Sinopse
Um homem e uma mulher que
esperam o primeiro filho tentam reavivar a paixão do seu casamento numa viagem
à neve, na qual acabam perseguidos por assassinos impiedosos.
Opinião
por Artur Neves
Nunca me tinha confrontado
com uma sinopse tão seca, mas é o que arranja no site oficial da Netflix. Contrariamente a outras sinopses demasiado
detalhadas, esta parece-me demasiado redutora e simplista, relativamente a um thriller intenso, que cria robustas cenas
de suspense ao longo do desenvolvimento da história, através da omissão de
factos que posteriormente são revelados. Quando nos são apresentados eles
justificam alguns eventos que nos causaram estranheza anteriormente, mas a sua
apresentação somente á posteriori, sem qualquer sugestão anterior para levantar
uma dúvida no espectador sobre quem é quem, ou pelo menos que há uma realidade
que não conhecemos, sabe a “sopa depois do jantar” e compromete a qualidade
global do filme porque parece uma solução arranjada.
David (Anastasios Soulis) e
Nadja (Nanna Blondell) são um casal sueco, jovem, que já revela alguns momentos
de tensão no seu relacionamento. David é engenheiro civil e está bem empregado,
Nadja é estudante de medicina, usufruem de uma vida estável mas algumas
acusações mútuas surgem no casal quando Nadja descobre que está grávida e que
esse facto vai comprometer a continuação dos seus estudos pelo menos, no tempo
imediato.
Para tentar compor o
ambiente em casa David surpreende a sua esposa com um fim de semana romântico
no norte da Suécia, onde eles se propõem viver ao ar livre, numa tenda, para esquiar
e dormir sob o manto da aurora boreal num contacto íntimo com a natureza.
Os preparativos para a
viagem decorrem normalmente mas a viagem começa a parecer estranha logo na
primeira paragem para abastecimento do carro, com uma troca de palavras pouco
comum com dois caçadores (mais tarde veremos que não eram caçadores) que
seguiam na mesma direção do norte. O casal, acompanhado pelo seu cachorro
Boris, tentam desvalorizar o incidente, mas não deixa de ser o início de alguns
eventos sombrios, com Nadja a riscar deliberadamente o carro de um dos
caçadores, numa atitude que nesta altura nos parece inusitada e mais estranha
ainda se comparada com o que saberemos no fim da história.
No lugar em que eles resolvem
acampar, quando na noite se preparam para a fruição da natureza branca e fria
que os cerca, aparece na transparência da sua tenda a mira laser de uma espingarda
de longo alcance (“Red Dot” o Ponto Vermelho) que sem um objetivo específico,
embora perturbador, se passeia pelos seus corpos e pelos diferentes objetos
contidos no interior da tenda. Eles saem, procurando o agressor e quando
regressam no dia seguinte encontram a tenda vazia porque tinham sido roubados
de todos os seus pertences e substituídos por um presente macabro.
É aqui que reside o
problema, as atitudes são estranhas, os comportamentos do casal, bem como, com
quem eles interagem não parecem adequados em algumas cenas, mas não se
vislumbra qualquer motivo, nem sequer indícios, ainda que falsos, nos são
apresentados sendo quase induzidos a pensar que se trata de um terror gore
justificado por maldade deliberada. Finalmente quando conhecermos as razões e a
verdade é revelada já estamos voltados para outro lado e o filme é já quase uma
memória, porém é aí que tudo faz sentido.
Assim sendo o que temos aqui
é um filme tenso, totalmente sombrio e sem humor ou algo que nos descontraia, o
que não significa ser um filme mau, note-se. David e Nadja envolvem-se numa
batalha pela sobrevivência num meio que lhes é hostil e impiedoso, refletindo
os seus conflitos internos dos quais se querem libertar sem todavia conseguirem,
atolando-se cada vez mais numa vertigem maléfica que os destrói pelas suas próprias
mãos. Só se lamenta é que o espectador fique todo o tempo a “navegar na maionese”,
porque a história até é interessante.
Classificação: 6 numa escala
de 10
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