17 de março de 2021

Opinião – “A Desaparecida” de Peter Facinelli

Sinopse

As férias em família sofrem uma reviravolta assustadora quando um casal descobre que sua filha desapareceu sem deixar vestígios. Não parando de a procurar para conseguir encontrá-la, a sua desesperada busca pela menina leva-os a uma revelação chocante, que os coloca de frente contra uma verdade que não querem aceitar.

Opinião por Artur Neves

Com o nome original de “Hour of Lead” (“Hora de Chumbo” em tradução direta) este filme traz-nos a história do desaparecimento da filha de 9 anos de um casal que parte alegremente de férias na sua RV, uma caravana construída na estrutura de um autocarro, para umas férias num parque situado no Alabama, não muito longe de Tuscaloosa, num aprazível bosque que confina com um rio. O lugar é de facto fantástico e apetecível, mas desde a hora da chegada todas as ações e comportamentos dos personagens geram imediatamente múltiplas perguntas no espectador que eu pergunto se seria necessário começar tão “a matar”, considerando que nas sequências seguintes muitas incongruências nos são apresentadas apenas para “matar” o tempo de visionamento que foi projetado para o filme… mas avancemos…

A história escrita e realizada por Peter Facinelli, nascido em Queens, Nova Iorque, descendente de imigrantes italianos, e sem muito curriculum na arte, empola as referências sobre o desaparecimento do objeto do enredo com o único fim de manter o espectador baralhado, mas focado nos pormenores que possam trazer tensão e ansiedade à história, servindo todavia para camuflar o golpe de misericórdia final num twist imprevisível que corporiza finalmente o grande objetivo do filme.

O casal; Wendy (Anne Heche) e Paul (Thomas Jane), pais de Taylor (interpretado pela gémeas Kk Heim e Sadie Haim) a menina misteriosamente desaparecida, apresentam uma relação estranha entre si e com a diferente maneira com que lidam com a confusão e o trauma gerado pelo desaparecimento de Taylor. Paul tenta apoiar Wendy na sua dor de mãe e embora contra a recomendação do Sheriff Baker (Jason Patric), numa interpretação ressentida e silenciosa para as cenas em evolução, internam-se na floresta, armados, para procurar Taylor, ou o seu presumível raptor, um presidiário que anda a monte já perseguido pelas autoridades.

Na sua busca encontram um campista solitário, a dormir junto a uma fogueira e não fazem a coisa por menos, dão-lhe um tiro na cabeça para ele dormir para sempre. Quando voltam ao parque de caravanas as suspeitas agora recaem sobre os vizinhos do lado, um casal muito suspeito na sua opinião, em que aproveitando a sua saída para se introduzirem na sua caravana na busca de Taylor, obviamente tudo o que encontram lhes avolumam certezas sobre a sua culpabilidade. A consistência das suas conclusões leva-os a uma busca de barco com os vizinhos que apanham a mesma “sorte” do campista, ele, Eric (Kristopher Wente) morre com um tiro e ela, Miranda (Aleksei Archer) por afogamento, sem que daí surja qualquer constrangimento ou punição para os assassinos, ou sequer se fale mais nisso até os corpos serem descobertos

Nesta altura as perguntas que nos afloram à mente já são tantas que quase só estamos ali para ver o desfecho daquelas mortes banalizadas, sem motivos que justifiquem a sua ocorrência, bem como das representações absurdas de pânico, dor e perda dos protagonistas que afogam as suas penas em tanto sangue inocente. Todavia, a coisa não se fica por aqui porque o proprietário do parque, Tom (John D. Hickman) que não lhes dispensou uma receção muito amistosa logo no início (já devia estar a adivinhar o que lhe sucederia) vai ter a mesma sorte, bem como o seu jardineiro, Justin (Alex Haydon) que durante todo o tempo apresenta um ar de comprometimento suspeito e antecipadamente culpado não se sabe bem de quê.

Facinelli não tem limites nas suspeitas lançados sobre todos seguindo as convenções do suspense e os tiques do mestre, na medida em que ele também desempenha um pequeno papel secundário, o Deputy Rakes, mas a milhas de distância do mestre que quer imitar. Para confundir e baralhar o espectador não se coíbe de revelar detalhes sórdidos sobre a natureza humana, inclusive sobre o Sheriff Baker que recupera de um período em que cedeu ao álcool na sua luta contra o sofrimento infligido por uma tragédia pessoal.

Finalmente, quando Facinelli nos apresenta uma razão que no contexto anterior da história é impossível de prever, duas opções se abrem ao espectador; sentir-se despudoradamente manipulado na sua expectativa ao drama típico da criança desaparecida, ou agradavelmente surpreendido e recompensado pelo twist final. Pela minha parte incluo-me no primeiro grupo.

Disponível em streaming na plataforma TVCine Top

Classificação: 4 numa escala de 10

 

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