuindo os
problemas e aumentando a criatividade. Atentos a esta teoria, Martin e três dos
seus amigos, professores cansados do ensino secundário, embarcam numa
experiência para manter um nível constante de intoxicação durante o dia de
trabalho. Se Churchill venceu a Segunda Guerra Mundial ébrio, quem sabe o que
alguns copos podem fazer por eles e pelos seus alunos? Os resultados iniciais
são positivos e o pequeno projeto dos professores transforma-se num verdadeiro
estudo académico. Mas rapidamente fica claro que a experiência, ainda que
interessante, traz consequências.
Opinião
por Artur Neves
Quem não sentiu que aquele
copito a mais lhe libertou a imaginação, a fluência verbal e a boa disposição
numa reunião de amigos?... se não sentiu é porque não se conhece, é demasiadamente
contido ou tem medo de revelar a si próprio a sua autenticidade reprimida. É disto
que trata esta história muito bem realizada por Thomas Vinterberg, já nomeado
para o prémio de melhor realizador e interpretada por um Mads Mikkelsen ao seu melhor
nível que neste desempenho revela-nos um personagem profundamente humano com
todas as suas misérias, tristezas e desencantos, intercaladas por momentos de
pura euforia e felicidade. Qual das duas é a verdadeira essência humana?... ou
será que ambas fazem parte de um todo harmónico e perfeito?...
Mads Mikkelsen é Martin, um
professor de História, de aparência triste e taciturna que não consegue
empolgar os seus alunos para a matéria versada nas aulas ao ponto que a classe
reclamar dele junto da diretora manifestando o seu receio de impreparação para
o exame de qualificação a que serão sujeitos no final do ano. Todavia ele não é
incompetente, é somente chato e desinteressante no seu trabalho escolar. E casa,
sua esposa Anika (Maria Bonnevie) dá-lhe uma resposta evasiva mascarada de
gentileza, quando ele lhe pergunta se se tornou chato. A sua pergunta porém não
é inocente porque ele notou que ela aceitou todos os turnos de trabalho em
horário noturno, em que ele está em casa, possivelmente para não se encontrarem.
Os dois filhos do casal vegetam em frente à televisão e olham-no sem realmente o
verem. Ele tornou-se estranho, ou todos eles tornaram-se estranhos para ele e
isso preocupa-o e tolhe-lhe a possibilidade de se sentir feliz, afogando-se na
sua monotonia.
Durante uma festa de aniversário
com colegas professores na mesma escola, o aniversariante, Nikolaj (Magnus
Millang) sugere a todos a realização de uma experiência para análise da teoria
de Finn Skårderud, um psicólogo norueguês real, que postulou que o organismo
humano tem naturalmente um deficit de
álcool, pelo que todos deveriam promover a si próprios um nível controlado de alcoolemia
como forma de serem mais produtivos e mais felizes. Aqui, o filme apresenta
situações reais de líderes mundiais, tais como; Brejnev, Clinton e outros que
se apresentaram em público no desempenho das suas funções visivelmente
alcoolizados.
A proposta soa a revelação
para Martin e os outros dois amigos; Peter (Lars Ranthe) e Tommy (Thomas Bo
Larsen) sucumbido por um processo de divórcio que aderem á sugestão para testar
a teoria. Nos primeiros tempos os resultados são estimulantes e os ligeiros excessos
verificados servem de gaudio e distração para todos. Martin consegue mesmo
emergir do seu torpor diário tornando-se melhor professor, pai e marido, apresentando
melhor desempenho geral, conseguindo até certo ponto derrubar os escolhos da
sua própria melancolia.
Todavia, os efeitos
perversos desta terapêutica começam a notar-se quando Martin caminha cambaleante
contra as paredes e o stock de
garrafas de Tommy, professor de ginástica, é descoberto no balneário do ginásio
da escola, tornando-se esta história num sério aviso ao consumo excessivo de álcool.
Martin percebe ainda que o entorpecimento pelo álcool não elimina as dores interiores,
nem resolve os problemas familiares que existem.
Depois de várias demonstrações
do efeito nocivo do excesso de álcool, da morte solitária do seu amigo Tommy, Vinterberg
esforça-se por nos apresentar um final inesquecível numa festa de final de
curso com os alunos daquele ano, em que Mikkelsen mostra os seus dotes de
dançarino desde os tempos de juventude em que praticou ballet. Martin move-se
com ligeireza, girando no ar e pulando numa expressão de alegria exultante
projetando o resultado da lição aprendida e concluindo num voo para o rio na
orla de Copenhaga, num dos melhores filmes do ano já nomeados para o Óscar de
2021. Muito interessante a não perder, com estreia prevista em 29 de abril nas
salas portuguesas.
Classificação: 8 numa escala
de 10
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