Sinopse
"Cherry" segue a
jornada selvagem de um jovem desprivilegiado de Ohio que encontra o amor de sua
vida, apenas para arriscar perdê-la por meio de uma série de decisões erradas e
circunstâncias de vida desafiadoras. Inspirado no romance best-seller de mesmo nome,
"Cherry" apresenta Tom Holland no como um personagem desequilibrado
que deixou a faculdade para servir no Iraque como médico do Exército e só é
ancorado por seu único amor verdadeiro, Emily (Ciara Bravo). Quando Cherry
retorna para casa como um herói de guerra, ele luta contra os demônios de PTSD
não diagnosticado e se torna viciado em drogas, cercando-se da companhia de
desajustados depravados. Gastando o seu dinheiro na compra intensiva de drogas,
Cherry se volta para o assalto a bancos para financiar seu vício, quebrando seu
relacionamento com Emily ao longo do caminho.
Opinião
por Artur Neves
A história que está na base
deste filme assenta no romance semiautobiográfico publicado em 2018 de Nico Walter,
veterano do exército dos Estados Unidos, escrito por este quando cumpria uma pena
de prisão por assalto a bancos, tal como o protagonista deste filme realizado
pelos irmãos Russo, que ao vê-lo, ocorre-nos pensarmos se já vimos aquela
história, bem resumida na sinopse, mas melhor concebida e apresentada, como em;
“Nascido para Matar”, de 1987 por Stanley Kubrick, ou “Máquina Zero”, de 2005 por
Sam Mendes.
Uma breve pesquisa no IMDB
revela-nos ainda que os irmãos Russo são os responsáveis pelos mais recentes
filmes de Super Heróis, tais como; “Capitão América: O Soldado do Inverno”, de
2014 ou o mastodôntico e espalhafatoso “Vingadores: Endgame” de 2019, sem andar
mais para traz, onde a Marvel decidiu duma penada acabar com todos os Super Heróis
que tinha porfiadamente construído ao longo de vários anos em vários suportes,
passando pelo papel e pela banda desenhada e culminando no cinema com pessoas
reais, onde se sagraram campeões do cinema populista, que gera chorudos
proventos de bilheteira, arrastando uma extensa corte de espectadores fieis, devotos
de criaturas de ficção com super poderes, que não são mais do que a fictícia compensação
para as fraquezas e frustrações dos seus adeptos.
Terminado o filão (temporariamente!…
porque não acredito que a Marvel aliene a sua galinha dos ovos de ouro) Anthony
e Joe Russo voltam-se agora para o cinema do real, de pessoas com problemas,
traumas de guerra (PTSD – Transtorno de stress pós traumático) e dores de alma
que os hão de levar à destruição de si próprios e de quem os cerca e filmam a
história com todos os traços de epopeia que lhes ficou dos seus anteriores
trabalhos. São as caraterizações ricas em pormenores dos estropiados em combate,
os grandes planos do sofrimento de guerra e posteriormente, da degradação pelo
vício da heroína. São os planos monocromáticos de pânico e solidão das vítimas em
plena trip da droga, completos
farrapos da sua dependência destruidora. É uma profusão de miséria e de
degradação que se espalha pelo zoo de criaturas que os cercam, mas pasme-se,
nós não sentimos que corresponda à reprodução real da degradação que quer
transmitir.
“Cherry” começa pelo amor
fulminante entre ele e Emily que são colegas na faculdade que frequentam em
Cleveland, casam-se e são separados pela guerra do Iraque, onde o filme pretende
denunciar o modo como a América trata os seus jovens, os seus soldados e os
seus veteranos. A sinopse reporta que Cherry é médico, mas o filme informa-nos que
ele é paramédico formado à pressão sobre bonecos insufláveis, ou modelos
rígidos que só remotamente os elucidam para os ferimentos em teatro de guerra. Todavia,
os meios técnicos utilizados na batalha, no Iraque são de relevo com drones que
capturam pormenores recônditos e lentes olho de peixe para tomadas de vista
deformadas e extravagantes que nos apresentam sequências monocromáticas ou a
preto e branco de uma realidade só existente na mente dos personagens.
Tom Holland tem aqui a sua
oportunidade para se despedir e se “despir” do Spider Man que o perseguiu nos
últimos tempos, considerando que já mostrou assinalável qualidade de desempenho
dramático em “Sempre o Diabo” de 2020, já apreciado neste blogue. Agora veste a
pele de um veterano com dificuldade de adaptação ao mundo real no regresso da
guerra do Iraque ao Ohio e nos mostra o falhanço das instituições que falharam
com ele, tal como o exército, o governo com a sua política desastrosa e os
bancos, pela sua cultura de crueldade, somente voltados para o lucro e
indiferentes à epidemia de dependentes de opióides que geraram bem como, todos
os serviços sociais de apoio, que distribuem oxicodona para terapia de
problemas muito mais profundos.
É uma mistura de problemas
muito complexos que nos acompanham por 141 minutos em que ficamos ligados a um
protagonista anti herói que nos mostra as fraquezas e os desencantos da maior
economia mundial e que merece ser visto apesar da sua extensão.
Em exibição na plataforma
Apple TV
Classificação: 6 numa escala
de 10
Sem comentários:
Enviar um comentário