Sinopse
Um adolescente rebelde vai a
Filadélfia passar o verão com o pai afastado e encontra um novo sentido de
família numa comunidade de cowboys afro-americanos.
Opinião
por Artur Neves
A história dos USA veiculada
pelo cinema de Hollywood não nos mostra esta faceta da conquista do oeste
americano pelos negros imigrantes que chegaram ao novo continente nos séculos
XVIII e XIX e que tal como outros povos vinham à procura do sucesso e do
futuro. Como tal é lógico que tenham existido cowboys negros, para lá dos
ingleses e irlandeses louros e de olhos azuis que nos têm sido vendidos nos westerns produzidos pela indústria
americana. Aliás Quentin Tarantino já nos tinha mostrado esta realidade em “Django
Libertado” de 2012, ou posteriormente em “Os Oito Odiados” de 2015, para não
citar outros exemplos.
Onde essa realidade foi mais
acentuada e durou mais tempo foi precisamente em Filadélfia, no estado da Pensilvânia,
onde decorre esta historia passada entre as décadas de 50 – 60, adaptada de um
romance de Greg Neri, inspirado no Fletcher
Street Urban Riding (Club da vida real de Filadelfia) que nos reporta a
vida da comunidade negra ainda ligada aos cavalos e às cavalariças (as “oficinas”
dos cavalos) que resistia aos novos tempos do cavalo mecânico que insistia e
lhe bater á porta, constituindo-os num ghetto
de habitante negros, com alguma permissividade das autoridades locais.
A frugalidade das sinopses
da Netflix não refere que o “adolescente rebelde” é Cole (Caleb McLaughlin)
filho de pais separados ao cuidado de sua mãe Amahle (Liz Priestley) em Detroit,
que fica sem meios de o controlar depois de ele ter sido expulso da escola que
frequentava. Em face dessa situação e não querendo deixar o filho sujeito às más
companhias durante a sua ausência para trabalhar, Amahle viaja até Filadélfia
para o entregar ao pai Harp (Idris Elba) que faz parte de uma comunidade de
cavaleiros que gerem um estábulo em ruínas, com outros saudosos desta atividade
e possuidores destes animais, que lutam contra o progresso e a evolução urbanística
que os quer desalojar dos seus decrépitos e sujos locais de vida.
Harp é uma figura sóbria, de
poucas falas, partilha a sua desarrumada casa com um cavalo, de nome Chuck, que
habita um estábulo improvisado no que deveria ser a sua sala de estar, fornece-nos
informações sobre o caráter de Harp, bem como, para a sua propensão para a
rebeldia e não cumprimento de regras, principalmente se elas foram
estabelecidas por brancos contra quem ele arregimenta adeptos.
É neste ambiente que Cole é
largado, sem se lembrar que nasceu ali e se mudou devido á separação dos seus
pais, todavia, não foi esquecido por Nessie (Lorraine Toussaint) uma vizinha
amiga do seu pai que tenta apoiá-lo à chegada, quando ele se encontra na rua
com dois sacos de lixo na mão onde guarda todos os seu pertences, batendo à
porta de casa do seu pai ausente. Outra pessoa que igualmente não o esqueceu é Smush
(Jharrel Jerome) um amigo de infância que trafica droga por conta, anda de
automóvel à procura de oportunidades de lucro, tem um sonho para sair dali e pode
incluir Cole, se ele quiser colaborar com a atividade do pequeno tráfico a que ele
se dedica.
Com estes ingredientes fica
formado o ambiente para o drama de família e a história de delinquência que com
altos e baixos se transforma na redenção de Cole, na sua transformação de adolescente
recalcitrante em homem válido, através do seu convívio com uma animal selvagem,
recriando a memória distante contada em reuniões junto à fogueira, de curas
conseguidas pelo convívio com cavalos, e na inevitável reconciliação da família
que o gerou.
Trata-se de uma obra de
ficção inspirada remotamente em factos reais, recriando uma instituição
centenária situada ao norte de Filadélfia que não conhecemos de todo, onde se
mantém a tradição de equitação negra, paredes meias com o centro da cidade, e
que sobrevive apesar da pressão de gentrificação exercida sobre ela. Constitui ainda
a estreia de Ricky Staub na direção de uma longa metragem onde se nota a sua
preocupação de identificação de um tema que não lhe é familiar mas que soube
defendê-lo. Todo o trabalho de atores está bem conduzido, tanto com os
profissionais como com os não profissionais, todavia é um tema de esquecimento
rápido por não se incluir no nosso imaginário.
Disponível na plataforma Netflix desde 2 de Abril
Classificação: 5 numa escala
de 10
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