Sinopse
É a vingança que guia a
narrativa de Promising Young Woman. Na pele de Cassandra Thomas, Carey Mulligan
dá vida a uma estudante de medicina que decide colocar uma pausa na sua vida
profissional enquanto despende as noites em bares. É aí que atrai e conhece
diversos homens que, depois, tenta punir pelas tentativas de se envolverem com
uma mulher aparentemente debilitada – ela própria. Uma jovem assombrada por uma
tragédia ocorrida no seu passado.
Opinião
por Artur Neves
Com uma tradução para
português aceitável, este; “Uma Rapariga com Potencial” foi considerado na lista
dos nomeados para os Globos de Ouro, bem como, na recente lista para os prémios
BAFTA (73ª British Academy Film Awards) de cinema, em Inglaterra e recentemente
incluído nas nomeações para os óscares da Academia americana. Com um argumento no
género thriller representa ainda a
estreia auspiciosa da realizadora inglesa Emerald Fennell, também autora do
argumento, que com este filme inicia a sua carreira em longas-metragens, duma
maneira tão prometedora como a protagonista da história que nos mostra este
filme.
Ela, Cassandra Thomas, Cassie
para os amigos, é uma estudante de medicina que perto dos seus 30 anos decidiu
suspender o seu curso de medicina para se dedicar à tarefa justicialista sobre
um evento traumático que a acompanha desde a juventude e a impede de ser feliz.
Ela simula um estado de completa embriaguez nos bares que frequenta, provocando
lascivamente os frequentadores masculinos com espírito predador que ela arrasta
para um motel, ou os acompanha a casa para uma lição de consentimento e de
respeito sobre a real vontade da parceira, que eles nunca mais esquecerão.
Não quero revelar demais
como se processa o castigo, mas na altura da “lição” Cassie assume o espírito
do acidente acontecido com uma amiga da faculdade que ela tratava como irmã e
morreu às mãos de outros colegas; Madison (Alison Brie), e Dean Walker (Connie
Britton) que permaneceram imóveis e mudos perante irrefutáveis provas da violação
a que a amiga foi sujeita. Cassie assume um papel difícil e perigoso que não
lhe permite grande margem de autonomia, mas o desgosto e a raiva presente nas
suas memórias impede-a de recuar na sua cruzada pela razão e pela vingança.
Na manhã seguinte já a vemos
no pleno controlo das suas faculdades caminhando com os seus sapatos de salto
alto na mão enquanto devora com apetite um hambúrguer a caminho do seu trabalho
de ocasião numa cafetaria. Este é um filme de mulheres que lutam contra a violação
por homens sem escrúpulos e pelo respeito a que têm direito como pessoas com
capacidade de decisão e de vontade autónoma.
A história deste filme
explora de forma ousada ideias complexas que se cruzam nos pensamentos humanos
e nas normas legais. Fazer justiça pelas próprias mãos nunca é uma solução
aconselhável, mas por vezes as circunstancias assim nos conduzem a este limite.
O filme mostra-nos o fundamentalmente importante sobre o sexo consentido, ou a
falta da sua aquiescência, e a tolerância das instituições académicas para os
estudantes masculinos e os seus devaneios impulsivos generalizadamente
compreendidos quando apanhados em transgressão.
Carey Mulligan dá o melhor
de si à interpretação de um personagem sofredor que assumiu a responsabilidade
de não deixar o crime de uma pessoa que lhe era tão próxima, impune, ou esquecido
numa investigação interrompida, através de múltiplas tentativas de vingança purificadora.
As suas razões são genuínas e no seu caminho encontra homens em quem excita os
seus piores impulsos para nos mostrar e provar a si própria a justeza dos seus atos
contra todas as ações censuráveis. A obstinação dos propósitos de Cassie é um
conceito exaustivo que por outro lado nos mostra que nem todos os homens que
ela encontra são igualmente merecedores do mesmo tratamento, mas a sua determinação
em atingir os objetivos faz-nos pensar que eles ainda são piores, residindo
aqui a parcialidade desta história que nos agarra ao ecrã, entre drama, comédia
e suspense durante 114 minutos, com
significativo agrado.
Disponível nas plataformas
Netflix e Amazon Prime video
Classificação: 7 numa escala
de 10
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