10 de abril de 2021

Opinião – “Akelarre - O Ritual da Irmandade” de Pablo Agüero


 Sinopse

Em 1609, um grupo de mulheres do País Basco acusadas de bruxaria tenta adiar a sua execução, convidando o inquisidor a testemunhar o seu ritual do Sabbat.

Opinião por Artur Neves

Este novo filme de Pablo Agüero, realizador nascido na Argentino em 1977 e com um curriculum pouco extenso foi adquirido pela Netflix, mas não é mais do que um remake de “Akelarre” de 1984 estreado no festival de Berlim e realizado por Pedro Olea, ambos, financiados pelo governo do País Basco, com a diferença de este apresentar caraterísticas de ter sido contemplado com um orçamento inferior ao primeiro.

Antes de continuar com apreciação do filme em si, julgo importante esclarecer o leitor que Akelarre significa “Sábado das Bruxas“, ou “Sabbat“, em euskera, língua basca e constitui uma reunião de pessoas que alegadamente praticam bruxaria, bem como outros ritos de cariz hermético, distinguindo-se porém o Sabbat numa cerimónia com animais, onde são realizados banquetes e danças que celebram as estações do ano, tais como a época das colheitas ou a lactação dos animais, com pouca relação com reuniões de bruxas malignas para realizar orgias, Missa Negras, lançar encantamentos ou preparar poções secretas para fins específicos.

Os Sabbats são somente celebrações pagãs em homenagem à vida, à natureza e a tudo o que nela existe, onde se canta, dança e se comem alimentos naturais reforçados com alucinogénios, (muito comuns durante o ritual para se atingir o êxtase) com os quais se pretende mostrar agradecimento e veneração á natureza que os produziu, transmitindo aos fiéis uma experiencia espiritual intensa que lhes permitiria sentirem um equilíbrio harmonioso de comunhão e pertença com a natureza que veneravam.

O argumento deste filme é baseado no livro; Tratado de Feitiçaria Basca de Pierre de Lancre, que era jurista na corte do rei Henrique IV de França, e que o escreveu após uma visita ao País Basco, no ano de 1609, apreciando os rituais a que assistiu sob a influência das convenções religiosas impostas pela Inquisição Espanhola que definia como adoração a Satanás todas as manifestações de adoração a uma cabra negra, ou ao porco, tal como genericamente acontecia e como interpretou, nos Sabbats a que assistiu durante a visita.

Embora o argumento e a história que o suporta assentem numa base verdadeira sobre um período histórico em que as mulheres eram condenadas só por existirem o filme em si mesmo parece perdido na dimensão do seu conteúdo, porque Rostegui (Alex Brendemühl) o padre inquisidor, acompanhado pelo seu Consejero (Daniel Fanego) e relator da viagem e dos eventos nela presenciados só se preocupam em queimar as “bruxas” que não são mais do que mulheres normais, das quais sobressai Ana (Amaia Aberasturi) não só pela sua beleza, como principalmente por se ter apercebido da fragilidade das intenções dos inquisidores e da volubilidade das suas convicções, arquitetando um plano para fugir à condenação, seduzindo Rostegui e convencendo-o a assistir a um Sabbat preparado por ela e pelas outras mulheres jovens da vila com intenção expressa de fuga.

Ana e todas as outras jovens do grupo já estão presas e o filme não nos permite conhecê-las mais, para lá de esparsos flashbacks em inocentes brincadeiras no feno ou no convento onde foram presas e retidas agrilhoadas na masmorra. Que elas não eram bruxas já tínhamos concluído, que elas tinham capacidade de organização entre si, que a Inquisição Espanhola era um órgão discricionário e autoritário, também, e para lá disso não existe mais nada que motive o espectador para os 92 minutos de um filme que pretende retratar uma época e uma tradição pagã recheada de cultura.

Sou forçado a concluir que Pablo Agüero não tem mãos para defender este projeto, donde se pode justificar o baixo orçamento com que foi contemplado. Ele pretende criar cenas de suspense com a preparação do Sabbat e do golpe de fuga das raparigas, mas não resultam. A perseguição das jovens em fuga pelos soldados enviados para as capturar é ridícula e não convence, percebe-se a queda cautelosa dos duplos empregados no filme, a perseguição não gera qualquer adrenalina porque os soldados não as perseguem, correm desordenadamente e de tal modo, que nem a câmara os consegue enquadrar.

É pena, porque a história contém uma mensagem importante de resistência à prepotência, obscurantismo e discricionariedade de atitude perante a genuinidade da natureza. Um flop

Disponível na plataforma Netflix

Classificação: 3 numa escala de 10

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