Sinopse
Em 1609, um grupo de
mulheres do País Basco acusadas de bruxaria tenta adiar a sua execução,
convidando o inquisidor a testemunhar o seu ritual do Sabbat.
Opinião
por Artur Neves
Este novo filme de Pablo
Agüero, realizador nascido na Argentino em 1977 e com um curriculum pouco
extenso foi adquirido pela Netflix, mas não é mais do que um remake de
“Akelarre” de 1984 estreado no festival de Berlim e realizado por Pedro Olea,
ambos, financiados pelo governo do País Basco, com a diferença de este
apresentar caraterísticas de ter sido contemplado com um orçamento inferior ao
primeiro.
Antes de continuar com apreciação
do filme em si, julgo importante esclarecer o leitor que Akelarre significa “Sábado
das Bruxas“, ou “Sabbat“, em euskera, língua basca e constitui uma reunião de
pessoas que alegadamente praticam bruxaria, bem como outros ritos de cariz
hermético, distinguindo-se porém o Sabbat numa cerimónia com animais, onde são realizados
banquetes e danças que celebram as estações do ano, tais como a época das
colheitas ou a lactação dos animais, com pouca relação com reuniões de bruxas malignas
para realizar orgias, Missa Negras, lançar encantamentos ou preparar poções
secretas para fins específicos.
Os Sabbats são somente celebrações
pagãs em homenagem à vida, à natureza e a tudo o que nela existe, onde se
canta, dança e se comem alimentos naturais reforçados com alucinogénios, (muito
comuns durante o ritual para se atingir o êxtase) com os quais se pretende
mostrar agradecimento e veneração á natureza que os produziu, transmitindo aos fiéis
uma experiencia espiritual intensa que lhes permitiria sentirem um equilíbrio harmonioso
de comunhão e pertença com a natureza que veneravam.
O argumento deste filme é
baseado no livro; Tratado de Feitiçaria Basca de Pierre de Lancre, que era
jurista na corte do rei Henrique IV de França, e que o escreveu após uma visita
ao País Basco, no ano de 1609, apreciando os rituais a que assistiu sob a influência
das convenções religiosas impostas pela Inquisição Espanhola que definia como
adoração a Satanás todas as manifestações de adoração a uma cabra negra, ou ao
porco, tal como genericamente acontecia e como interpretou, nos Sabbats a que
assistiu durante a visita.
Embora o argumento e a história
que o suporta assentem numa base verdadeira sobre um período histórico em que
as mulheres eram condenadas só por existirem o filme em si mesmo parece perdido
na dimensão do seu conteúdo, porque Rostegui (Alex Brendemühl) o padre inquisidor,
acompanhado pelo seu Consejero (Daniel Fanego) e relator da viagem e dos
eventos nela presenciados só se preocupam em queimar as “bruxas” que não são
mais do que mulheres normais, das quais sobressai Ana (Amaia Aberasturi) não só
pela sua beleza, como principalmente por se ter apercebido da fragilidade das
intenções dos inquisidores e da volubilidade das suas convicções, arquitetando
um plano para fugir à condenação, seduzindo Rostegui e convencendo-o a assistir
a um Sabbat preparado por ela e pelas outras mulheres jovens da vila com intenção
expressa de fuga.
Ana e todas as outras jovens
do grupo já estão presas e o filme não nos permite conhecê-las mais, para lá de
esparsos flashbacks em inocentes brincadeiras
no feno ou no convento onde foram presas e retidas agrilhoadas na masmorra. Que
elas não eram bruxas já tínhamos concluído, que elas tinham capacidade de
organização entre si, que a Inquisição Espanhola era um órgão discricionário e
autoritário, também, e para lá disso não existe mais nada que motive o espectador
para os 92 minutos de um filme que pretende retratar uma época e uma tradição
pagã recheada de cultura.
Sou forçado a concluir que Pablo
Agüero não tem mãos para defender este projeto, donde se pode justificar o
baixo orçamento com que foi contemplado. Ele pretende criar cenas de suspense com
a preparação do Sabbat e do golpe de fuga das raparigas, mas não resultam. A perseguição
das jovens em fuga pelos soldados enviados para as capturar é ridícula e não
convence, percebe-se a queda cautelosa dos duplos empregados no filme, a
perseguição não gera qualquer adrenalina porque os soldados não as perseguem,
correm desordenadamente e de tal modo, que nem a câmara os consegue enquadrar.
É pena, porque a história
contém uma mensagem importante de resistência à prepotência, obscurantismo e
discricionariedade de atitude perante a genuinidade da natureza. Um flop…
Disponível na plataforma
Netflix
Classificação: 3 numa escala
de 10
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