Sinopse
Vicky (Rebecca Hall) e
Cristina (Scarlett Johansson) são amigas e passam as férias de verão na casa de
uma amiga, Judy Nash (Patricia Clarkson) em Barcelona. Vicky está noiva e é
sensata nas questões do amor. Cristina é pura emoção e movida pela paixão.
Durante uma exposição de arte, as duas se encantam pelo pintor Juan Antonio
(Javier Bardem), que as convida mais tarde, durante um jantar, para um fim de
semana de comida, arte e sexo. O que elas não sabiam é que o galante sedutor
mantém um relacionamento problemático com sua ex esposa Maria Elena (Penélope
Cruz). E as coisas ainda ficam piores porque as duas, cada uma de sua forma, se
interessam por ele, dando início a um complicado "quadrado" amoroso.
Opinião
por Artur Neves
Enquanto as estreias mais
sonantes ficam reservadas para melhores dias no futuro, é tempo de revisão de
filmes que nos ficaram na memória e desta feita elegi este, da fase europeia de
Woody Allen, quando Scarlett Johansson era a sua musa preferida. Está algo
distante da sua homenagem a Londres e a esse thriller de eleição; “Match Point”
de 2005, escrito e realizado por ele e passado numa família da alta burguesia
inglesa, todavia em “Vicky Cristina Barcelona” o modo de abordar, com a
necessária ligeireza, a volubilidade do amor e a constância das escolhas
humanas no campo sentimental e afetivo, merece amplamente a sua revisitação
pela permanente atualidade do tema.
A sinopse revela toda a
história, pelo que não vou repeti-la e apenas quero lembrar que para acentuar o
tom ensaístico com que o tema é abordado o filme é narrado por Christopher Evan
Welch e embora não acrescentado nada que não se veja nas cenas apresentadas tem
o condão de nos antecipar a fundamentação do que iremos apreciar deixando-nos
mais atentos para o desenrolar da ação.
O elenco utilizado no filme
é todo de primeira água, Rebecca Hall é quem assume o papel mais difícil de uma
americana com ideias segura e convencionais sobre o que pretende da vida, deixando-se
envolver com reservas, por um Javier Bardem (sem o corte de cabelo à pajem que
utilizou no excelente “Este País não é para Velhos”) no papel de um pintor
espanhol que na noite em que as conhece, as convida sem rodeios para
autenticarem a visita a Espanha num fim de semana em Oviedo sem regras nem
limites. É uma sedução ousada, feita por um sedutor existencial que defende ser
o prazer a compensação adequada para o sofrimento e as dores da vida.
Vicky resiste aos seus avanços,
contrariamente a Cristina, sexualmente aventureira que os aceita, acreditando
que o amor só nos envolve a partir de uma grande paixão inicial e independentemente
do seu desfecho. Scarlett Johansson é uma atriz naturalmente talentosa e possui
uma sensualidade mais exuberante e luminosa do que Marilyn Monroe, porque mais genuína,
menos trabalhada e neste filme ela apresenta um visual que grita “sexo” por
todos os poros.
Finalmente temos Maria Elena
num personagem tresloucado pelo amor enviesado que nutre por Juan Antonio, o
seu marido, ex-marido, amante de todos os momentos numa efervescência furiosa. Assume
o atual caso com Cristina participando numa ménagem
à trois como ativador de uma relação em permanente sobressalto. Penélope
Cruz também apresenta um visual que grita sexo, mas aqui com a diferença de ser
sexo latino, possessivo, ciumento, determinista, com as suas próprias regras e
o seu meio de cativação do outro. Neste filme ela ganhou uma nomeação para o
Oscar de atriz secundária e embora não o tendo ganho, obteve diferentes prémios
do cinema espanhol pela sua exuberante interpretação.
Nesta altura Woody Allen
recompunha na Europa algumas irregularidades da carreira nos Estados Unidos, pelo
que se preocupou em divulgar alguns ícones locais, como Gaudi e Miró, através
da arquitetura e da pintura exposta na galeria de Judy Nash. A música
tradicional de viola solo também não foi esquecida nos jantares de Juan Antonio
e Cristina, mas no tema e na forma como ele se desenvolve reconhecemos a mão de
Allen nas personagens de Vicky e Cristina, como duas mulheres complicadas mas
cada uma do seu jeito. Ambas se sentem perdidas nas escolhas que fazem. Ambas avançam
e recuam por caminhos incertos e o que as distingue é somente o modo como
encaram a vida e o amor, compondo um quarteto de personagens, pelo qual se pode
ensaiar o estudo de relacionamentos amorosos só parcialmente funcionais, o que
nos remete para a questão fundamental de todos os filmes de Woody Allen.
Um filme com 13 anos,
perfeitamente visível, com um tema eterno que recomendo para ver, ou rever,
através de um DVD, ou da plataforma Amazon Prime Video.
Classificação: 7 numa escala
de 10
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